Em harmonia com a transição energética mundial, o Ceará já possui mais da metade de sua energia produzida por fontes renováveis. Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), as fontes eólica e solar juntas representam 58% da matriz local.
Pioneiro em energia eólica no País, o Ceará tem essa fonte como a líder de potência instalada, com 48,32% da matriz. Conforme a agência reguladora, 102 projetos somam 2,48 GW de potência fiscalizada de um total de 5,14 GW.
Já a energia solar fotovoltaica ainda registra cerca de 498 MW de potência em 88 usinas, totalizando 9,68% de participação na energia produzida localmente.
Fora da esfera das fontes renováveis, o Ceará também conta com uma forte representatividade das usinas termelétricas: 37 empreendimentos agregam 2,14 GW à matriz cearense.
A Aneel ainda indica três pequenos projetos de hidrelétricas no Estado, que representam apenas 1,2 MW e 0,02% do total instalado, e uma iniciativa de usina undi-elétrica, que utiliza a força das ondas para a geração de energia elétrica.
Com um consumo de cerca de 2 GW, o Ceará exporta para os demais estados brasileiros o excedente de energia produzido.
Ascensão das renováveis
Apesar de gerar quase metade da energia produzida no Estado, a matriz eólica alcançou a liderança apenas alguns anos.
Segundo o diretor de geração centralizada do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado do Ceará (Sindienergia), Luiz Eduardo Moraes, até cerca de três anos atrás as térmicas ainda dominavam a matriz.
Isso porque as usinas dessa fonte já estavam instaladas e em operação há muitos anos antes da ascensão da energia eólica. Apesar disso, a energia gerada a partir dos ventos deve abrir uma larga vantagem nos próximos anos, assim como a solar.
Crescimento previsto
Apesar de possuir cerca de 5,14 GW de potência fiscalizada, o Ceará possui 7,77 GW outorgados. Isso significa que outros 2,6 GW autorizados a operar. Moraes detalha que esses projetos podem estar em construção ou aguardando aprovação em leilões, por exemplo.
A energia solar é a fonte com a maior capacidade outorgada para ser implantada: quase 2,5 GW. Caso integralmente concretizados, esses projetos seriam suficientes para ultrapassar os atuais resultados da energia eólica e térmica.
Na energia eólica, a Aneel já autorizou outros 137,4 MW a serem implantados, que já devem estar em construção, conforme Moraes.
Apesar do potencial outorgado menor que o da energia fotovoltaica, expectativa de crescimento de ambos é parecido para os próximos anos, especialmente com a recente regulamentação da geração eólica offshore (no mar).
O diretor do Sindienergia lembra que o Ceará já possui sete projetos em processo de licenciamento no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que somam 17 GW de potência.
"São turbinas muito maiores que mais do que triplicam a capacidade de todas as fontes que temos hoje. O offshore também alavanca o hidrogênio verde, que já possui 14 protocolos assinados e vão demandar cerca de 12 GW", ressalta.
Também regulada recentemente, a geração híbrida é outra forte aposta par os próximos anos, segundo Moraes. No caso do Ceará, os projetos se constituirão mix das fontes solar e eólica nas mesmas usinas, gerando uma complementariedade.
Ele explica que, por serem fontes intermitentes, ou seja, as placas fotovoltaicas não produzem energia durante a noite e a geração eólica é mais forte exatamente no período noturno.
"Praticamente já encerra essa intermitência pela complementariedade. Então, devemos ter vários projetos de fonte híbrida despontando", afirma.
Energia de base
Até que as baterias atinjam um patamar compatível com a comercialização massiva e encerre de vez as lacunas que as energias renováveis deixam, o Brasil precisará de fontes de base, como as térmicas.
Apesar de não constar na potência outorgada, o Ceará deve ganhar uma nova térmelétrica à gás natural de 1,5 GW.
Ainda que o hub de gás natural que deve se desenvolver no Estado a partir desse empreendimento atraia novas usinas, Moraes pontua que a fonte ainda não deve crescer na mesma propulsão que as renováveis.