Diário do Nordeste

O preço da sua íris: vale a pena vender seus dados biométricos?

A grande questão é: os participantes realmente entendem o que está sendo feito com suas informações?

Escrito por
Daniel Monteiro producaodiario@svm.com.br
Especialista em cibersegurança

Nos últimos meses, um fenômeno preocupante vem chamando a atenção: pessoas ao redor do mundo, incluindo no Brasil, têm vendido o escaneamento de suas íris em troca de criptomoedas. O projeto Worldcoin, idealizado pelo CEO da OpenAI, Sam Altman, promete criar um sistema de identificação digital único e global para diferenciar humanos de robôs cada vez mais sofisticados. No entanto, a proposta levanta questões cruciais sobre privacidade, segurança e a vulnerabilidade dos participantes.

Em São Paulo, por exemplo, diversos cidadãos participaram do programa sem ter plena consciência das implicações dessa troca. O pagamento, feito em criptomoedas e equivalente a cerca de R$ 600, parece um incentivo atraente para muitos que enfrentam dificuldades financeiras. No entanto, o que está em jogo é muito maior do que o valor recebido. Diferente de uma senha que pode ser alterada, os dados biométricos são permanentes. Isso significa que uma vez comprometidos, não há como revertê-los.

A grande questão é: os participantes realmente entendem o que está sendo feito com suas informações? A transparência do projeto Worldcoin tem sido alvo de críticas, e há um receio legítimo sobre como esses dados serão armazenados, utilizados e protegidos no longo prazo. Quem garante que essas informações não serão exploradas por terceiros ou utilizadas para outros fins no futuro?

O uso de biometria para autenticação já é uma realidade em muitas áreas, desde desbloqueio de celulares até acessos bancários. No entanto, o que diferencia o escaneamento da íris para a Worldcoin é a criação de um banco de dados global sem regulamentação clara. Em um mundo cada vez mais digital, onde os riscos de vazamento de informações são constantes, entregar esse tipo de dado sem garantias pode trazer consequências severas.

Ao mesmo tempo em que a inovação avança e novas tecnologias surgem, é fundamental que as discussões sobre ética, segurança e privacidade acompanhem esse progresso. Cabe a cada um refletir sobre o real valor de seus dados e questionar se o preço pago por eles é justo diante dos riscos envolvidos. Afinal, no mundo digital, aquilo que parece gratuito ou altamente lucrativo pode ter um custo que só será percebido no futuro.