Setor de serviços puxa PIB, e Ceará cresce 1,96% no 1º trimestre

O resultado ficou pouco acima da média nacional de 1,7%

A atividade econômica do Ceará registrou alta nos primeiros três meses de 2022, que culminou no crescimento de 1,96% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado em relação ao mesmo período de 2021. O resultado ficou pouco acima da média nacional de 1,7%.

As informações foram divulgadas pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) na tarde desta quinta-feira (30).

Quando comparado com o trimestre imediatamente anterior, o quarto de 2021, o PIB local praticamente ficou estável, com alta de 0,16% - contra 1% do Brasil. Já no acumulado dos últimos 12 meses, o Ceará ainda alcança forte variação de 6,16%, ante 4,7% do PIB nacional.

Resultados por setor

Entre os setores produtivos, apenas o de Serviços registrou variação positiva no primeiro trimestre, de 1,77%. O analista de políticas públicas do Ipece Alexsandre Lira lembra que o segmento é o mais pujante da economia cearense, representando 78% da atividade econômica local.

Veja resultado por setor

  • Serviços: 4,45%
  • Indústria: -8,64%
  • Agropecuária: -0,95%

Sobre o resultado, ele avalia que, além de uma forte recuperação, a variação aponta para uma aceleração do setor, dado que o crescimento se deu inclusive acima da média histórica.

Entre as atividades que compõem o segmento, todas elas registraram bom desempenho, com destaque para Alojamento e Alimentação (12,56%), Transportes (11,22%) e Comércio (9,58%).

O primeiro deles, segundo o especialista, vem se recompondo rapidamente com a recuperação do Turismo, impulsionada pelo avanço da vacinação, que dá mais confiança à população para voltar às suas atividades.

Lira ainda ressalta que o crescimento também tem se refletido na geração de empregos, uma vez que o setor de alojamento gerou 150 vagas de emprego formais nesse primeiro trimestre contra 12 oportunidades no mesmo período do ano passado, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Passagens aéreas impulsionam transportes

Nos Transportes, apesar do aumento no preço dos combustíveis, as atividades de armazenagem, carga e correio tiveram bom desempenho, mas foram as vendas de passagens aéreas que impulsionaram o segmento, com 80% de crescimento.

"Na retomada de voos no Estado, nós tivemos 394 mil embarques no primeiro trimestre de 2021. No primeiro trimestre deste ano, foram 707 mil embarques. É uma variação expressiva", afirma o analista.

Já no Comércio, atividade mais forte do setor de Serviços, teve bom crescimento na venda de veículos, de material de construção e no varejo em geral, especialmente tecidos, vestuário e calçados.

No caso dos materiais de construção, ele esclarece que as famílias estão direcionando os recursos que sobram após o pagamento das necessidades básicas para reformas nos imóveis. "As pessoas estão investimento em casa", pontua.

Os Serviços Prestados às Famílias são outro destaque do setor, que apresentaram variação de quase 9%. Os destaques foram os serviços de manutenção, serviços pessoais e as atividades ligadas à arte, cultura e entretenimento.

"Com o maior relaxamento do isolamento social, o avanço da vacinação, as pessoas estão se sentindo mais seguras para voltar aos serviços de cabeleireiro, manicure, ao cinema, teatro. E esses vão continuar em tendência de alta nos próximos trimestres", afirma Lira.

Agropecuária

A Agropecuária sofreu redução de 0,95% em sua atividade no primeiro trimestre deste ano. A analista do Ipece Cristina Lima esclarece que o resultado foi influenciado fortemente pela queda na produção de coco, maracujá e tomate.

Embora a quadra chuvosa tenha sido melhor que o esperado este ano, ela pontua que no primeiro trimestre praticamente não tem colheita efetiva, apenas está se produzindo. Apenas é contabilizado no PIB a partir da colheita, o que indica que os resultados do segmento no segundo e terceiro trimestres devem ser melhores.

Já a pecuária continua crescendo, embora em ritmo menor. Isso acontece devido ao aumento na base de comparação, que vai demandando mais esforço para continuar avançando e desaquecendo o ritmo.

Apesar da perspectiva de melhor nos próximos meses, Lima alerta para alguns fatores que podem impactar nesses resultados, como o aumento dos custos de produção, com o reajuste da energia elétrica, por exemplo, e o fornecimento de fertilizantes.

Indústria

A Indústria foi o setor produtivo que mais sofreu nos primeiros meses de 2022, registrando tombo de 8,64%. Witalo Paiva, também analista do Ipece, revela que este é o primeiro resultado negativo da indústria desde o segundo trimestre de 2020, quando a pandemia se instalou no Brasil e a atividade econômica alcançou a maior queda.

Segundo ele, um dos fatores que explica a baixa é a forte base de comparação, já que o segmento apresentou alta de 11,06% no primeiro trimestre de 2021.

A única atividade a permanecer positiva foi a Construção Civil, que tem mantido o aquecimento desde o segundo semestre de 2020, com a primeira retomada depois do lockdown. Paiva explica que, por ser uma atividade que já tem um ciclo de crescimento mais longo, esse "impulso" tem permanecido.

No sentido contrário, Eletricidade, Gás e Água apresentou forte queda. Nesse caso, além da base de comparação, há o menor acionamento das usinas termelétricas locais, que foram utilizadas ano passado durante a crise energética e agora não são mais, além do componente sazonal, uma vez que os ventos são mais fracos no primeiro semestre do ano e não aproveitam todo o potencial das usinas eólicas.

Na Indústria da Transformação, houve uma baixa generalizada diante de uma baixa demanda ainda, evidenciada pelo forte inflação e alta taxa de juros, que geram um cenário que impacta primeiramente a indústria. A Confecção e Calçados foi uma das atividades mais prejudicadas no período.

"A gente entende que esse resultado é explicado por uma acomodação de demanda ainda, e a população acaba direcionando os gastos pra serviços nesse momento de retomada aos costumes pré-pandemia e consumindo menos bem industriais. Outra explicação é o poder de compra reduzido diante do processo inflacionário e taxa de juros elevada", detalha.

Nova previsão para o ano

A previsão para o resultado do PIB de 2022 foi atualizada para cima, passando de 1,25% para 1,57%. O prognóstico continua acima da previsão para o País (1,2%).

Paiva ressalta que a subida é algo bom, mas ainda não é o resultado desejado e explica que, como o resultado do primeiro trimestre foi melhor que o projetado, a previsão geral para o ano também se eleva.

Além disso, houve melhoras na previsão para a economia nacional, que contribui para o bom desempenho da atividade local.

Ele ainda indica que a retomada dos Serviços deve ser o carro chefe do PIB este ano, somada à recuperação do mercado de trabalho, à redução de carga tributária, como o ICMS sobre combustíveis e energia elétrica - que deve impulsionar o comércio de bens, juntamente com o saque emergencial do FGTS e com o Auxílio Brasil.

A ideia é que a consolidação do aquecimento de Serviços impulsione a Indústria diante da necessidade de renovação de estoques, por exemplo.