Leilão de energias renováveis fecha 51 projetos por R$ 4 bilhões; Ceará fica de fora

Apesar da ausência de propostas contempladas, especialistas ressaltam que Estado não perdeu protagonismo

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) realizou nesta quinta-feira (8) os Leilões de Energia Nova A-3/2021 e A-4/2021, os primeiros do tipo desde o início da pandemia. Ao todo, 51 projetos foram contratados por R$ 4 bilhões.

Protagonista em energias renováveis, o Ceará ficou de fora dos 984,7 MW de potência contratada nos leilões. Apesar da falta de projetos contemplados, especialistas apontam que o Estado mantém a posição de destaque.

Adão Linhares, secretário executivo de energia da Secretaria da Infraestrutura do Ceará (Seinfra), explica que já havia um portfólio de mais de 50 GW prontos esperando para ir a leilão. Como a capacidade de contratação das distribuidoras está baixo, venceram esses projetos que previam apenas a extensão de usinas já existentes.

"Por conta da proximidade, de já haver conexão, sai mais barato do que fazer um projeto novo. Então venceram aqueles que faziam um aproveitamento de projetos pré-existentes, com ampliações próximas", esclarece.

Tendo isso em vista, a falta de projetos contemplados no Ceará demonstra apenas que as propostas enviadas eram para usinas novas e com maior capacidade de geração.

Confira os projetos contratados:

Leilão A-3/2021

 

Nº de Projetos

Estados

Investimentos

Capacidade

Deságio

Hidrelétricas

3

RS

R$ 242,7 milhões

35,250 MW

24,89%

Eólicas

23

BA, RN

R$ 1,02 bilhão

251,700 MW

24,96%

Solar

5

PE, PB

R$ 618,8 milhões

169,3 MW

36,60%

Biomassa

2

PR, SP

R$ 314,0 milhões

91,140 MW

39,51%

Leilão A-4/2021

 

Nº de Projetos

Estados

Investimentos

Capacidade

Deságio

Hidrelétricas

3

RS, MT

R$ 515,4 milhões

77,018 MW

29,03%

Eólicas

10

RN, BA

R$ 750,2 milhões

167,8 MW

23,89%

Solar

2

PB

R$ 289,3 milhões

100 MW

31,16%

Biomassa

3

GO, MS, SP

R$ 296,7 milhões

92,5 MW

32,87%

Distribuidoras sobrecontratadas

Linhares pontua que a potência contratada nos leilões foi baixa por conta da sobrecontratação das distribuidoras, ou seja, há mais energia contratada do que a demanda. Dessa forma, os projetos cearenses voltarão aos holofotes no momento que as distribuidoras puderem realizar maiores contratações.

"Apesar da gente estar em uma crise, as concessionárias estão sobrecontratadas. Há um desequilíbrio entre o que está sendo gerado e a contratação que foi feita. No papel, os contratos preveem mais energia do que a demanda, mas na prática essa energia não foi gerada", detalha o secretário.

Os projetos leiloados, entre hidrelétricas, eólicas, solares e de biomassa, nesta quinta-feira terão contratos de duração de 20 a 30 anos e devem começar a fornecer energia para o sistema em janeiro de 2024 ou janeiro de 2025.

Mercado Livre

O fundador da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) e presidente do conselho da cearense Servtec, Lauto Fiuza, pontua que a expectativa para os leilões em questão já era baixa, tendo em vista a capacidade disponibilizada e o valor da contratação.

Ele ressalta que está havendo um redirecionamento do fornecimento de energia para o mercado livre, no qual as empresas compram energia diretamente das geradoras, sem passar pelo crivo do Governo. Esse novo segmento estaria sendo mais atrativo pelo valor de venda do MW.

"As distribuidoras estão com apetite reduzido para assumir riscos. A nossa empresa, por exemplo, tem 1,5 GW em distribuída e 2,5 GW em concentrada, tudo no mercado livre. Então, não dá pra ficar perdendo tempo com esses leilões pequenos", dispara.

Fiuza detalha que os leilões estão sendo utilizados pelas geradoras apenas como uma garantia de conexão. "Eles entram no leilão com um projeto que é apenas 30% da capacidade total para garantir a conexão e vai vender o resto no mercado livre por valores duas ou três vezes maior", acrescenta.