A cotonicultura brasileira está ganhando o mundo. Pela primeira vez, alçamos a posição de maior exportador de algodão, à frente dos Estados Unidos, revelam os dados da Abrapa, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão. A previsão era de que somente em 2030 alcançaríamos esse feito. Mais do que isso, também nos tornamos o terceiro maior produtor mundial. Na safra 2023/2024, encerrada em julho, exportamos 2,86 milhões de toneladas, o que resultou em um superávit de US$ 5,1 bilhões, crescimento de incríveis 81% na comparação com igual período anterior.
A pujança dessa cultura, que recentemente protagonizou o 14º Congresso Brasileiro do Algodão, em Fortaleza, mostra a resiliência e a capacidade de adaptação do Brasil que, em 25 anos, deixou a condição de segundo maior comprador para se tornar o principal vendedor. Não é exagero dizer que estamos diante de um “caso de sucesso”. A reversão dessa performance está conectada a fatores climáticos, melhorias de processos e incremento de novas tecnologias; no entanto, o elemento-chave tem relação direta com a sustentabilidade.
A adoção de práticas sustentáveis na produção abriu espaço no concorrido mercado global, sobretudo o da indústria têxtil internacional. Para se ter uma ideia do quanto a sustentabilidade nos diferencia e nos coloca em um patamar superior, cerca de 80% do algodão produzido nacionalmente têm certificações com padrões socioambientais pelos programas ABR/BCI (Algodão Brasileiro Responsável e Better Cotton Initiative). Não é apenas, portanto, sobre exportar, é também sobre exportar uma fibra sustentável e de alta qualidade.
Quando falamos de certificações socioambientais, temos que lembrar que elas validam diversas etapas da cadeia produtiva. No que se refere ao campo, a responsabilidade dos produtores em promover atividades agrícolas com menor pegada ambiental está cada vez mais presente. A aplicação equilibrada de nutrientes, por exemplo, tem papel relevante para garantir a saúde do solo e prevenir a sua degradação.
As emissões de gases de efeito estufa (GEE) para produção de algodão no Brasil podem alcançar mais que 2,5 t CO2eq t-1 de fibra, e a produção e aplicação de fertilizantes no campo representam mais que 55% dessas emissões (BCI, 2021). Portanto, uma das formas de contribuirmos para a produção do algodão regenerativo é por meio do fornecimento de fontes de nutrientes com menores pegadas de C, com maior eficiência de aproveitamento pela cultura e maior retorno financeiro para o produtor.
O fertilizante nitrogenado que a Yara disponibiliza hoje ao mercado já é 40% menor em pegada de carbono se comparado a outras fontes, com redução especialmente na produção do insumo pela tecnologia de catalisadores instalados nas fábricas, filtrando o óxido nitroso (N2O). Esse número torna-se ainda mais relevante se considerarmos todo o programa nutricional, com
aplicação de conhecimento agronômico, tecnologias digitais e outros recursos que promovem, em média, o aumento de 15% da produtividade em comparação ao manejo convencional. Na cultura do algodão, muitas práticas para redução de emissões de gases do efeito estufa e a promoção da agricultura regenerativa já estão integradas ao “Better Cotton Standard System”, projetado para garantir o intercâmbio de boas práticas e encorajar a intensificação da ação coletiva para estabelecer o Better Cotton como um produto básico sustentável.
Um outro diferencial competitivo é a rastreabilidade. Com a crescente demanda por práticas mais conscientes, esse monitoramento permite que consumidores e empresas tenham acesso a informações precisas sobre o cultivo, colheita e processamento. Em outras palavras, a transparência proporciona ao mercado reconhecer e valorizar a qualidade da nossa fibra, além de rompermos novas fronteiras comerciais. O próprio Egito, que tem reconhecidamente um dos melhores algodões do mundo, já é um dos dez países a comprarem a fibra brasileira.
Vale sublinhar que esse compromisso socioambiental reflete, na prática, um trabalho que envolve todo o ecossistema produtivo, inclusive da sociedade civil. A rede “Sou de Algodão”, um movimento institucional liderado pela Abrapa e pelo IBA (Instituto Brasileiro do Algodão), ilustra perfeitamente esse elo entre produção e incentivo ao consumo responsável. O movimento estimula o uso do algodão brasileiro, gerando conexões entre produtores, tecelagens, confecções, universidades de moda, pesquisadores e varejistas, e é um exemplo claro da força de uma cadeia que se une e, principalmente, se engaja, em prol de um mesmo objetivo. O consumo nacional, mesmo com a concorrência externa, deve chegar a 1 milhão de toneladas por ano, segundo a própria Abrapa.
Presente no nosso dia a dia, não há dúvidas de que o algodão tem um papel significativo não apenas na nossa economia, como também no abastecimento mundial para a indústria têxtil. Figurar como o maior exportador é mais uma vitrine que mostra ao mundo o quanto o Brasil se consolida como uma referência de agronegócio sustentável, diante da necessidade e da consciência de práticas ambientais e sociais responsáveis. O esforço conjunto de toda a cadeia do algodão, de quem produz a quem consome, é um modelo de organização a ser seguido por outras culturas produtivas, que também têm um potencial gigantesco pela frente.