Após despencar mais de 46% no ano quando, em 23 de março, atingiu seu valor mais baixo desde agosto de 2017, o Ibovespa já reagiu com uma alta de mais de 25% desde então. A expressiva valorização do principal índice da Bolsa de Valores brasileira, em pouco mais de duas semanas, acompanhou o movimento dos principais mercados mundiais, como a bolsa americana que, no mesmo período, também subiu mais de 25%.
Mesmo com essa recuperação, tanto o Ibovespa como o S&P 500 (principal índice norte-americano) ainda acumulam quedas de 34% e de 14% no ano, respectivamente.
A melhora dos índices de disseminação do novo coronavírus na Ásia e na Europa, além de pacotes de estímulos econômicos anunciados por vários países, em particular pelos Estados Unidos, vêm contribuindo para a recuperação dos mercados.
Porém, ainda é cedo para dizer que o pior já ficou para trás. A continuidade desse movimento dependerá, em parte, dos resultados das empresas referentes ao primeiro trimestre, que já trarão parte dos impactos da redução da atividade econômica em diversos setores.
"A pandemia parece ter chegado ao fim na China, que já iniciou o processo de retorno das suas atividades. Há uma tendência de redução de casos em alguns países da Europa, mostrando uma perspectiva de melhora", diz o economista Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE).
"Se os indicadores de saúde e de interferência do Estado na atividade econômica se mantiverem nas próximas semanas, aí a gente deve ter um cenário mais alentador. Na medida em que esse cenário seja mais visível para os investidores, esse processo de recuperação deverá ser mais consistente", avalia.
Coimbra lembra ainda que, além do novo coronavírus, outros fatores geopolíticos têm influenciado os mercados mundiais nos últimos meses, como as discussões sobre a produção de petróleo envolvendo Estados Unidos, Rússia e Arábia Saudita. E essa disputa também afeta outros países produtores da commodity, como o Brasil.
"Na semana passada, houve um pré-acordo de redução da produção de mais ou menos 10 milhões de barris por dia. E isso acaba gerando uma estabilidade dos preços que se depreciaram muito neste ano, gerando uma perspectiva de reestruturação da produção".
Volatilidade
Para o economista Ricardo Eleutério, professor de mercado de capitais da Universidade de Fortaleza e conselheiro do Corecon-CE, as recentes reações nos mercado se devem, dentre outros fatores, à alta volatilidade. "É normal que depois de um período de queda acentuada, haja correções desse exagero, o que também acontece com o mercado de câmbio", ele diz, lembrando que o mercado antecipou os impactos negativos da paralisação da atividade econômica e deverá antecipar também a retomada das atividades.
"O mercado acionário precifica o futuro e, agora, começam a sair os balanços das empresas no Brasil e no mundo. E eles já vão capturar o derretimento da economia em março. Mas uma ação coordenada de bancos centrais, com a redução de taxas de juros, faz com que o mercado acionário reaja positivamente", aponta.
O economista prevê que o mercado ainda permanecerá instável nos próximos meses. "Vamos ter muitos movimentos pressionando a Bolsa para cima e para baixo, porque devemos ter ao longo deste percurso muitos percalços em todos os mercados, como Bolsa, câmbio, juros, petróleo".