Quando o roteirista Stan Lee e o desenhista Steve Ditko criaram a personagem de um jovem americano com poderes aracnídeos, não titubearam em escolher o cenário perfeito para as peripécias do seu novo herói. A cidade global Nova Iorque e seus arranha-céus, principalmente, os da ilha de Manhattan, permanecem como ambientação ideal para as teias, os saltos e as aventuras de Peter Parker.
Isso não é coincidência. Com a intenção de demonstrar a modernização e a pujança econômica da sua sociedade, nossos conterrâneos da América orgulham-se tanto do Empire State Building quanto, da mesma forma, admiravam o World Trade Center. Não por acaso, foi exatamente para as torres gêmeas que os terroristas se lançaram no conhecido 11 de setembro de 2001. Depois da destruição histórica, econômica e simbólica, construíram o One World Trade Center com mais de 500 metros de altura.
O modelo urbanístico e construtivo do Tio Sam espalhou-se por cidades na China, em Singapura, nos Emirados Árabes e até por algumas cidades tupiniquins. Acho que todos esperam um dia desses receber o herói das teias.
Brincadeiras e cinema à parte, o mercado imobiliário de Fortaleza e seus consumidores tem se movido na direção dos prédios gigantes. Saiu nos jornais que hotéis à beira-mar foram adquiridos e serão demolidos. No lugar, os incorporadores imobiliários construirão torres de quarenta andares, com apartamentos de até 900 metros quadrados.
Lembremos que já existem projetos como estes em construção, outros em estágio de lançamento e comercialização de unidades. Como nossa orla marítima é o espaço residencial mais requisitado/valorizado da cidade, os referidos projetos se concentram por aí. Os atuais prédios de até 22 andares não mais dão conta do gosto extravagante dos milionários locais e regionais. A concorrência pela vista do mar já os cansou, é preciso outros símbolos de ostentação.
Em termos imobiliários, turísticos e construtivos, Fortaleza tende a imitar o caso mais emblemático do Brasil, o de Balneário Camboriú, em Santa Catarina? Há quem ache bonito e estiloso. Todavia, não esqueçam da imagem também simbólica da zona de praia sombreada pelas enormes torres alinhadas à costa. Os proprietários dos apartamentos conseguiram uma nova vista, mas tomaram o sol dos que ficam lá embaixo nas areias.
As torres e seus imensos apartamentos (um por andar) não contribuem para o adensamento habitacional na cidade. Exatamente o inverso, poucas famílias manterão o monopólio em áreas dotadas de infraestrutura de qualidade, que por sinal, é coisa rara para os demais espaços urbanos na cidade.
Tampouco estes prédios irão redefinir a economia da capital, mais ainda se substituem estruturas como hotéis, clássicos geradores de empregos. Há de saber, com o avançar dos atuais e novos projetos, os impactos na circulação dos ventos pela cidade. Na paisagem os prejuízos são claros, pois serão formados ícones ao mau gosto e ao exibicionismo.
Como nos parece que a tendência é esta e a municipalidade está de acordo, fica a esperança de um dia, quem sabe, ver o Spider-man balançando-se para lá e para cá em um desses monstrengos de concreto e vidro.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.