O tempo vai passando e cada vez me convenço mais de que muitos seres humanos estão perdendo a capacidade de se respeitarem, de conviverem uns com os outros numa mínima condição de cortesia e de dignidade. De paz, essencialmente. Os telejornais nos dão, todos os dias, exemplos de como certos indivíduos andam por aí, muitas vezes ao nosso lado, causando-nos preocupação e insegurança constantes. Recentemente tivemos um lutador de artes marciais que, num surto, atacou diversas pessoas, inclusive um idoso de 91 anos, de quem, sem motivo algum, tirou a vida, em Fortaleza.
Na capital paulista, um passageiro matou um motorista de ônibus a bala, simplesmente porque o condutor recusou-se a estacionar o veículo fora da parada normal, como queria o assassino. Numa rua do bairro Varjota, novamente em Fortaleza, um homem que por ali circulava, ao ver um inocente gato doméstico deitado no meio da via, retornou pelo mesmo caminho que fazia, recolheu uma pedra e simplesmente lançou-a na direção do animal, covardemente. Este correu espavorido e, certamente, ferido. Voltando a São Paulo, um deficiente visual que passeava com seu cão-guia à noite é agredido por um indivíduo que lhe dá um soco sem razão alguma, apenas pelo desejo íntimo de praticar o mal contra sua indefesa vítima. Essa insensibilidade que se multiplica nos corações de tanta gente, essa selvageria que ultrapassa toda e qualquer compreensão, que nunca poderemos absorver e entender como normal, tem sido a tônica, infelizmente, nos dias que correm. E tudo isto, sem falarmos ainda na violência praticada por membros de facções criminosas contra os que não pertencem a seu grupo, nos casos de assédio sexual e moral, de homofobia, de violência contra a mulher, de… O espaço não caberia todas as demais situações.
O que se vê tristemente é o abandono da racionalidade, a intensificação de comportamentos absolutamente condenáveis. O declínio dos sentimentos, enfim, por parte de tantas pessoas! Que mundo vivemos, não? E as preocupações se ampliam com a falta de respeito a instituições sobre as quais se fundamenta o tecido social. A família e as religiões, em especial. Nas redes sociais são comuns vídeos onde certas pessoas procuram deturpar o significado profundo do arcabouço familiar na formação dos jovens. Questiona-se até mesmo a figura de Jesus Cristo, numa época em que, mais do que nunca, precisamos, sim, rezar muito, por um mundo que tanto se afasta da prática do bem, da paz, da amizade, do amor, de tantos sentimentos positivos.
O mais lamentável é a constatação de que muitos enveredam por essas sendas do mal. Creem piamente nas mensagens falsas e negativas que estas propagam e entregam-se à prática de atitudes perversas, da desonestidade, de tudo o que contraria o desejo de uma sociedade ávida por dias melhores. Mais do que nunca, a luta pela difusão do bem, confrontando o mal pela prática dos bons valores e a difusão de exemplos positivos, é tarefa de cada um de nós. A realidade é difícil, mas, com resiliência, fé e perseverança, podemos transformá-la.
Gilson Barbosa é jornalista