Potencial energético de hidrogênio verde no Ceará é suficiente para abastecer 4,5 Brasis, diz Fiec

Expectativa é de que as primeiras moléculas comecem a ser produzidas no Pecém no ano que vem

O Ceará tem capacidade de produzir, em condições técnicas perfeitas, 33.400 toneladas por dia de hidrogênio verde (H₂V), indicam dados da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), repassados ao Diário do Nordeste.

Toda essa matéria-prima pode ser destinada para a produção de energia elétrica, limpa e renovável, capaz de gerar 900 GW/mês em eletricidade, mais do que suficiente para abastecer todo o Brasil 4,5 vezes.

“A capacidade de geração de energia instalada no Brasil considerando todas as fontes é de 195 GW e apenas o Estado do Ceará tem potencial para mais de 900 GW, ou seja, teoricamente poderia suprir toda a necessidade de energia elétrica do Brasil”, afirma Constantino Frate, coordenador do Núcleo de Energia da Fiec.

A fala do coordenador considera o cenário de máxima efetividade, isto é, com a produção de H₂V funcionando com 100% de aproveitamento e com o potencial técnico em uso pleno.

“O hidrogênio verde, produzido somente a partir de fontes renováveis, pode ser chave para descarbonização da economia. O Ceará, sendo referência na geração de energia eólica e solar, desponta como peça-chave para o Brasil ser referência na produção de hidrogênio verde. Assim, poderemos garantir um processo limpo para reduzir as emissões de gás carbônico de diversos setores econômicos”, completa Constantino Frate.

O QUE OS NÚMEROS SIGNIFICAM?

A afirmação do coordenador do Núcleo de Energia da Fiec está alicerçada em dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia (MME), que traz o panorama do potencial energético do H₂V em todo o Brasil.

O estudo da EPE diz que, somente a partir do hidrogênio verde, as cinco plantas atualmente em projeto no Ceará, todas a serem instaladas no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), podem produzir 200 GWh de energia elétrica, suficiente para abastecer 100 milhões de residências.

Para efeitos de comparação, a atual capacidade instalada de produção de eletricidade em todo o Brasil, considerando todas as oito principais fontes produtoras de energia, chega a 194GW/mês, abaixo do potencial que somente o H₂V pode ter no estado. Os dados do MME são de setembro de 2023:

  • Capacidade de produção de energia no Brasil: 194,4 GWh;
  • Consumo médio de energia no Brasil: 69,3 GWh.

A capacidade de produção de energia no Brasil salta para 217,5 GWh se considerada a geração distribuída, de acordo com o MME. Para isso, são consideradas oito matrizes energéticas principais:

POTENCIAIS E REGULAMENTAÇÃO

Na classificação do Ministério de Minas e Energia, a produção de hidrogênio verde e o subsequente aproveitamento para a geração de energia elétrica seguem três tipos de potencial como subdivisões, onde o primeiro é o que considera condições perfeitas de uso do material e o último, a viabilidade econômica e mercadológica.

  • Potencial técnico: aproveitamento máximo dos recursos. Ele é obtido caso todo o recurso disponível fosse recuperado utilizando as mais eficientes tecnologias, sem admitir questões econômicas, de mercado e possíveis intempéries;
  • Potencial econômico: considera o uso das tecnologias de aproveitamento dos recursos (no caso do H₂V) que estejam de acordo com a viabilidade econômica da implantação. Para isso, investimentos em equipamentos, preços da venda de energia e acesso ao capital são analisados;
  • Potencial de mercado: para além de questões técnicas e econômicas, o interesse de investidores também é considerado. A viabilidade para o investimento, bem como a necessidade de adoção de outros recursos para obter a energia, são avaliadas.

“O H₂V, produzido somente a partir de fontes renováveis, pode ser chave para descarbonização da economia. O Ceará, sendo referência na geração de energia eólica e solar, desponta como peça chave para o Brasil ser referência na produção de H₂V.  Assim, poderemos garantir um processo limpo para reduzir as emissões de gás carbônico de diversos setores econômicos”, argumenta Constantino Frate.

