A queda de 0,2% na soma dos produtos e serviços produzidos no País no primeiro trimestre mostra que as expectativas de confiança das empresas em relação à economia brasileira vêm se mantendo baixas, conforme avaliação de especialistas. O resultado foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esta foi ainda a primeira variação negativa para o primeiro trimestre do ano, desde 2016.
Segundo o coordenador de contas regionais do Instituto de Pesquisa e Estratégica Econômica do Ceará (Ipece), Nicolino Trompieri, esse comportamento é retratado pela queda de 1,7% da formação bruta de capital físico. “Essa é uma medida de nível de investimento das empresas na economia do Brasil”, explica.
De acordo com o assessor de investimentos da Conceito Investimentos, Rafael Meyer, as consecutivas reduções nas projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano já indicavam um resultado negativo. “Alguns setores em específico puxaram esse valor para baixo nos primeiros meses do ano. É o caso do setor industrial, que caiu 0,7%”, ressalta.
As principais atividades em queda foram a indústria extrativa mineral (-6,3%), construção (-2%) e indústrias da transformação (-0,5%). A agropecuária também teve queda (-0,5%), segundo a pesquisa.
Meyer ainda avalia que a queda só não foi maior por conta da leve alta do setor de serviços. O segmento teve taxa positiva de 0,2% no período. “Acredito que isso esteja atrelado à baixa taxa de juros que temos hoje, um dos menores patamares da história. Com isso, sobra mais dinheiro para consumo”, aponta.
Consumo das famílias
Para Trompieri, o consumo das famílias cresceu apenas 0,3%, o que demonstra que “as famílias estão com baixos níveis de consumo, apesar da inflação se manter relativamente baixa e a taxa de juros se manter no patamar de 6,5%, tornando o crédito mais barato”, conforme aponta.
Nicolino ainda ressalta que o ambiente de alta taxa de desemprego e baixo níveis de correções salariais também influenciam para que as famílias mantenham o consumo retraído. “Espera-se que esse comportamento reverta-se a partir da aprovação da reforma da Previdência, juntamente com outras reformas importantes, como a reforma tributária, influenciando assim para um retomada de crescimento estável”, prevê.
Perda de posições
O recuo no PIB coloca o Brasil na 38º posição de uma lista de 43 países elaborada pela consultoria Austin Rating, empatado com o México e acima apenas de Letônia, Coreia do Sul, Indonésia e Nigéria. Outro estudo, da consultoria AC Pastore, mostra ainda que a recuperação brasileira tem sido mais lenta do que a observada em diversos países que enfrentaram grandes recessões. No primeiro trimestre, o desempenho da economia brasileira ficou bem abaixo do crescimento médio dos países selecionados pela Austin Rating. O país que mais cresceu no início de 2019 foi Cingapura (3,8%).