O ‘boom’ do setor de telecomunicações nos últimos anos faz surgir diversas tecnologias e redes de negócio. Uma delas são as redes neutras, que consiste em uma estrutura de fibra ótica não exclusiva de operadoras. O modelo deve, inclusive, facilitar o processo de implantação do 5G nas capitais, previsto para começar em julho deste ano.
Entrevistado desta semana no Diálogo Econômico, Rafael Marquez, diretor de Marketing da V.tal, aponta que, além disso, as redes neutras devem auxiliar na expansão da conexão à internet em regiões que ainda têm carência do serviço, como zona rural e distritos industriais.
Além disso, o diretor afirma que a tecnologia deve impulsionar negócios locais e permitir que provedores regionais façam expansões de cobertura.
“Esse modelo propicia que surjam novos operadores e provedores entrando em determinada região sem precisar construir, o que demanda tempo, tem um investimento pesado, é difícil você conseguir direito de passagem de fibra em poste”.
Confira a entrevista completa:
A V.tal trabalha com o conceito de redes neutras, um modelo de negócio, mas afinal o que são essas redes? Como funcionam?
A rede neutra é uma estrutura de fibra ótica e é neutra porque ela não é de exclusividade de nenhuma operadora. A gente está pegando essa rede, que já tem mais de 400 mil quilômetros de fibra em todo o Brasil, presente em todos os estados e está abrindo, compartilhando essa rede para que vários provedores de internet possam alugar essa estrutura para prestar o serviço de banda larga na casa do consumidor final.
Não é exclusividade, a gente aluga, compartilha essa rede com vários provedores. Os benefícios para o mercado, porque esse modelo propicia que surjam novos operadores e provedores entrando em determinada região sem precisar construir, o que demanda tempo, tem um investimento pesado, é difícil você conseguir direito de passagem de fibra em poste.
Quais as vantagens desse modelo para o mercado?
Então, é um modelo muito eficiente, seja em termos de tempo, de entrada no mercado, seja tempo também em termos financeiros. Para o próprio provedor, ele não precisa mais investir do próprio dinheiro. Acesso à capital no Brasil é caro, é complicado, então tem dificuldade, tem pouco fôlego financeiro para crescer construindo a própria rede. Por isso, ele tira proveito dessa rede que já existe.
A outra vantagem é a velocidade. Caso ele queira lançar numa nova região, a gente pode estar em todo o Brasil, então rapidamente consegue lançar uma nova uma operação. Por exemplo, caso um provedor daqui do Ceará queira entrar em Porto Alegre, em trinta dias ele está pronto para operar lá.
Óbvio, tem que botar força comercial, fazer um lançamento de marca, mas tecnicamente, a infraestrutura está tão pronta que, em trinta dias, qualquer provedor pode começar a conectar o cliente final.
Esse é o conceito da neutralidade, essa rede, hoje, abrange, 15 milhões de casas, ou seja, são domicílios prontos para um provedor fazer essa conexão e a gente atua no modelo de rede neutra fim a fim, em inglês é o FTTH (fiber to the home). A gente leva a fibra até a casa do cliente, faz a instalação do equipamento, fazendo isso em nome da prestadora da operadora que contratou.
A neutralidade é isso, a gente está por trás dessa infraestrutura viabilizadora da banda larga em fibra no Brasil.
É como se fosse uma mediação?
Eu gosto muito do conceito de economia compartilhada. A gente está mudando o conceito de você precisar ter o ativo, que é uma rede de internet, uma rede de fibra para poder alugar, usufruir, então, é isso, é uma estrutura de compartilhado, o investimento que já foi feito, você otimiza isso, alugando para vários parceiros, provedores.
E para os consumidores, qual é a principal vantagem desse sistema?
É justamente viabilizar a entrada de novas operadoras de banda larga para poder se diferenciar no atendimento, na qualidade de serviço ao cliente final, porque a gente vai estar com a rede pronta para fazer esse trabalho.
Então, tem mais competição, mais oferta de serviço e possibilita também que a gente chegue com a rede de fibra em outras regiões, a gente se propõe a fazer a construção dessa rede para uma região que tenha carência da oferta de fibra ótica para fomentar que operadoras, provedores regionais prestem serviço onde hoje não tem.
A gente diz que nossa ambição é ajudar a digitalizar o Brasil, a levar conectividade, inclusive em regiões onde tem carência desse tipo de serviço.
A internet no Brasil, mesmo onde já tem, carece de velocidades muito boas porque tem muita rede ligada e o novo perfil de consumo de internet é de ver filmes online, streamings, cada um num quarto ou num computador, no tablet em HD, o filho jogando online.
