Na esteira de outras grandes varejistas que têm anunciado planos de reestruturação, a Via - detentora das marcas Ponto Frio e Casas Bahia - também tornou público o que eles chamaram de Plano de Transformação, que promete fechar entre 50 e 100 lojas até o fim do ano.
O lucro bruto da companhia caiu 10,9% no segundo trimestre deste ano, além de contabilizar um prejuízo líquido de R$ 492 milhões.
O plano de reestruturação iniciou ainda em março com o anúncio de substituição do então CEO Roberto Fulcherberguer por Renato Franklin, assim como a demissão de cerca de 240 funcionários de alto escalão.
O consultor de empresas e professor da Faculdade CDL, Christian Avesque, lembra que a Via tem registrado prejuízos consistentes há mais de oito meses, constância que motivou a reestruturação.
Ele pontua que a decisão do Grupo Pão de Açúcar (GPA) em descontinuar a marca Extra, anunciada em 2022, também mexeu nos números da empresa, tendo em vista que as companhias possuíam parceria nessa operação.
Dessa forma, restaram à Via o Ponto Frio, rede consolidada no Sul e Sudeste, e a Casas Bahia, que possui maior capilaridade, mas apresenta muitos problemas na atuação digital.
"Houve uma expansão da marca Ponto Frio para competir com Americanas, Fast, mas ela nunca conseguiu decolar nacionalmente em vendas. E o varejo como um todo, desde o problema da Americanas, não vem conseguindo deslanchar", pontua Avesque.
O alto endividamento das famílias, que freia o consumo, e as taxas de juros altas para as empresas renovarem estoque, estão prejudicando fortemente as varejistas do segmento de eletroeletrônicos.
"Além disso, a Amazon e os operadores asiáticos entraram com muita força no Brasil, fazendo com que o setor perdesse faturamento", aponta.
O que pode mudar
Para o especialista, o plano de reestruturação da Via deve ter três focos principais. O primeiro é a ênfase na área financeira, buscando um reequilíbrio através do fechamento de lojas que são ineficientes. Nesse ponto, ele aposta que as lojas do Ponto Frio devem ser os alvos.
As lojas Casas Bahia também devem ser afetadas, principalmente tendo em vista que muitas delas possuem imóveis próprios, possibilitando a venda dos mesmos e a geração de caixa.
Avesque também acredita que cerca de 20% a 30% do quadro de colaboradores da empresa devem ser demitido. Segundo ele, essa é a estimativa do volume de desligamentos de toda grande empresa que passa por uma reestruturação.
Como o Ceará deve ser impactado
Procurada para detalhar se e quais lojas localizadas no Ceará estão previstas para serem fechadas, a assessoria de imprensa da Via, por meio de nota, ressaltou que "o fechamento de lojas é uma das medidas de reestruturação organizacional anunciadas ao mercado nesta sexta-feira" e que "ainda é cedo para informar de quais regiões elas são".
A nota reitera que ao menos mais 50 unidades poderão ser encerradas até o fim do ano, dependendo dos resultados apresentados pelas mesmas. "Essa reavaliação do portfólio de lojas busca melhorar a operação, reduzir custos fixos e preparar a companhia para um futuro de crescimento", acrescenta o texto.
A rede Casas Bahia possui 32 lojas em todo o Ceará.
"Também deve haver um forte investimento em logística, ponto que sempre foi um problema para a Casas Bahia e que outras empresas concorrentes não têm. A compra pela internet tem dois pilares: tempo e assertividade, ou seja, a entrega rápida e o item correto, da cor e modelo que foi adquirido", aposta Avesque.
Mudanças na estrutura do site da Casas Bahia também deve ser necessária, uma vez que o endereço eletrônico ainda é considerado pouco intuitivo e denso.
Fortalecimento do crédito
O terceiro foco da reestruturação será o fortalecimento da oferta de crédito. A Casas Bahia é uma das pioneiras na concessão para consumidores de baixa renda, inclusive desbancarizados.
A marca Casas Bahia é conhecida por dar crédito às classes C e D. Eles começaram a marca lá atrás e viram a oportunidade de vender para o pobre, nordestino, que não tinha banco. Então, lançaram o crediário. Mesmo que fosse com uma taxa de 22% ao mês, o trabalhador que não tinha conta bancária utilizava, porque era a única alternativa".
Fato relevante da Via publicado na última sexta-feira (10) prevê mudanças na estrutura do crediário da marca. Segundo o texto, a carteira de crediário é atualmente financiada "por bancos e operações de CDCI (Crédito Direto ao Consumidor com Interveniência), de forma que as instituições financeiras antecipam o fluxo de pagamentos do crédito feito ao consumidor final". Isso implica na utilização do limite de crédito da empresa com estas instituições financeiras.
Agora, o crediário será financiado, principalmente, "no mercado de capitais, de forma direta e segregada, por meio da constituição de fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC) e cessão da carteira de crediário ao FIDC".
Conforme o comunicado, a "medida possibilitará a liberação de limite de crédito da Companhia relacionados ao CDCI perante as instituições financeiras, em um montante que pode potencialmente superar R$ 5 bilhões, viabilizando o aumento da penetração e rentabilização do produto de crediário da Companhia".