Com aumento médio de mais de 20% nos últimos 12 meses, a carne tem sido cada vez menos consumida pelos brasileiros. Conforme levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) de outubro, o preço do quilo do alimento, em Fortaleza, ultrapassa R$ 40.
Um dos motivos para esse alto valor é a pouca oferta para o mercado interno, já que pelo menos 50% da produção é exportada para a China.
Contudo, há mais de dois meses o governo chinês impôs um embargo às compras da carne bovina brasileira após a detecção de dois casos atípicos da doença da "vaca louca", Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), no país.
A expectativa, portanto, seria de uma possível queda nos preços do produto, como vem acontecendo com algumas peças bovinas, conforme a última divulgação do IPCA, índice que mede a inflação. O músculo, por exemplo, sofreu retração de 0,31%, a pá, de 2,72% e o acém, de 2,89%.
Cargas certificadas
Nesta terça-feira (23), a Administração Geral de Alfândegas da China (GACC, na sigla em inglês) autorizou a importação das cargas certificadas até antes de 4 de setembro, dia do embargo. A retomada regular das vendas, no entanto, não foi liberada.
A informação foi confirmada pela ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, pelo Twitter e, segundo ela, continuam as negociações para a retomada das exportações.
Porém, os consumidores ainda experimentam os altos preços nos supermercados e frigoríficos. A que se deve isso e o que se pode esperar para as próximas semanas?
Produtores aguardam embargo ser derrubado
De acordo com o economista e presidente do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, o preço do atacado está começando a diminuir um pouco, mas a queda no varejo demora mais a chegar por conta de repasses, o que pode acontecer nas próximas semanas.
“Temos uma potencialidade de oferta maior, mas isso ainda não ocorreu de forma efetiva, porque parte dos produtores estão preferindo diminuir o abate dos seus animais. Outra parte, que já tinha feito o abate, está mantendo as carnes refrigeradas aguardando caso o embargo seja derrubado”.
Com a liberação desta terça, o economista também pondera que, caso seja um volume significativo, pode ser interessante para o produtor. "Isso ocorrendo tira um pouco da pressão a relação à manutenção deses animais".
Porém, com isso, o preço da carne deve se manter constante, mas em patamares elevados. "À medida que essa carne for exportada e o animal não ganhar mais peso, eles vão ter que abater e congelar essas carnes, e manter nos frigoríficos".
O analista de mercado da Centrais de Abastecimento do Ceará S/A (Ceasa-CE), Odálio Girão, acrescenta que o preço em São Paulo e no Paraná caiu pouco no atacado, mas nas outras regiões ainda não é possível observar uma retração.
“Com a redução do abate do boi, o prejuízo dos produtores cresce pelo gado ter de passar muito tempo confinado na pastagem, gerando custos para o pecuarista. O preço vai continuar alto para o brasileiro”, explica.
O que acontece se o embargo continuar?
Os especialistas explicam que, caso o embargo continue, os produtores terão de vender a carne que já está congelada ou abater os animais, pois dificilmente algum outro país conseguirá absorver a quantidade comprada pela China.
“Se esse embargo prolongar, os empresários vão ter de colocar essa carne no mercado interno gradativamente e essa queda, mesmo assim, vai demorar e seria algo em torno de 0,5% por exemplo, algo que o consumidor pode nem sentir”.
Contudo, caso o governo chinês retome as compras de imediato, aí os preços vão para patamares ainda mais elevados, conforme explica Girão. “Ainda com esse momento de final de ano, que é um período de grande consumo, podemos ter um aumento de 5 a 8% no preço da carne”.
Perspectivas a longo prazo
A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, esteve em reunião com o governo russo nesta semana em Moscou. Pelo Twitter, a ministra anunciou parceria com o mercado da Rússia para exportação de carne.
"O governo russo anunciou que abrirá uma cota de 300 mil toneladas de carne (200 mil toneladas de carne bovina e 100 mil toneladas de carne suína) com tarifa zero de importação por seis meses, mercado que pode ser utilizado pelo Brasil", escreveu.
Coimbra também explica que, com o embargo, a oferta maior nas próximas semanas pode impactar o preço das outras carnes, como a suína e o frango, promovendo uma estabilização dos valores que também estão em alta.