O Brasil está enlutado. Em agosto tivemos a morte de 62 pessoas, em um acidente de avião em São Paulo, e a morte de Silvio Santos. Precisamos fazer do luto um momento de reflexão sobre o valor de nossa vida. Nascer não é somente chegar neste mundo. Durante o intervalo entre o nascimento e a morte, tenho a oportunidade de me conhecer, gerar vidas, buscar a felicidade, me transformar e transformar o mundo em que vivo. Esse é o nosso propósito de vida.
É graças à educação recebida e ao trabalho que conseguimos realizar essa dupla metamorfose. Ao nascer, recebemos uma herança deixada pelos nossos ancestrais. Algumas materiais, como apartamentos, terrenos e outras imateriais, como os valores que fazem uma existência ser digna e honrada. Este legado pode nos ajudar ou nos atrapalhar em nossa trajetória de vida.
Atrapalha quando nos concentramos apenas nos bens materiais, nos apossamos deles e só consumimos os bens que recebemos. O dito popular diz: "Pais ricos, filhos nobres e netos pobres". Ou, ainda, quando a herança material causa desunião, sofrimento e se transforma em conflitos que atravessam gerações. Nos ajuda, quando usufruímos, multiplicamos, dividimos e compartilhamos com aqueles que não tiveram o privilégio de ser portadores desta herança mais valiosa.
A conhecida parábola dos talentos, contada por Jesus, mostra a relevância do que vamos fazer com o que recebemos e do que será cobrado no final. A morte pode ser manifestada de diversas maneiras. Muitos morrem de forma física, mas permanecem vivos para sempre em nossos corações e mentes. O corpo físico do “influencer dos influencers” da comunicação, Silvio Santos e do Dr. Edson Queiroz, o grande empreendedor cearense que criou o Sistema Verdes Mares de Comunicação, já não existem mais. Mas eles continuam vivos não somente materialmente através de suas empresas, mas também socialmente reconhecidos pela energia e o amor dedicado às suas obras.
Neste sentido, a morte não existe, ela é apenas uma ausência física. Jesus Cristo, que viveu há mais de dois mil anos, continua vivo em nossos corações e mentes. Muitos nascem, mas não viveram uma vida de realizações, não conheceram o amor e não foram acolhidos como merecem. Outros foram abortados antes de nascer ou tiveram seus projetos de vida interrompidos, abortados.
Existem diversos tipos de morte:
- A morte biológica, que ocorre quando o coração cessa de bater e o cérebro para de funcionar.
- A morte familiar é quando sou invisível para minha família, ela me ignora ou me trata como se eu não existisse ou quando minha família se tornou um ambiente tóxico.
- A morte profissional, ocorre quando não posso mais exercer minha atividade profissional, de onde tiro o sustento da minha família, ou não sou mais reconhecido pelo meu esforço.
- A morte psíquica, surge quando nos ausentamos de uma realidade insuportável e criamos um mundo irreal, imaginário, a loucura, onde nos refugiamos.
- A morte espiritual, é quando deixo de acreditar em mim mesmo, nos outros, no meu futuro e em Deus, quando perco a esperança e deixo de acreditar em meu potencial.
- A morte relacional, ocorre quando me isolo do convívio familiar e social em contextos de violência, intrigas e maus tratos.
- A morte social, quando me sinto excluído da sociedade e me sinto tratado como uma alma penada. São aqueles que não são visíveis em nossa sociedade.
Quando nos decepcionamos ou enfrentamos obstáculos, percebemos que tudo o que ocorre de ruim é para melhorar a vida da pessoa. É quando descubro um poder e uma força que não conhecia. Quando perco alguém importante para mim, descubro também que tem algo que não morreu, não desapareceu. Ao relembrarmos momentos felizes ao lado de outra pessoa, nos motivamos a prosseguir com a nossa vida.
A gratidão é muito importante. Sendo grato pelos princípios, como a honestidade, a responsabilidade, a bondade, a alegria, a generosidade, dentre outros, que permanecem vivos. É bom saber que fomos felizes por ter o pai ou mãe que tivemos ou um líder que nos inspira, mesmo que seja difícil perde-los fisicamente. Isso me permite enfrentar perdas significativas sem me sentir desamparado ou vulnerável.
Esses instantes são os únicos que podem dar força à existência. A morte está a nossa frente. É necessário tornar o luto um momento benéfico. O ditado popular nos diz que a única certeza que podemos ter na vida é a morte. Sêneca escreveu sobre isso nos seus escritos. “Viva como quem sabe que vai morrer um dia, e morra como quem soube viver direito.”
A morte nos ensina a transitoriedade de todas as coisas. Não podemos nos esquecer de que, durante o período entre o nascimento e a morte, precisamos desfrutar deste presente passageiro chamado vida. São Francisco, devido à sua profunda compreensão do valor da vida e por sua intimidade com Deus, não teve medo da morte e a chamava de irmã morte. Ele transformou sua morte em uma celebração.
Escolheu o lugar de sua passagem, planejou o ritual como algo natural do ciclo de vida e teve a satisfação de morrer em paz. A questão crucial para a nossa reflexão é: qual será o legado imaterial que vou deixar aos meus descendentes? Eu consegui satisfazer os desejos que meus avós não alcançaram? Ou nunca pensei que o que recebi não era apenas para uso pessoal, mas também para perpetuar nas gerações futuras?
A perda de alguém que amamos e admiramos, muitas vezes, nos faz perceber que estamos paralisados, que não estamos tendo uma vida de realizações plenas e que ainda há muito a ser feito e a ser vivido. A palavra "felicidade" tem sua origem no latim Félix que significa "fértil". A felicidade, a alegria, é um estado de espírito fértil, criativo, dinâmico e empreendedor, movido pelo amor pelo bem-estar das pessoas, da natureza e do planeta. Como diz Clarice Lispector: “Se você se sente infeliz agora, tome alguma providência agora, pois só na sequência dos agoras é que você existe.”
Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.