Existem dois tipos de alimentos: o material e o afetivo. O alimento material que mastigamos para triturá-lo, e o estômago é o órgão que o recebe, através do esôfago, o que veio da boca. Sua função primeira é dissolver os alimentos materiais ingeridos com ajuda dos ácidos gástricos para possibilitar a assimilação dos alimentos pelo intestino delgado. Quando ingerimos algum alimento estragado ou não saudável, logo o cérebro entra em ação aumentando a produção de ácidos para ajudar na digestão e passamos a ter azia, que se não debelada, pode evoluir para uma gastrite e até mesmo câncer.
O alimento afetivo imaterial é o elogio, a expressão de afeto, as palavras carinhosas, de estímulo e reconhecimento. Um bom exemplo para compreendermos é o que acontece na amamentação. A mãe dá para seu bebê o leite material com proteínas, aminoácidos e sais minerais que são nutrientes indispensáveis para o crescimento físico do futuro adulto. Mas quando ela amamenta em seus braços num ambiente acolhedor e tranquilo, esse alimento material é enriquecido quando tem afeto, proteção, amor, carinho, segurança, ingredientes de suma importância para o desenvolvimento psicológico da criança.
Quando a relação entre a mãe e seu bebê é estressante por conta do ambiente familiar tóxico, excesso de atividades, gravidez indesejável, conflitos, o alimento afetivo recebido com o alimento material, o leite, pode desencadear distúrbios gástrico-intestinais, alergias e rejeição ao leite materno.
A psicossomática nos lembra que todo sintoma não é apenas a expressão de uma disfunção orgânica, pode ser também expressão de uma disfunção relacional.
Articular essas duas leituras de forma complementar é salutar para todas as pessoas que valorizam a vida humana. A gastrite nos fala, portanto, de dois tipos de alimentos, o material e o imaterial. Essa dupla perspectiva da gastrite nos convida a ir além da explicação material, mecânica, bioquímica, com a ajuda de remédios alopáticos, para extrair mensagens inconscientes que são verdadeiras bússolas no caminhar humano.
Decodificar essa mensagem possibilita ao homem ressignificar, reorientar seu comportamento, sua vida. Negar este sinal de alerta é privar o ser humano de transformar a doença, a gastrite numa oportunidade para rever seus valores, repensar seus relacionamentos e sua postura no mundo. Graças às neurociências, sabemos que nosso cérebro não distingue o alimento material do alimento afetivo. Eles são indissociáveis.
Quando um dos dois não é saudável, a resposta biológica é a mesma: aumenta a produção de ácidos. Daí porque, em situações de grande vazio produzido por alguma perda afetiva, muitas pessoas sentem necessidade de preencher esse vazio com alimentos e comem compulsivamente sem jamais saciar materialmente uma fome de afeto. Não podemos esquecer que quando ingerimos o alimento material, ingerimos também o “alimento imaterial”, ou seja, o clima, o entorno familiar, o ambiente afetivo onde vivemos.
O que faz uma digestão ser saudável é se ela ocorreu num ambiente com amor, carinho, afeto e bem-querer. Não é por acaso que existem propagandas de alimentos, onde o segredo de seu sabor é o amor.
Simbolicamente, os problemas digestivos falam da dificuldade de engolirmos, digerirmos, assimilarmos, tudo aquilo que ocorre em nossos relacionamentos. Um alimento para ser saudável não basta seguir os padrões higiênicos alimentares, e sim o “ambiente afetivo” onde se vive, onde ele foi produzido e ingerido. Nos alimentar em um contexto conflitivo é bem comum termos indigestões gástricas. Tudo aquilo que não compreendemos e não digerimos em nossa mente, manifesta-se no estômago sob as mais diversas formas de mal-estar.
O estômago é por excelência o órgão mais relacional de nosso corpo. É a sede que aloja memórias de mágoas e ressentimentos. Daí a expressão, “Fulano tem muito estômago para aguentar o que está aguentando...”; “Não consigo digerir o que ouvi de fulano...”; “Continua atravessado em minha garganta o que ele fez comigo...”; “Não consigo engolir o que ouvi...” : “Continuo entalado com o que ouvi de fulano”; “Ainda não digeri aquilo que fizeram comigo”; “Aquela conversa me causou indigestão”; “Tive náuseas, quando ouvi fulano falar”… são expressões que mostram a conexão direta do aparelho digestivo com o cérebro.
O cérebro (consciência) consome e digere as impressões, os alimentos imateriais do mundo, o aparelho digestivo consome e digere as impressões materiais. Os problemas mais frequentes do aparelho digestivo são: gastrite, azia, úlceras e câncer que falam da nossa dificuldade de digerir tudo que vivemos, sentimos e que torna nossa vida indigesta. Do ponto de vista simbólico, eles nos sinalizam a indigestão psicológica que nos acomete sempre que não vivemos nossas emoções com equilíbrio.
Eles também nos falam de nossa necessidade de amor, principalmente quando vivemos um conflito secreto entre nossos desejos e necessidades em nosso contexto familiar ou no trabalho. A hiperacidez gástrica ou azia alerta-nos sobre os perigos das ruminações mentais excessivas, em torno de vivências e relacionamentos indigestos. A gastrite nos convida a refletir sobre a raiva que estamos guardando em silêncio, pelo alimento afetivo recebido. A Gastrite simboliza raivas guardadas por não aceitarmos o que está acontecendo conosco em nossos relacionamentos.
Nossa insegurança é tamanha que vivemos sempre com a sensação de perigo iminente. A gastrite nos fala de coisas que nos irritam, que nos queimam por dentro e nos deixam irritados, com raiva. Essa acumulação de coisas velhas nos irrita, azeda a vida e acidifica nossa existência. As pessoas com problemas digestivos têm uma grande sensibilidade ao estresse social, à intolerância e frustração. Essa intolerância e frustração manifesta-se por meio de cãibras, queimações e espasmos estomacais.
Para essas pessoas, os fracassos repetidos atingem o estômago que conjuntamente ao duodeno representam nossas relações com o outro, na família e na vida profissional. No tratamento da gastrite, quase sempre, os médicos prescrevem remédios para reduzir a produção de ácidos e nos prescrevem uma dieta alimentar restritiva. Mas é também necessário que o portador de gastrite reveja seus alimentos afetivos e faça algumas restrições relacionais evitando pessoas e ambientes tóxicos.
A Gastrite, para ser curada, precisa ser vista numa dupla perspectiva: a biológica, material, objetiva, detectável, onde se busca explicá-la analisando os processos bioquímicos e mecânicos do organismo. A simbólica, invisível, subjetiva onde vai se procurar decodificar a comunicação inconsciente veiculada por ela.