O segmento de materiais de construção está em alta desde o ano passado. De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio do Estado do Ceará, divulgada pela Fecomércio, o volume de vendas teve aumento de 28% nos últimos 12 meses. A variação leva em conta dados do mês de maio.
O segmento foi o que teve maior aumento no período analisado, seguido por móveis (26,2%) e equipamentos e materiais para escritório (25,3%).
Dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, reforçam o cenário. Em maio, o peso do setor de construção na receita do estado foi maior: 11,2%, frente 8,6%, de fevereiro de 2020, considerado pré-pandemia.
Também houve aumento nas receitas das empresas do setor no Estado, em 3,4%. Essa é a terceira alta consecutiva.
Em meio ao crescimento nas vendas, o preço dos materiais e insumos está também está aumentando, o que preocupa a construção civil. De acordo com dados cedidos pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Ceará (Sinduscon-CE), houve alta de até 138,7% em insumos entre janeiro de 2020 e fevereiro de 2021.
Aumento da procura
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Maquinismo, Ferragens e Tintas de Fortaleza (Sindimac), Cid Alves, pontua fatores que influenciaram no aumento da demanda e consequente aumento nos preços.
No ano passado, a Selic chegou ao menor patamar histórico, em 2% ao ano. Isso incentivou o crédito, levando pessoas tanto a comprar mais imóveis como a buscar dinheiro nos bancos para fazer reformas e construções.
O aumento da demanda mundial também colaborou para as vendas no Estado. Com o dólar alto, indústrias de material de construção começaram a exportar, diminuindo ou acabando com o volume de produtos em estoque e aumentando os preços. Os valores também foram afetados por fatores externos.
“
”.Houve também um aumento de preços do transporte marítimo, o frete marítimo subiu para mais de o dobro, quase o triplo do preço. Teve aquele navio encalhado, aumentou o preço do frete. Também tivemos aumento dos combustíveis e da energia elétrica
O presidente do Sinduscon-CE, Patriolino Ribeiro, acrescenta que a paralização de fábricas de insumos diante da pandemia levou a um desbalanço de oferta e demanda no mercado.
Para ele, o pagamento do auxílio emergencial contribuiu para uma maior busca por insumos de forma doméstica.
“Com o auxílio emergencial, muitas pessoas que sequer tinham banheiro em casa ou precisavam fazer reformas, partiram para comprar cimento, tijolo, PVC, lavatórios. Compras pequenas, mas feitas por milhões de pessoas. O que aconteceu é que sumiu o material do mercado, com a alta procura o preço cresceu”, explica Patriolino.
O presidente do Sindimac projeta que a demanda continuará alta em 2021. Para o primeiro semestre de 2022 a expectativa é de algum desaquecimento, seguido de grande crescimento para o setor no segundo semestre do ano que vem.
Produtos em falta e preços mais altos
Cid destaca que a busca excessiva levou ao esgotamento de estoque de alguns produtos, sobretudo a matéria prima que dá brilho aos materiais e cerâmicas.
“Teve uma normalidade, mas ainda está muito longe de uma disponibilidade de antes da pandemia. Teve o próprio câmbio, uma cesta de fatores que faz com que nossos setores tivessem um aumento grande de preços”, explica.
Patriolino relata que no ano passado tijolo e cimento tiveram altas expressivas, mas voltaram os preços a normalidade. O grande vilão do momento é o aço.
Ele afirma inclusive que o estado já está buscando importar a matéria prima da Turquia, o que trará uma economia de 20% para o setor mesmo com os custos de frete e a variação do câmbio.
Conforme dados do Sinduscon, o Vergalhão CA 60 5 e 6 mm, que custava R$ 4,08 em janeiro do ano passado agora custa R$ 9,74, um aumento de 138,7%. Veja as maiores variações.
Material |
Valor Janeiro/2020 |
Valor agosto/2020 |
Valor fevereiro/2021 |
Variação |
Vergalhão CA 60 5 e 6 mm |
R$ 4,08 |
R$ 4,28 |
R$ 9,74 |
138,70% |
Vergalhão CA 50 6,3 mm |
R$ 3,45 |
R$ 3,60 |
R$ 8,04 |
133,00% |
Vergalhão CA 50 8,0 mm |
R$ 3,43 |
R$ 3,58 |
R$ 7,90 |
130,30% |
Vergalhão CA 50 12,5 à 25 mm |
R$ 3,20 |
R$ 3,34 |
R$ 7,31 |
128,40% |
Vergalhão CA 50 10,0 mm |
R$ 3,27 |
R$ 3,42 |
R$ 7,46 |
128,10% |
Tijolo c/ 8 Furos 9x19x19 |
R$ 340,00 |
R$ 550,00 |
R$ 600,00 |
76,50% |
Eletroproduto CORR Flex 20MMX50M |
R$ 0,66 |
R$ 0,76 |
R$ 1,13 |
71,60% |
Caixa Luz Eletro Flex 4X2 |
R$ 0,85 |
R$ 0,98 |
R$ 1,46 |
71,30% |
Bucha Red Sold LGA 60X40MM |
R$ 3,55 |
R$ 4,09 |
R$ 5,80 |
63,40% |
Tubo PVC Sold 32X6M |
R$ 19,22 |
R$ 22,13 |
R$ 31,37 |
63,30% |
Indústria se preocupa
O presidente do Sinduscon se preocupa com a incerteza de quando os preços irão voltar a um patamar pré-pandemia. Segundo ele, isso pode prejudicar novos lançamentos das construtoras e incorporadoras.
“Essa é a grande preocupação para as construtoras e incorporadoras, saber se vai baixar. Tem construtoras segurando lançamentos com receio de não saber precificar. Não adianta colocar um preço mais alto e não vender ou manter o preço mais baixo e ter prejuízo”, diz.
Patriolino ressalta que isso pode levar à falta de alguns tipos de imóveis no mercado, já que grande parte dos estoques do último período de grandes lançamentos, entre 2012 e 2015, já está chegando ao fim.
Ele prevê para o próximo ano valorização de imóveis tanto novo como usados devido ao fenômeno.