As doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) representam um grande problema de saúde pública mundial. Observa-se que um número relativamente pequeno de fatores de risco como tabagismo, consumo abusivo de álcool, inatividade física, alimentação não saudável e obesidade causa grande impacto social, financeiro e emocional para a população. Estudos realizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que essas doenças são responsáveis por 41 milhões de mortes no mundo, cerca de 71% de todos os óbitos.
No Brasil não é diferente. As doenças cardiovasculares, diabetes, cânceres e as doenças pulmonares crônicas, são responsáveis por mais de 80% das DCNTs e estão intimamente correlacionadas com os fatores de risco citados. O impacto dos fatores de risco e de proteção para DCNT pode ser percebido e inferido pelo número de mortes atribuíveis ou evitadas por cada fator. As DCNTs também geram um elevadíssimo custo econômico. Estudos realizados em 2017 apontavam um gasto de US$ 7 trilhões em países de baixa e média renda. Agora, é previsto atingir 30 trilhões de dólares nas próximas duas décadas. No Brasil, os custos de tratamento e de perdas de produtividade são estimados atualmente em US$ 72 bilhões por ano e as projeções de futuro também não são animadoras. Estimativas do Victoria Institute of Strategic Economic Studies (VISES) apontam que em 2030 haverá no Brasil 8,7% de perda do PIB por conta de casos de absenteísmo, presenteísmo e aposentadoria precoce causados por doenças crônicas.
Se de um lado sabe-se ser fundamental mapear o perfil epidemiológico e acompanhar a prevalência desses fatores de risco para poder guiar ações adequadas na direção de reversão deste quadro, por outro lado, a ênfase destas ações precisa mudar do padrão comum atual para um de maior efetividade. O sistema de ações com ênfase demandada pelo comportamento individual aponta na direção de ser capaz de influenciar nas decisões pessoais e promover o seu bem-estar. Este sim representa um caminho de ações com evidências de maior efetividade na direção de minimizar o impacto gerado para o Brasil e o sistema de saúde brasileiro.
Dr. Álvaro Madeira Neto é médico e gestor em saúde