Apesar dos números, falta ainda a regulamentação para o hidrogênio verde começar a ser produzido. O assunto é tratado em regime especial no Senado Federal, através da Comissão Especial para Debate de Políticas Públicas sobre Hidrogênio Verde (CEHV), presidida pelo senador cearense Cid Gomes.

A expectativa é de, nos próximos meses, colocar em vigor a legislação que autoriza a produção de H₂V em território brasileiro, com o Ceará sendo destaque nacional — e em todo mundo — por se consolidar como hub de geração do composto, como atenta o coordenador da Fiec.

Os investimentos estão em pleno desenvolvimento, conforme as previsões de execução dos projetos. A usina da Qair Brasil deverá entrar em operação até novembro de 2024, com planta inicial que terá capacidade instalada de 5 MW. Com uma capacidade total de 6 GW, as empresas Fortescue, AES e Casa dos Ventos terão projetos instalados até 2028. Os projetos possuem um fluxo de implantação que demanda a execução de algumas etapas de médio e longo prazo. (…) A regulamentação do hidrogênio verde é essencial para o País ser âncora de investimentos e que fique claro as regras que o País utilizará para os negócios.
Constantino Frate
Coordenador do Núcleo de Energia da FIEC

REGULAMENTAÇÃO TRAZ PREÇOS MAIS ACESSÍVEIS

Tamanho potencial de incremento na matriz energética deve fazer o H₂V ser a principal fonte de energia limpa e renovável do mundo, segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado do Ceará (SindiEnergia-CE), Luís Carlos Queiroz.

“Para se ter uma ideia, segundo estudo citado em levantamento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), há potencial para redução de até 60% do custo de produção do hidrogênio verde até 2030. (…) Para viabilizar a nova economia de hidrogênio no país e torná-lo uma realidade na matriz energética brasileira, vários ajustes ainda são necessários, desde a regulamentação, linhas de financiamento para projetos até soluções para armazenamento, transporte e infraestrutura dos portos”, enfatiza.

Diferentemente de outras fontes fósseis (que ainda correspondem a quase 15% de toda a energia elétrica consumida no Brasil), Luís Carlos Queiroz salienta que o processo de produção de hidrogênio verde zera a emissão de poluentes e é ainda mais eficaz do que as formas atualmente disponíveis, maximizando a eficiência energética.

“O hidrogênio verde não emite gases poluentes, seja para sua produção, seja para sua combustão. Além de gerar apenas vapores de água, trata-se de um composto com alta eficiência energética, uma vez que é altamente inflamável. Isso o torna mais vantajoso — do ponto de vista ambiental — do que fontes renováveis como solar e eólica. Dessa forma, o hidrogênio verde é sim uma grande aposta atual do setor de energia brasileiro, que hoje já é predominantemente renovável e caminha para uma totalidade”, conclui. 

HIDROGÊNIO VERDE NO CENTRO DAS DISCUSSÕES

O H₂V e as políticas de regulamentação serão motivo de discussões a partir desta quarta-feira (25) no FIEC SUMMIT 2023 Hidrogênio Verde. O evento ocorre até a quinta-feira (26) e tem inscrições gratuitas no site.

Como objetivo da programação, que contará com uma série de autoridades públicas e nomes importantes tanto do Brasil quanto do mundo que tratam do tema, está o fato de reunir organizações e pessoas do setor de hidrogênio verde para discutir sobre assuntos relacionados à produção de energias renováveis. As palestras acontecerão ao mesmo tempo em um único ambiente em formato híbrido (presencial e online). Haverá ainda uma exposição sobre H₂V aberta ao público.

Serviço FIEC SUMMIT 2023

  • Data: 25 e 26 de outubro;
  • Inscrições gratuitas;
  • Local: Centro de Eventos do Ceará — Av. Washington Soares, 999 — Edson Queiroz, Fortaleza.