O calendário registrou, no dia 11 de julho próximo passado, o centenário de nascimento do físico brasileiro Cesare Mansueto Giulio Lattes, ou, simplesmente, César Lattes (1924-2005). Nascido em Curitiba (PR), ele foi codescobridor do méson pi ou píon, uma das três partículas subatômicas, numa pesquisa liderada pelo físico britânico Cecil Frank Powell (1903-1969). O conceito dos mésons como partículas portadoras de força nuclear foi proposto, pela primeira vez, em 1935, pelo físico teórico japonês Hideki Yukawa (1907-1981), laureado com o Prêmio Nobel de Física em 1949, exatamente pela formulação daquela hipótese.
Em 1947, os primeiros mésons verdadeiros (ou píons carregados) foram encontrados por uma equipe da Universidade de Bristol, no Reino Unido. Desta participavam Lattes, Powell e o italiano Giuseppe Occhialini (1907-1993). Powell receberia, pelo fato de liderar a pesquisa, o Prêmio Nobel de Física de 1950. A contribuição de César Lattes, particularmente, foi fundamental no processo de detecção dos píons, usados na radioterapia médica, como no combate ao câncer. O físico brasileiro aprimorou as técnicas de emulsão nuclear em placas fotográficas. Naquela época, estas apresentavam problemas que dificultavam seu aproveitamento como método experimental para identificar e caracterizar partículas.
Apesar de Lattes ter sido o principal pesquisador e o primeiro autor do artigo que descreve o méson pi, somente Powell foi agraciado como o Nobel de Física. A justificativa dada pelos membros da Academia Real de Ciências da Suécia à escolha de Powell fundamentou-se em “seu desenvolvimento do método fotográfico de estudo dos processos nucleares e suas descobertas em relação a mésons, feitas com este método”. Diferentemente do que hoje ocorre, quando todos os participantes de uma pesquisa premiada são laureados com o prêmio, até 1960 a política do comitê do Prêmio Nobel era a de concedê-lo apenas ao líder do grupo de pesquisa que, no caso, era o britânico Powell.
Mesmo injustiçado naquela ocasião, ao nosso ver, César Lattes seria depois indicado, em sete ocasiões, entre 1949 e 1954, ao Nobel de Física, sem tê-lo recebido, infelizmente, em nenhuma daquelas oportunidades. Em 1965, a Universidade de São Paulo (USP) concedeu-lhe o título de doutor honoris causa. Nome desconhecido para a maioria dos brasileiros, figura entre os físicos mais ilustres do país, tendo seu trabalho sido fundamental para o progresso da física atômica nacional. Em sua homenagem, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) instituiu a Plataforma Lattes, sistema usado para cadastrar cientistas e estudantes; e o Currículo Lattes, que registra a vida profissional dos pesquisadores. Sempre é e será importante ressaltar o trabalho desse eminente brasileiro.
Gilson Barbosa é jornalista