Preços de equipamentos solares caem 30%, e investimento em painéis fica mais acessível em 2024

Custo para instalação de painéis fotovoltaicos atinge menor patamar de preço no início deste ano

Nunca esteve tão barato investir em sistemas de energia solar para consumidores residenciais e comerciais de pequeno porte em todo o Brasil. Somente em janeiro de 2024, a redução de preço nos componentes que geram eletricidade a partir de painéis fotovoltaicos foi de 30% em comparação com igual período do ano passado.

Os números são divulgados em um contexto adverso para o setor. Desde 1º de janeiro, está em vigor a cobrança de impostos para painéis solares e também a chamada "taxa do Sol", que já vigora desde o início de 2023.

As duas cobranças, feitas progressivamente até 2029, visam controlar o segmento e estimular a indústria de produção de equipamentos de energias renováveis no Brasil, uma vez que diversos componentes de energia fotovoltaica são importados, sobretudo da China.

A redução no preço foi o destaque do Estudo Estratégico GD, da Greener Consultoria. De acordo com a empresa, a principal razão pela queda nos valores está relacionada ao "módulo", sendo o termo técnico para designar os painéis solares.

"(Ele) representa de 25% a 40% do preço final de um sistema fotovoltaico (FV) atualmente. Essa queda dos preços dos sistemas FV reflete em maior atratividade do investimento ao consumidor final do ponto de vista de retorno do investimento, que melhorou em 25% no caso de um sistema FV residencial", aponta a Greener.

Retorno do investimento

O chamado "retorno de investimento" é definido por uma razão entre o período que o cliente investe na aquisição e instalação de um sistema fotovoltaico e quanto tempo esse valor é pago, ou seja, o tempo que dura para que o painel se pague e continue gerando benefícios ao consumidor.

Segundo a Greener, em janeiro de 2023, o consumidor que decidisse adquirir um sistema solar levaria 4,4 anos (até meados de 2027) para liquidar o investimento, frente a 3,3 anos em 2024. Vale lembrar que o tempo médio de duração de um equipamento fotovoltaico é de cerca de 20 anos, podendo se estender a depender do contexto. 

Verticalização de empresas na China aparece como principal fator

O diretor comercial da Sou Energy, Mário Viana, já destacou que mais de 80% da geração distribuída de energia solar no País vêm de sistemas residenciais, que incluem, além de moradias, pequenos estabelecimentos comerciais. Além da maior procura por esse público, a oferta também disparou ao longo do segundo semestre de 2023 e do início de 2024.

Ao invés da produção em cadeia, com diversas empresas produzindo cada um dos componentes dos painéis solares, muitas companhias chinesas, que fabricam os painéis fotovoltaicos, resolveram se "verticalizar", ou seja, participar desde o início da transformação da matéria-prima até a entrega do produto final.

Segundo Mário Viana, "o valor dos painéis derreteu ao longo de 2023", e mesmo com os impostos pressionando o aumento das cifras dos sistemas fotovoltaicos, a queda dos produtos importados foi acima do esperado, tornando a aquisição dos materiais ainda mais acessível.

"Você tem a empresa que extrai o silício e fabrica os lingotes, tem a empresa que transforma esse silício em wafer, o qual é depois transformado em célula, que depois vai ser montado o painel. A cadeia tinha grandes players em cada etapa dessas, e um grande player resolveu verticalizar. Ele já era o maior fornecedor de silício na China, e resolveu verticalizar sua produção até o nível dos painéis.  Algumas empresas que também não fabricavam painéis, mas fabricava o wafer também resolveram verticalizar", explica.

De um ano para o outro, a oferta de painéis na China aumentou absurdamente, e o consumo interno chinês não seguiu a mesma evolução, e o consumo externo no mundo também não evoluiu da mesma forma. Aconteceu que as fábricas com estoque gigantesco, tendo que dar vazão, fez com que os preços caíssem cerca de 60% do começo para o final do ano passado.
Mário Viana
Diretor comercial da Sou Energy

China e Europa com equipamentos de sobra

A alta oferta de painéis solares traz uma consequência em cascata, que afeta o mercado europeu, outro grande parceiro comercial do Brasil. Com a transição energética e a maior demanda, a China está produzindo os materiais fotovoltaicos muito além do necessário, e o excedente já é utilizado na Europa como cercas de casas e estabelecimentos comerciais.

