Por que a taxa de juros ainda não caiu: 'birra' ou cautela do Banco Central?

Alguns analistas acreditam que há razões para a taxa já ter caído, enquanto o Banco Central justifica que instabilidade nos EUA pode pressionar a inflação no Brasil

Que a taxa básica de juros, a Selic, foi mantida em 13,75% ao ano, você provavelmente já sabe. Mas por que ela segue nesse patamar alto? De acordo com dados do Banco Central, desde agosto do ano passado o Comitê de Política Monetária (Copom) não altera o percentual, que começou a subir em março de 2021. Entre as justificativas da autoridade monetária está a instabilidade nos Estados Unidos, que poderia pressionar a inflação no Brasil.

O economista Ricardo Coimbra detalha que essa instabilidade nos Estados Unidos está ocorrendo em função de algumas mudanças em bancos, além da elevação na taxa de juros do país norte-americano. “O Banco Central vê com preocupação a alta dos juros nos EUA e também vê problemas quanto à situação de alguns bancos nos EUA, como o Credit Suisse, o SVB e o Signature Bank”.

O estrategista-chefe da Warren Rena, Sérgio Goldenstein, sublinha a avaliação do Banco Central ao justificar a manutenção da taxa de que a "conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária". "Interpretamos isso como um recado do Copom de que há ainda trabalho a ser feito mediante a manutenção de uma política monetária restritiva e que não há espaço ainda para uma flexibilização".

 Ricardo Coimbra detalha, porém, que a manutenção de uma taxa elevada gera desemprego e encarece o crédito para as famílias e empresas, prejudicando a atividade econômica. “São os efeitos danosos dessa manutenção. Temos um juro real, que é quando é descontada a inflação, que é o mais alto do mundo, mesmo com as elevações nos EUA e na Europa”.

Considerando esses impactos e uma espécie de disparidade entre a Selic e o caminhar do índice de inflação, o economista acredita que a taxa já deveria ter passado por uma redução e que “está inviável um juro real em patamar tão elevado”. “Nós chegamos a esse patamar de 13,75% quando a inflação estava num patamar de 10%. Hoje, estamos em 4,65% (12 meses), então não faz sentido ter essa Selic com a inflação em um patamar mais baixo”.

“Parece mais uma birra por não querer acatar uma possibilidade de redução, sempre encontrando algum tipo de desculpa para que essa taxa não baixe”
Ricardo Coimbra
Economista

Expectativas para a próxima reunião

O economista lembra que, em breve, no mês de junho, haverá mais uma reunião do Copom para decidir se a taxa básica de juros será mantida ou se finalmente teremos um arrefecimento, o que deve sofrer a influência da aprovação do ajuste fiscal e da dissipação da nuvem pesada que tem pairado sobre a economia norte-americana.

“A aprovação do ajuste fiscal é esperada para a segunda metade do mês de maio, antes da reunião do Copom, então vamos ver se esse cenário em relação aos bancos norte-americanos se dissipa. Os indicadores recentes de IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) e o IPCA-15 já vieram abaixo do esperado pelo mercado, então acredito que na próxima reunião provavelmente não haverá mais argumentos que justifiquem a não-redução”, conclui Coimbra.

Sérgio Goldenstein concorda com o começo do ciclo de reduções após a próxima reunião, mas acredita que o cenário não é mais tão propício a essa mudança. 

"Seguimos, por enquanto, com o call de que começará em agosto (o ciclo de reduções), mas reconhecemos que essa probabilidade diminuiu. Por fim, esperamos um movimento de flattening (achatamento) da curva de juros na abertura do mercado, com pressão altista na parte curta e intermediária", arremata.