Depois de bater recorde no ano passado ao ultrapassar pela primeira vez a marca de 7 milhões de embarques e desembarques no ano, o Aeroporto Internacional de Fortaleza deve encerrar 2020 com cerca de 45% desse número. É o reflexo do choque da pandemia do novo coronavírus, que chegou a levar a movimentação a quase zero nos primeiros meses de quarentena.
Segundo a diretora comercial e de Operações da Fraport Brasil, Sabine Trenk, a movimentação só deverá retomar o patamar observado no ano passado em 2024. A projeção não é nada fácil e está sujeita a fatores como nível de renda da população, segurança sanitária, medidas internacionais de contenção da pandemia e saúde financeira das companhias aéreas, entre outros.
“É muito difícil, não temos uma bola de cristal. Estamos olhando as projeções dos órgãos internacionais, como a Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo), das companhias aéreas, da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Porém estamos em um caminho difícil e não esperamos chegar a níveis do ano anterior até 2024”, destaca.
Entre janeiro e outubro de 2020, passaram pelo terminal 2,41 milhões de passageiros – o pior resultado para o período desde 2005, quando foram registrados 1,96 milhão de embarques e desembarques, segundo dados da Anac. Em abril, primeiro mês completo de quarentena no Ceará, a movimentação despencou 96,1%.
Desde então, o fluxo de passageiros tem crescido mês a mês, mas ainda é muito abaixo de níveis normais – em outubro, a queda da movimentação recuou a 54,6% ante igual mês do ano passado.
Em 2019, o aeroporto vivia a consolidação dos investimentos realizados pela Fraport na infraestrutura do terminal – cuja expansão foi concluída em março, logo no início da pandemia – e também do centro de conexões da Gol com o grupo Air France-KLM, instalado um ano antes e em plena expansão. O investimento catapultou o fluxo internacional de passageiros e ajudou a tornar Fortaleza a terceira principal porta de entrada de europeus no País.
Fluxo doméstico
Com a segunda onda de contaminação em curso na Europa, as perspectivas para recuperação do tráfego internacional ainda estão distantes. O alento tem sido, por enquanto, a movimentação interna. “Felizmente, existe bastante demanda do tráfego doméstico no Brasil. Estamos entrando agora no verão, de tráfego alto, esperamos que isso também vá trazer mais fluxo nas próximas semanas e meses. Mas, obviamente, também ficamos impactados com a situação fora do Brasil”, destaca a diretora da Fraport Brasil.
Na opinião de Alessandro Oliveira, coordenador do Núcleo de Economia do Transporte Aéreo do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a perspectiva apresentada pela Fraport é realista. “O que pega são as questões econômicas, relacionadas à renda média da população. Depende sempre muito da retomada para que a renda per capita não fique tão estagnada ou volte a crescer. E o consumidor ainda vai estar muito tempo cauteloso com relação a viagens”, prevê.
Com essa perspectiva, ele avalia que a Capital precisa se fortalecer no turismo nacional para poder conter parte das perdas. “Os que não se prepararem para uma crise de médio, longo prazo, podem ficar no meio do caminho. O tráfego internacional ainda vai demorar. Fortaleza tem que se aproveitar do seu potencial de geração turística interna”, reforça Oliveira.
A saída também é apontada pelo professor Cláudio Jorge Alves, do Departamento de Transporte Aéreo do ITA. “Estou bem otimista com a recuperação do fluxo de passageiros. Acredito que depois que a vacina estiver mais disseminada, somado à vontade das pessoas de viajar, haverá uma recuperação muito rápida e forte”, aponta ele, destacando que “em quatro ou cinco meses”, o mercado aéreo deverá experimentar uma “explosão” de demanda.
Perspectiva
Apesar das dificuldades para recuperar o nível do tráfego internacional, Trenk aponta que as bases que tornam o Aeroporto de Fortaleza atrativo para a operação de um hub permanecem. “O aeroporto tem uma grande vantagem que é a conexão com os Estados Unidos e a Europa. Essa localização geográfica é um ponto muito importante e temos bastante demanda. As empresas que já estão desenvolvendo o hub prestam a conexão dos passageiros de Fortaleza a qualquer destino no Brasil, e esse é um aspecto que uma crise como a que vemos não está mudando. Se voltamos ao normal, essa situação do hub fica igual como antes”.
Volta do turismo: Gol retoma operação do hub de Fortaleza em outubro
Apesar das dificuldades, que ainda devem se estender por alguns anos, a executiva prevê que o hub voltará a crescer. “Estamos absolutamente convencidos de que, no futuro, com uma recuperação do tráfego, esse hub vai crescer e temos também indicações de que com uma normalização da situação, as companhias aéreas vão retomar projetos de novos destinos. Estamos absolutamente certos”, crava.
Imobiliário
Outra frente trabalhada pela Fraport é o desenvolvimento imobiliário das áreas adjacentes ao Aeroporto, a partir do conceito de Airport city. A ideia é depender menos das variações dos fluxos de passageiros com o desenvolvimento de uma cadeia de comércio e serviços na região, voltados não apenas à aviação, mas a todo o público que frequenta e reside na região.
O primeiro passo desse plano foi tomado com o RFP (Request for proposal, ou requerimento de propostas) para construção e operação de um hotel ao lado do terminal de passageiros. A Fraport recebeu até ontem (25) a manifestação de interessados em tocar o projeto, que têm até 15 de janeiro para apresentar uma proposta. Se tudo correr conforme previsto, o vencedor deve ser anunciado entre fevereiro e março.
As demais áreas, que incluem lotes e edifícios nas proximidades das Avenidas Carlos Jereissati, Borges de Melo e BR-116, estão disponíveis para novos projetos. “À parte desse projeto do hotel, o Aeroporto de Fortaleza tem muitas oportunidades para investidores ou empresas interessados em se localizar em um aeroporto ou em uma região bastante interessante para o tipo de negócio”, destaca Trenk.