O reflexo também é sentido no mercado cearense. De acordo com Danilo Pinho, diretor comercial da 55 Energy, os preços dos painéis dos sistemas solares ficaram cerca de 50% mais baratos para os consumidores em menos de dois anos, apesar das taxações nos últimos meses.

"A Europa está com inúmeros módulos parados e não estão conseguindo dar vazão. Isso contribuiu para os preços reduzirem para o cliente final. É uma soma de fatores, uma vez que eu vou ter que pagar fio B agora, o preço do equipamento caiu por conta de situações de mercado, e uma alta competitividade dos equipamentos lá no mercado chinês mesmo", observa.

A percepção do diretor da empresa traz ainda a projeção de a queda nos preços dos equipamentos, apesar do excesso de produção da China, deve chegar em um momento de instabilidade nos próximos meses. Por causa disso, a redução nos valores dos painéis fotovoltaicos chegou a até R$ 20 mil para sistemas de médio porte.

"Esse ano, ainda conseguimos perceber que os preços vêm caindo, e a gente entende que a partir de agora ele vai chegar em um ponto de equilíbrio e não teremos mais essa tendência de queda. Ano passado, os preços caíram 35% a 40%, e agora esse ano a gente já consegue perceber 50%", pondera Danilo Pinho.

Quando a gente vê um kit que tinha uma geração média de 500 kWh que em 2022 e era vendido por R$ 24,5 mil, hoje esse mesmo kit, com a mesma potência, a gente consegue encontrar aí com preços de R$ 2 mil, R$ 2,5 mil. Para quem tem consumo de 200 kWh, a gente não consegue perceber essa queda vertiginosa, mas para um consumo médio de 500 kWh, 1000 kWh, para quem tem contas entre R$ 400 e R$ 1 mil por mês, mas já entendemos que chegamos em um ponto de equilíbrio.
Danilo Pinho
Diretor comercial da 55 Energy

Mais painéis para economia e conforto

Principalmente nos telhados de todo o Ceará, já é possível observar que os consumidores — residenciais e comerciais — de fato estão buscando ter painéis solares para a geração de energia, com objetivos que colocam o custo-benefício no centro das discussões.

De acordo com Mário Viana, a opção dos clientes por instalarem painéis fotovoltaicos vai além da economia na conta de energia e também traz a questão do conforto para as famílias, sobretudo para o uso maior do ar-condicionado em cidades mais quentes, como Fortaleza.

"Energia solar, cinco anos atrás, era uma coisa muito cara. Para se vender energia solar realmente era importante se falar em payback. Hoje, o que a gente nota é que 83% de tudo que tem conectado no Brasil é da classe residencial, e grande parte dessas pessoas que procuram gerar a própria energia não procuram necessariamente uma economia na conta. O que ela está buscando é ampliar o conforto da família sem onerar a conta de energia", argumenta.

A informação é corroborada pelo professor de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará, Raphael Amaral. Ele frisa que a economia na conta de energia é importante, mas o comportamento das famílias é em busca de maior conforto.

As pessoas estão procurando mais por painéis, por questão de, primeiro, de redução no valor da conta de energia, que só tende a aumentar, e a utilização dos painéis traria essa redução na conta. Segunda questão é que as pessoas até querem consumir mais, tipo instalar mais ares-condicionados e outros tipos de equipamentos, e recorrem aos painéis para que a conta dela até permaneça ali mais ou menos o mesmo patamar que já paga, mas que ela tenha um conforto maior dentro de casa.
Raphael Amaral
Professor de Engenharia Elétrica da UFC

O diretor técnico do Sindienergia-CE, Daniel Queiroz, enumera que de fato a queda constante nos sistemas fotovoltaicos estimula os consumidores a produzirem a própria energia, e é importante consultar o melhor custo-benefício entre as empresas do setor para aproveitar o preço reduzido.

"O consumidor de energia produzindo a sua própria energia tem tido cada vez mais dinâmica, e a redução de preço na aquisição de projetos fotovoltaicos, seja para residências, comércios e até mesmo indústrias, vem cada vez mais se colocando em um patamar de preço ainda mais interessante, diminuindo aí o retorno de investimento que o cliente faz na hora de contratar uma operação dessa. É muito importante o cliente, para aproveitar esse patamar de preço menor, fazer antes uma análise da empresa que vai contratar. É importante verificar se essa empresa já atua muito tempo no mercado, quantidade de clientes, verificar como é o pós-venda dessa empresa", conclui.