Setor atacadista projeta crescimento, apesar de queda no volume no 1º tri, diz presidente da Abad

Convidado do Diálogo Econômico, Leonardo Miguel fala sobre o potencial do Nordeste e do Ceará no setor e as perspectivas para o ano

O atacado vem em crescente nos últimos anos e, ao contrário de outros setores que tiveram quedas durante a pandemia, projeta crescimentos. Diante da pressão inflacionária, os atacarejos têm ganhado cada vez mais espaço, tanto no cenário nacional como no local. 

De acordo com dados divulgados no início do mês pela Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad), apesar de ter havido queda de 8,6% no volume de vendas no Nordeste no 1º tri deste ano, houve aumento de 2,1% no faturamento em comparação com o último semestre do ano passado. 

O presidente da associação, Leonardo Miguel, considera que apesar da queda no volume de vendas, o setor espera crescimento para o ano de 2022. Convidado desta semana do Diálogo Econômico, ele fala dos desafios e sobre o potencial cearense para o setor. 

Para Leonardo, o Estado possui grandes players que estão antenados às mudanças do mercado, o que traz perspectivas otimistas. Ele considera que o Ceará está bem preparado politicamente para mover as mudanças que são necessárias para mover o setor. 

Confira a entrevista completa

Como o setor foi afetado pela pandemia e como ocorre essa recuperação, no Brasil e no Ceará? 

Queira ou não queira, nós tivemos um papel fundamental de responsabilidade social, que conjugou também com a nossa expertise e fez com que as nossas empresas aumentassem o volume das suas vendas, o volume da sua participação. Isso acabou sendo benéfico para o nosso setor, para quem distribui e vende alimentos. 

Hoje a gente já tá em um momento de entendimento pós-pandemia, de como a gente vai se situar em termos de participação de mercado, mas especificamente com relação ao período da pandemia foi benéfico para nós em termos de aumento do movimento.  

Ainda não temos informações específicas de cada estado, teremos em um futuro bem próximo. Mas acredito que o movimento tenha sido de uma forma uniforme em todo o território nacional. 

Há um movimento de ida de centros de distribuição para o Nordeste. Por que isso acontece e qual o potencial da região para esse tipo de estrutura? 

Isso é bom para o consumidor, porque cada vez mais tem acesso aos produtos de abastecimento, as mercadorias, de uma forma multicanal, por diversas formas, têm seu abastecimento e sua conveniência por diversas formas.  

Isso também fortalece o nosso canal no sentido de a gente se modernizar, a gente melhorar a nossa estratégia, e saber também que o jogo é vivo, a gente tem que estar disposto a estar fazendo as alterações necessárias até para que a gente consiga, dentro de um ambiente simples, com pouco atrito, estar promovendo nosso propósito como empresa, como canal. 

Vemos no Ceará uma crescente dos atacarejos. Isso é um reflexo da alta dos preços? 

Bom, o atacarejo não deixa de ser uma modalidade do que o atacado como um todo faz. A diferença do atacarejo para o distribuidor em si, que são duas modalidades de atacado, é que o atacarejo atende mais abastecimento e o distribuidor abastece pequenos varejos, que promovem a reposição das famílias e a sua conveniência, são dois momentos de compra. 

Está tendo até uma migração de modelo, alguns varejos tradicionais se reformularam, se modernizaram, no sentido de estar trazendo uma proposta também de preço, um modelo de atacarejo que possa atender seu cliente no que tange a preço.  

Muitas vezes, o que o consumidor está pedindo é preço. Em um outro momento ele pede mais conforto. Tem mercado para todo mundo.  

Eu acredito que nos grandes centros você vai encontrar mais oportunidades de compras com requinte, mas no Brasil como um todo a gente vê uma oportunidade muito grande de estar atingindo determinado nicho de cliente e de parceiro comercial de uma forma que você possa trazer oportunidades de preço melhores. 

