Gigantes de crédito miram em pequenos negócios

Uso do cartão de crédito avançou 6,57%, nos últimos dois anos, no Estado. Popularização de uso de maquinetas por pequenos empreendedores impulsionam resultado, avaliam especialistas

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O número de operações de cartão de crédito no Ceará avançou nos últimos dois anos, conforme apontam dados do Banco Central (BC). Frente às facilidades oferecidas a consumidores e lojistas para o uso da ferramenta, gigantes de crédito miram os pequenos empreendedores para ampliar sua fatia no mercado e oferecem serviços diferenciados para competir em meio ao crescimento dos serviços digitais.

No acumulado de janeiro a julho de 2019, foram realizadas 499.745 mil operações com cartões de crédito no Estado, 2,64% a mais que em igual período de 2018 (486.886) e 6,57% superior ao dos sete primeiros meses de 2017 (468.933).

O economista Henrique Marinho avalia que a evolução tecnológica facilitou o acesso à obtenção de máquina de cartão por empresários menores. "Antes, era algo bem restrito a grandes empresas ter maiores condições de crédito, mas agora as administradoras estão oferecendo isso a pequenos empreendedores", afirma.

Em meio à concorrência, as administradoras e emissoras de cartão passaram a oferecer taxas menores e menos exigências para o uso da ferramenta. "A disputa para ter mais clientes fez com que elas diminuíssem as taxas. Os empreendedores não querem dificuldade, até porque os bancos digitais oferecem mais facilidade e as gigantes não querem perder espaço", explica Marinho.

Outro fator que explica esse crescimento é a populariza-ção do uso das maquinetas por empresas de pequeno e médio porte, conforme aponta Cláudio Gonçalves, diretor do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE). "É muito comum você ver o empreendedor que vende churrasquinho na esquina e oferecendo a maquineta para pagamento no crédito ou débito. Muitos autônomos também já estão investindo nisso. Com certeza, é um modelo de pagamento que tem crescido muito e vai aumentar mais ainda, já que uma parcela da população, principalmente do interior, ainda não usa tanto", salienta.

Oportunidades

Foi através da formalização como Microempreendedora Individual (MEI), que a empresária Adriana Cavalcante conseguiu alugar máquinas de cartão para seu negócio. Há sete anos, ela decidiu investir na área de alimentação, comercializando tapiocas, cafés e sucos. Com uma bicicleta, ela circula entre os bairros Joaquim Távora e Dionísio Torres, principais pontos de venda, oferecendo seus produtos.

"Quando eu aceitava só o dinheiro como forma de pagamento, recebia várias reclamações de clientes pedindo para vender no cartão, principalmente no fim do mês, que é quando o bolso das pessoas está mais apertado", afirma.

Com a maquineta, Adriana teve um aumento de 50% nas vendas. "Impactou demais no faturamento do meu negócio. Hoje, eu vendo cerca de 100 tapiocas por dia, fora os pedidos de encomenda", aponta.

Com o número do CPF, ela vê todas as transações pelo aplicativo. "Como sou correntista, teve uma facilidade porque o dinheiro da venda cai diretamente na minha conta. No pagamento em crédito, eu acrescento R$ 0,50 centavos por causa das taxas", explica.

Praticidade

Para o diretor-executivo da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) Ricardo Vieira, o cartão oferece mais segurança e conveniência tanto para os clientes como para os lojistas. "Nos últimos anos, as novas tecnologias, a inclusão financeira e a chegada dos cartões a novos segmentos, como profissionais autônomos, taxistas, entre outros, estimularam ainda mais o crescimento", aponta.

Vieira avalia que as empresas estão migrando para ferramentas digitais para suprir as necessidades do mercado. "Em geral, muitos setores da economia já incorporaram os meios eletrônicos de pagamento ao seu dia a dia e contam com as soluções mais inovadoras do mercado. Muitos já nascem com essa natureza de pagamento digital, como é o caso do universo do e-commerce e dos serviços vinculados a aplicativos", pondera.

Há três anos, a empreendedora Luana Gonzaga começou a vender doces gourmets pelas redes sociais. Nessa época, só havia uma opção de pagamento: a transferência bancária. Mas essa alternativa não atraía muito o público-alvo da empresa. "Não é todo mundo que tem dinheiro na hora pra fazer uma festa inteira, só transferindo o dinheiro. Eu vendia mais em épocas sazonais, como Páscoa e Dia dos Pais", relembra.

No ano passado, ela comprou a maquineta para oferecer novas opções de pagamento. "Na época, comecei a oferecer pacotes completos de doces para festas de aniversários e eventos. Vi a necessidade de ter a maquininha. Antes, era difícil de ter, porque tinha que ir ao banco e ter um CNPJ", diz.

Com a nova ferramenta, as vendas tiveram um salto significativo. "Eu consegui montar a loja física. Isso aumentou o tíquete médio de vendas, pois além de ter mais clientes, nós passamos a revender produtos para fornecedores", diz Gonzaga.

Uso consciente

O economista Henrique Marinho pondera que, para o empreendedor, é preciso ter cuidado na hora de analisar as condições e vantagens das maquinetas. "É uma concorrência tão grande que, muitas vezes, o empreendedor não compara as taxas de administração e juros. Além disso, muitas dão crédito alto para que haja desconto no faturamento, então é preciso ter cuidado", alerta.