Cabanas, ocas, iglus

Com muita pena vendi a minha casa na praia, mas vou construir outra. Espero que ainda mais bonita. Vai ser bem menor, num mundo mais selvagem. Estamos estudando tipos de casas, e a sustentável parece ser o melhor caminho. Quem vai construir uma casa, hoje, precisa se lembrar dos dados alarmantes sobre a destruição do meio ambiente. As nossas casas precisam ser ecológicas e independentes. Mas, como fazê-la?

Podemos aprender com os antigos sertanejos que construíam suas lindíssimas casas de taipa dotadas de harmonia e austeridade. Pau a pique, de sopapo, de pilão, ou taipa de sebe, construídas com as próprias mãos. Às vezes apenas uma porta e uma janela, mas sempre nobres. Essas casas nasciam da terra, eram feitas de barro, as madeiras tiradas dali mesmo, como troncos de carnaúba, paus de angico, estacas de marmelo, e o telhado ou feito com telhas de barro ou palhas naturais. As ocas de nossos indígenas também são aprendizagens ecológicas, assim como os iglus que os esquimós constroem.

A estrutura das ocas é feita de galhos e troncos tirados da mata ao redor, e a cobertura feita com folhas de palmeiras da região. Bastam uns dez dias para serem construídas coletivamente, e duram por mais de dez anos. Portas opostas proporcionam a circulação do vento. Algumas chegam a quarenta metros de largura, para moradia de famílias. São casas altas, harmoniosas, e limpas, mesmo com o piso de terra batida; guardam poucos objetos, como redes de dormir, bancos, armas, panelas, cestos, esteiras.

Os iglus são incríveis! Os esquimós recortam do chão blocos de gelo endurecido pelo vento das noites anteriores, vão dispondo-os numa espiral ascendente até formarem uma cúpula encimada pelo último bloco que sustenta toda a construção. Sua forma arredondada faz com que a neve escorregue para os lados, assim nunca há excesso de peso, nem desabamento. Com as tempestades de neve e as geadas, os iglus vão se tornando cada vez mais resistentes. Ali podem viver, dependendo do tamanho do iglu, até umas vinte pessoas.

O frio, fora, sabemos como é, mas dentro fica bem quentinho só com o calor dos corpos de moradores. Os grandes iglus têm até quartos de dormir, mas também se constroem pequenos iglus ligados por túneis, que formam aldeias de gelo. Os iglus são rápidos de construir e podem durar a vida toda. Também as nossas antigas casas coloniais podem nos ensinar sobre a construção saudável, elas eram ecológicas, pois não havia tecnologia nem facilidade de transporte. Tudo se buscava na natureza.

Todas as casas deveriam ser assim. Conforto ambiental, uso inteligente dos recursos naturais, basta isso, e teremos uma casa mais agradável, naturalmente fresca. A água da chuva para nós, no Ceará, é preciosa, e as águas usadas nas pias e nos banhos podem ser reaproveitadas. A energia pode ser limpa, tirada do que mais temos: sol e vento. Janelas, treliças e portas podem ser desenhadas para o vento refrescar e limpar o ambiente. Tinta, cimento, canos, tudo pode ser de melhor qualidade ecológica. Madeiras certificadas. Neste mundo em que vivemos, quando tudo parece estar por um fio, uma casa independente e ecológica não é mais uma questão de consciência, mas de sobrevivência.