Sócios majoritários das Americanas venderam ações meses antes do rombo de R$ 20 bi ser revelado

Dado pode indicar que diretores da empresa já tinha algum conhecimento sobre o desfalque

Indícios apontam que os sócios majoritários das Americanas poderiam ter algum conhecimento sobre o rombo de R$ 20 bilhões, antes de ele ser revelado pelo agora ex-CEO da empresa, Sergio Rial, na quarta-feira (11). Documentos, publicados pelo próprio empreendimento no portal de relacionamento com investidores, informam que os diretores venderam mais de R$ 210 milhões em ações da varejista no segundo semestre de 2022.

A diretoria vendeu muitos papéis da própria empresa. Isso nos faz crer que era algo que sabiam e não reportaram. Além disso, na call, Rial deixou escapar que talvez não existisse uma vontade dos administradores de falar sobre o problema", analisou o sócio-fundador da plataforma de análise financeira Quantzed, Pedro Menin, em entrevista ao jornal O Globo

A hipótese de que o valor bilionário tenha sido resultado de um deslize no balanço é enfraquecida pela tese, mencionada por Rial, de que um erro contábil tenha ocorrido por uma década no empreendimento, avaliou o estrategista em renda variável da Senso Corretora, João Frota, à publicação fluminense. 

"Isso já vem sendo contabilizado há vários anos. É muito cedo para falar de fraude contábil, mas como não apareceu antes, para membros da empresa ou para a auditoria?", questiona o analista da casa de análise de investimento Nord Research, Victor Bueno, em entrevista ao jornal. 

A gestora Moat Capitalm, que tinha cerca de 2,86% do capital das Americanas (25,8 milhões de ações) em setembro do ano passado, conforme dados da Bloomberg, declarou ao O Globo ter sido surpreendida pela revelação do rombo. 

“Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir e resguardar nossos direitos como acionista minoritário e em defesa dos nossos investidores”, disse em nota.

Investigação 

Autarquia responsável por regular o mercado de capitais do Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu dois processos contra o empreendimento visando obter explicações sobre as informações contábeis, dos fatos relevantes e dos comunicados emitidos pela varejista. 

Um dos credores da Americanas, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) disse à publicação que possui duas operações ativas com o empreendimento, mas explicou que não está exposto a risco, pois há fiança bancária como garantia. Ao jornal, a instituição financeira disse que ainda solicitará esclarecimentos.