Apesar das últimas quedas, a bolsa de valores brasileira deve voltar a subir no ano que vem. A opinião de analistas de investimentos é que o mercado de ações está atrativo para entrada, mas o investidor também deve ser criterioso no momento da escolha das empresas.
O mercado de ações derreteu em março de 2020, com a chegada da pandemia, mas o Ibovespa teve certa recuperação até junho deste ano. Desde então, o índice está em trajetória de queda, com variação negativa de 10,66% nos últimos 12 meses.
O movimento de queda na bolsa atingiu até mesmo empresas já consolidadas, normalmente “queridinhas” dos gestores de fundos de ações. Mas, mesmo com a queda no valor das ações, não houve queda justificável nos lucros e faturamentos.
“Algumas empresas relevantes na bolsa, queridas pelos grandes gestores, chegaram a cair 50% sem que houvesse um balanço que pudesse justificar essas quedas. A gente vai virar o ano com uma bolsa muito barata”, espera o economista e sócio da BRA, João Beck.
A pandemia no mercado de ações
Incerteza é a palavra-chave que pode fazer o mercado de ações despencar. E esse foi o sentimento de todo o mundo logo que estourou a pandemia, em março do ano passado.
Naquele momento, os preços de ações despencaram. Quem aproveitou o momento de debandada para entrar na bolsa conseguiu lucros ao longo do ano, quando os preços voltaram aos patamares normais.
Mas, desde junho, o Ibovespa voltou a ter uma trajetória de queda, motivada por uma mudança na percepção de riscos e pela alta na taxa de juros. A Selic chegou à mínima histórica em 2020, em 2% ao ano, e fecha 2021 a 9,25%.
Conforme o responsável pela área de análise da Warren, Fred Nobre, a alta de juros além de aumentar a atratividade da renda fixa, prejudica as empresas pelo maior custo do crédito.
Empresas com custos mais elevados nem sempre conseguem repassar para os consumidores. Também tem a questão do orçamento de 2022, a trajetória das contas públicas define muito a previsão de como o Brasil vai crescer de forma estrutural
Beck acrescenta que grande parte dos investidores da bolsa são novatos – no ano passado, a B3 conquistou 1,5 milhão de novas contas cadastradas – e que, portanto, não são acostumados com o cenário de taxa de juros alta, o que explica a saída em massa.
“As pessoas ficam mais assustadas e atenta ao risco e tendem a sair de uma forma mais acentuada, com essa corrida para a renda fixa”, diz.
Bolsa em 2022
Volatilidade não é nenhuma novidade para quem investe no mercado de ações, mas o investidor deve ter cautela no ano que vem diante do cenário incerto de eleições.
Fred afirma que, nesse momento, a escolha setorial de onde investir é importante. Segundo ele, sempre há oportunidades na bolsa.
“A tendência é que a gente continue com dólar alto, é normal que se priorize empresas de commodities porque as matérias-primas seguem lógica de mercado internacional. Se os juros começarem a cair em algum momento é possível que haja uma recuperação mais forte”, prevê.
João Beck é otimista quanto a uma alta na bolsa, principalmente considerando que os preços hoje estão abaixo do normalmente praticado.
Dá para esperar alta. A bolsa está muito barata, muitas empresas vão pagar bons dividendos, continuam sendo pagos só que sobre uma base muito menor porque as ações estão baixas. As eleições podem ter algo relativamente tranquilo porque os candidatos já são conhecidos. Não precisamos de boas notícias, só precisamos de uma ausência de notícias ruins
Onde investir?
Algumas empresas já consolidadas estão com preços descontados e, segundo Beck, esse é um bom momento de entrada. Ele traz como exemplo Vale (VALE3), Petrobras (PETR4), Natura (NTCO3), Magazine Luiza (MGLU3) e Renner (LREN3).
Fred Nobre recomenda que o investidor entre em setores menos agressivos, como energia, materiais básicos e utilidade pública, menos prejudicados. Em contraponto, outros setores tiveram queda e dependem de uma redução da Selic para deslanchar.
“Com a alta de juros, os setores mais prejudicados são os que têm fluxo de caixa lá na frente, como tecnologia e saúde, ou que acabam sendo impactados, como setor imobiliário, porque fica mais difícil financiar imóvel”, exemplifica.
Ele indica que o investidor deve sempre buscar entender o que as empresas fazem e diversificar na hora de investir, não colocando todos os recursos em um canto apenas. “A bolsa tem que ser sempre um veículo para o investidor de longo prazo, ganhar dinheiro no curto prazo é mais improvável”, recomenda.
João Beck aponta que o investidor deve buscar empresas grandes, com lucro recorrente, marcas fortes e, sobretudo, empresas que sempre foram muito caras na bolsa e que agora oferecem alguma oportunidade.
“Para a pessoa que é um pouco mais afastada e que não quer dedicar tanto tempo a essa atividade, é interessante optar por um fundo de ações que tem um gestor profissional que seleciona aquelas que ele entende que oferecem a melhor opção de retorno”, acrescenta.