Um relatório da Associação de Transporte Aéreo da América Latina e do Caribe (Alta) e da Amadeus, empresa que fornece soluções para a indústria de viagens, reconhece o Aeroporto Internacional de Fortaleza como bom exemplo de centro de conexões. De acordo com o estudo, foram avaliados 31 aeroportos de oito países na América Latina (México, Panamá, Colômbia, Peru, Bolívia, Chile, Brasil e Argentina). No Brasil, o documento analisou os terminais de Guarulhos e Congonhas (São Paulo), Galeão (Rio de Janeiro), Campinas, Confins (Belo Horizonte), Brasília e Fortaleza. Para compor o índice de competitividade, as entidades consideraram os pilares infraestrutura, tecnologia, facilitação, impostos e taxas, libera-lização e propensão a viajar.
“Outro bom exemplo é o hub de Fortaleza, no Brasil, que conseguiu conectar o País sem depender de um único ponto. Fortaleza atraiu um milhão de passageiros adicionais em apenas um ano graças a esse processo”. Entre os aeroportos avaliados no quesito infraestrutura – único pilar em que as notas foram divulgadas por cidade –, o terminal da Capital obteve nota 68 de um total de 100 pontos. O desempenho o coloca na frente de Guarulhos (61), Brasília (38), Congonhas (21) e Confins (45), e atrás apenas do Galeão (96) e de Campinas (70).
“A infraestrutura é essencial quando falamos de competitividade, pois permite que o tráfego de passageiros e de voos cresça; razão pela qual foi o primeiro elemento analisado e ao qual atribuímos um dos maiores pesos”, aponta o relatório.
Em Fortaleza, o Aeroporto passa por obras de ampliação que colocarão a cidade em outro patamar de competitividade. Além disso, o movimento de passageiros passou de 4,9 milhões (de maio de 2017 a abril de 2018 – antes do hub da Air France/KLM e Gol) para 5,9 milhões (de maio de 2018 a abril de 2019, após a instalação do hub e da expansão das operações da Latam), segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
“O investimento que a Fraport está fazendo em Fortaleza melhorará bastante as condições da infraestrutura do aeroporto, pois praticamente dobrará a capacidade do terminal. Quando a expansão for inaugurada, acreditamos que será suficiente para acomodar a demanda da próxima década, quando o número anual de passageiros deverá atingir 16 milhões”, analisa Luis Felipe de Oliveira, diretor-executivo e CEO da Alta.
Ele aponta que os resultados de Fortaleza já começam a ser notados. “No primeiro semestre de 2019, o Aeroporto de Fortaleza recebeu 99% de passageiros estrangeiros adicionais, o maior aumento entre os estados brasileiros. Isso coloca o Ceará como a maior porta de entrada de turistas estrangeiros no Nordeste, confirmando que Fortaleza goza de posição estratégica privilegiada e muito competitiva para continuar se desenvolvendo como um polo regional”.
Fatores
“Foi fundamental para Fortaleza a privatização, que trouxe uma gestão mais antenada com os ditames de mercado. Havia uma demanda latente a partir do Nordeste para o exterior. A Latam sinalizou que queria fazer esse hub há algum tempo, o que atraiu o interesse de investidores e companhias aéreas. A Gol correu na frente e conseguiu instaurar o seu hub com a parceira”, avalia Alessandro Oliveira, pesquisador do Núcleo de Economia do Transporte Aéreo do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (Nectar-ITA).
Para Cláudio Jorge, professor do ITA, a capacidade de Fortaleza realizar diversas conexões, tanto domésticas quanto internacionais, é um diferencial. Ele cita ainda a infraestrutura aeroportuária que melhorou no último ano. “A facilidade que o transporte aéreo está proporcionando, inclusive, com ligações para o exterior e vice-versa, não deixa de ser uma repercussão positiva. Essa parte do transporte aéreo depende muito da economia. Você tem em Fortaleza infraestrutura e um aeroporto que é considerado hoje um dos melhores, apesar da recém-ampliação”.
Concorrência
A inclusão de Fortaleza no rol de aeroportos com um centro de conexão no Brasil acirrou a concorrência entre cidades nordestinas de grande potencial, Recife e Salvador, além da disputa de fatia de mercado pelas maiores companhias aéreas do País.
Alessandro Oliveira relembra que Latam e Gol brigam na Capital, enquanto a Azul escolheu Recife para o seu hub regional. “O fato da Azul ter fechado com Recife também acirrou a concorrência com os dois aeroportos, e Fortaleza está em vantagem competitiva porque o aeroporto foi privatizado primeiro. As duas cidades são pujantes no turismo, mas isso não é um mero detalhe, já que a Latam já tinha sinalizado um hub no Nordeste. Isso atrai atenção”.
Ele diz ainda que a Latam busca atualmente retomar a liderança no mercado doméstico e no corporativo, e que isso é importante para Fortaleza como centro de conexão. “A Latam está correndo atrás, porque o processo de fusão começou em 2012 e foi um processo não necessariamente de tomada de decisão rápida. Levou um tempo e agora ela já está anunciando investimentos para tentar recuperar o cliente corporativo que ela está perdendo para Azul e Gol".
Para Cláudio Jorge, é evidente que a Capital tem ganhado destaque nacional tanto no segmento turístico quanto no de negócios. “Fortaleza também está agregando muito essa parte de serviços, comunicação, tecnologia da informação, energia, indústria. Isso gera viagens e a cidade pode unir as duas coisas, turismo e negócios, o que está atraindo executivos e profissionais. A tendência é que, dentre as cidades do Nordeste, ela seja uma das que vai ter um desenvolvimento mais forte do que suas coirmãs, como Recife e Salvador”, avalia.