Um elefante na loja de cristais

O professor, especialmente em tempos eleitoreiros, assemelha-se a um artista em um palco escuro. Apresentando-se em um teatro político absurdamente impermeável, sua performance é pouco reconhecida. Apesar de carregar a experiência de muitos espetáculos e obstáculos, os aplausos são escassos, e sua dramatização, que começa na bilheteria, frequentemente não é valorizada. Todavia, como acreditam alguns politiqueiros, nós, professores, somos criaturas movidas apenas por um turbilhão de emoções e dedicamo-nos exclusivamente ao nobre propósito de educar. Assim, evidentemente, não temos a capacidade de ser "intérpretes críticos". Por isso, proponho que sejamos vaidosos! Como disse Vergílio Ferreira: "A vaidade do artista é uma defesa contra aqueles que o negam." Uma vaidade que é inimiga do egoísmo e fundamentada na empatia, como defendeu Paul Valéry.
 
Aparentemente, nas equações dos movimentos políticos, todas as fórmulas utilizadas potencializam somente as inalterabilidades. Com isso, a esperança do voto depositado na urna tornou-se insignificante; afinal, estamos contabilizando apenas números e alternâncias entre os numelários do poder. Qual proposta de governo dessas eleições municipais foi realmente capaz de apresentar um plano de governo que reconheça e valorize o papel dos educadores? Infelizmente, neste país, o professor é praticamente uma obra-prima na arte de ser ignorado! Mal pago, sobrecarregado de tarefas, e, para piorar, sua representatividade política, além de ínfima, é tão bem-vinda quanto um elefante em uma loja de cristais.
 
Isso é tão real que, segundo divulgado pela Agência Brasil, “oito em cada dez professores da educação básica já consideraram abandonar a carreira.” Os principais motivos citados foram o baixo retorno financeiro, a falta de reconhecimento profissional, a carga horária excessiva e o desinteresse dos alunos. Paralelamente, outro estudo realizado pelo Ipec, reuniu 6.775 professores da rede pública municipal e estadual. Essa pesquisa apontou que 92% desses docentes gostariam de participar mais ativamente na formulação de políticas e programas educacionais em suas redes de ensino.
 
Davi Marreiro é consultor pedagógico