O tipo de consumo que a gente tem na residência hoje demanda alto tráfego de dados e só a tecnologia de fibra é que comporta este perfil de consumo. Se você olhar em perspectiva, a chegada de 5G, a internet das coisas, vai ter cada vez mais conexão, a gente está cada vez mais on-line e aí só mesmo a infraestrutura de última geração como a de fibra permite.
Assim, regiões, mesmo onde já tem internet no Brasil, tem uma carência da qualidade da banda larga e a fibra ocupa esse gap. Fora regiões que têm carência e pouco acesso à oferta de internet começa a fazer sentido investir que, no modelo antigo, em que cada operadora fazia o investimento próprio, talvez o retorno do investimento não fechasse a conta.
É um modelo financeiro interessante que viabiliza o aumento da competição da oferta de banda larga em alta qualidade.
Você mencionou sobre a qualidade da internet, na região rural, por exemplo, ainda é bem aquém do necessário. Você acha que essas pessoas que moram em regiões de interior vão poder se beneficiar com a rede neutra?
Certamente, porque esse papel da rede neutra também, como eu falei, economicamente faz sentido a gente que os provedores regionais invistam, mais de um inclusive, podendo usar essa infraestrutura para chegar no cliente final.
Por isso, a gente é uma grande habilitadora e aí vai atingir distritos industriais, a região rural que dê para chegar com a fibra ótica. Então, começa a fazer sentido esse investimento para ter esse retorno, é um grande motor propulsor da conectividade.
Estamos a poucos meses do início da operação do 5G nas capitais brasileiras, de que forma essa conexão pode se beneficiar com esse modelo de negócio?
É muito intrínseco aqui uma coisa à outra e o modelo do 5G tem três grandes pilares de viabilização para que tenha sucesso. Primeiro que precisa ter o espectro, o direito ao uso da radiofrequência foi realizado pelo leilão que a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) fez no ano passado, as operadoras móveis compraram frequência e outras que não atuavam no móvel, por exemplo, a Brisanet, entraram também comprando o espectro.
O segundo pilar, onde é que a gente coloca essa eletrônica do 5G? Em torres ou estações de rádio base, onde hoje, por exemplo, tem o sinal do 4G.
E o terceiro é a fibra. Para essa torre poder botar essa eletrônica e tirar o máximo da qualidade do 5G, precisa ter muito transporte de dados, tem que estar fibrada. O modelo de rede neutra permite que a gente compartilhe essa fibra com as operadoras que compraram lotes para ter o máximo de conectividade nas antenas de onde sai o sinal que chega no nosso celular.
Isso pode impulsionar, então, os negócios de pequenos provedores? Ou ainda que novos negócios surjam aqui no Estado?
Esse é mais um benefício desse modelo, além de servir para quem já atua como provedor de internet poder rapidamente crescer e expandir a atuação, é tão flexível que permite que pessoas possam lançar uma operadora de banda larga usando 100% da rede da V.tal.
A gente teve um case, inclusive, de um investidor estrangeiro que teve acesso a capitais lá do Vale do Silício (Estados Unidos) e lançou uma operadora virtual de banda larga no Espírito Santo. Em 60 dias depois de assinar o contrato, já estava lançando. Então, é mais uma opção, gera competição, oferta, novas operadoras de banda larga por esse modelo.
Não só que novas operadoras surjam, mas que outros setores, caso queiram agregar seu portfólio de produtos, criem suas próprias bandas largas, mesmo sem ser de telecomunicações, permite essa multiplicidade de oferta do serviço.
Ainda sobre o 5G, Fortaleza já está mais a frente desse processo. E como a V.tal tem atuado no Ceará?
Fortaleza é um grande polo de inovação, é por onde chega a maior parte do tráfego de internet e a gente vê que a região se desenvolve e muita coisa da economia gira em torno disso. É um polo muito interessante de fomento de negócios, é um DNA da região.
No Brasil, a barreira não é tecnológica, temos as burocracias processuais que nem sempre viabilizam que a tecnologia possa dar seu máximo, mas a gente está vendo que as coisas em Fortaleza estão andando num ritmo diferente e que bom, que sirva de exemplo para o resto do país.
Estamos presente no estado, já temos uma rede bastante capilar com contratos com sete provedores regionais no Nordeste. Só no Ceará, são mais de 700 mil residências com o serviço de internet por fibra óptica disponível para contratação, sendo 600 mil na capital. Estamos aqui para mostrar que não vai ser por falta de fibra que não vamos fazer o 5G no estado.