O Instituto de Planejamento de Fortaleza (IPLANFOR), em parceria com o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), organiza neste mês um importante ciclo de debates chamado Outubro Urbano. O evento consiste na reunião de especialistas com o objetivo de discutir a condição de vida e a estrutura das cidades brasileiras, em especial, as cearenses.
Os debates urbanos, para este ano, selecionaram como tema central a urbanização e as mudanças climáticas. Momento e temática convenientes, haja vista a realização do evento mundial que se avizinha; falo da Conferência das Partes (COP26), recebida pela cidade de Glasgow, na Escócia, entre 1 e 12 de novembro.
Convidado a participar das discussões, contribuí junto a mesa redonda Planejamento Metropolitano e Crise Climática. Na oportunidade, particularizei a exposição e me detive a argumentar sobre o processo de metropolização em Fortaleza, que adjetivei de precário, e os riscos socioambientais a serem ampliados com possíveis eventos extremos climáticos.
Na minha concepção, não há dúvidas que as formas de produzir mercadorias e energia carecem de redefinição tecnológica, sobremaneira, constituindo estruturas menos dependentes dos combustíveis fósseis e mais próximos aos padrões renováveis.
Na mesma linha de pensar, torna-se imprescindível alterações na legislação a fim de estabelecer limites na geração de gases do efeito estufa e a criação de fundos para financiamento de práticas de conservação e proteção de áreas naturais estratégicas.
Além da tecnologia, a dimensão cultural é aspecto decisivo. Sem modificações na forma de consumir os recursos naturais, os milhões de habitantes das metrópoles elevam os impactos na estrutura ecológica regional e na dinâmica climática local e mundial. Ou seja, sem alterações no modo de vida urbano-metropolitano a pressão sobre o meio natural permanece avassaladora.
Além de tudo isso, há o que acrescentar à lista de objetivos. Metrópoles desiguais e precárias como Fortaleza enfrentam maiores dificuldades em implementar uma agenda de resiliência. Em metrópoles como a nossa, existem entraves socioeconômicos persistentes que tendem a minar as tentativas de construir medidas de adaptação às mudanças climáticas!
O Índice de Bem Estar Urbano (IBEU), projetado pelos pesquisadores do Observatório das Metrópoles, prova as precariedades na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). O estudo indica claramente as carências no atendimento domiciliar de serviços coletivos urbanos e na infraestrutura, principalmente, nos demais municípios a formar a RMF.
De acordo com dados estimados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no Ceará, 9,2% das população vive em favelas. Este dado salta para 23,6% se consideramos somente a cidade de Fortaleza.
Pensem comigo: diante de eventos extremos como chuvas torrenciais ou longos períodos de estiagem, como sobreviverão as famílias residentes em barracos nas margens de nossos rios, em encostas ou sobre as dunas? Seja pelas inundações ou por insegurança hídrica, estas famílias vão se deparar com desafios ainda maiores, ou melhor, intransponíveis à suas próprias capacidades de viver na cidade.
Se, por um lado, é correto o esforço para mudar tecnologias e comportamentos sociais, por outro, é difícil crer na eficiência desta conduta sem o enfrentamento às desigualdades sócio-espaciais metropolitanas.
Trocando em miúdos, não se efetiva agenda ambiental-climática sem outro forte pré-requisito, a ampliação do bem estar urbano para os milhões de cidadãos. Só com esses cuidados sociais, as metrópoles diminuirão as áreas de fragilidade socioambiental e farão sua parte no cuidado que o planeta carece.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.