Eu acho que é uma modernização do modelo, já vinha crescendo independente da inflação, independente do momento econômico. É um modelo de loja que se encontrou, achou o seu espaço dentro de uma proposta de abastecimento e de tratativa do foodservice. 

O canal direto é uma modalidade distinta, ambos preenchem dois momentos de compra, do abastecimento e da conveniência.  

A gente tem visto com certa frequência a fusão de grupos, tivemos inclusive agora a compra do BIG pelo Carrefour. Como o setor vê esse movimento? Isso é uma tendência? 

Fusão sempre houve, principalmente no setor varejista. Eu tenho 45 anos de idade e eu nasci ouvindo falar de fusões. É um movimento consolidativo nessa modalidade. 

O fornecedor, o nosso parceiro comercial, não é tão inclinado a esse tipo de concentração porque ele perde um pouquinho a capacidade que ele tem de experiência, de lançamento, de tendências. Ele prefere que o mercado seja, como ainda é o nosso mercado, que é um mercado descentralizado, um mercado forte na ponta. 

Basicamente é isso. Fusão sempre vai acontecer, o ecossistema nosso favorece a descentralização, então qualquer iniciativa que houver no sentido de concentrar vai haver uma contraforça também no sentido de promover a oferta dos produtos nos diversos canais. 

A operação de varejo é atrativa a fundos de investimentos, a grandes grupos. E hoje o nosso modelo atacado-distribuidor está sendo também um modelo muito visado pelos fundos de investimento, está havendo consolidação também. Mas isso não impede as nossas empresas de localmente estarem crescendo também. 

O que o Ceará possui de qualidades para o setor atacadista? Há espaço para crescimento? 

O Ceará é um lindo estado, que tem um potencial turístico tremendo, todos sabem, a gente vê diversas praias e cidades que exploram esse potencial. 

O potencial econômico também existe, é berço de várias indústrias de peso no Brasil, é celeiro também de um modelo atacadista e distribuidor de sucesso, onde você vê diversos players que têm condição de entregar para os seus clientes propostas atrativas de preço e de qualidade. 

É um estado que está bem preparado politicamente, a gente vê grandes lideranças políticas que vêm do estado do Ceará. Temos muito o que elogiar e se espelhar em termos de prática do que o Ceará já vem fazendo ao longo dos anos. 

Vai ser da mesma forma que está acontecendo no Brasil, lá no Ceará existem grandes e bons players que desempenham um bom papel, estão atentos às transformações, às necessidades de automação e digitalização. Eu tenho certeza que estão tomando medidas para que isso tudo aconteça. 

Quais segmentos dentro do setor atacadista têm mais potencial?  

O apelo que nós temos frente ao mercado varejista mercearil possibilita a gente crescer em qualquer das categorias que esse mercado vende.  

O nosso potencial consiste em um potencial logístico, financeiro e de cobertura, de cobertura de linhas, categorias, que faz com que a gente cada vez mais seja necessário para o pequeno e médio varejo, que é o nosso cliente.  

Quais são os desafios que o setor ainda tem para superar aqui no Brasil e na região Nordeste? 

São muitos. Somos um canal em beta contínuo, temos sempre a melhorar, não estamos nunca beirando a perfeição e o jogo é vivo. As indústrias mudam, os comandos mudam, as tecnologias chegam e se aprimoram, as latências melhoram, tem 5G aí hoje vindo. 

Isso tudo favorece para que a gente implemente ferramentas para que a gente possa desempenhar bem o nosso papel.  

Tem muitas questões políticas, jurídicas, de contato. E quando eu falo contato, é em tecnologia mesmo, tem muita coisa ainda a ser melhorado, estamos longe da perfeição, mas tem muita coisa. 

Quais são as expectativas para 2022? O que o setor espera? 

Crescimento. Em detrimento à diminuição de volume no primeiro trimestre, a gente já pega um rabinho de peixe aí, uma crescida. Eu tenho certeza que nós vamos chegar a esse crescimento tão almejado pelo nosso canal, pelo nosso setor. Tanto em volume como em faturamento.