Existente desde 2019, a modalidade de financiamento baseada no IPCA costuma ser mais fácil de obter por exigir uma renda mínima menor, mas, diante da alta da inflação, a tomada de crédito nessas condições pode levar o consumidor a perder dinheiro.
Em agosto, o IPCA já está acumulando variação de 9,68% nos últimos 12 meses, fazendo a conta pesar para os consumidores que já assumiram o crédito nessas condições nos últimos anos.
Um financiamento por TR costuma ter custo entre 7% e 8% mais TR (hoje em 0). Com a inflação em 9,68%, o custo de um financiamento por IPCA pode ultrapassar os 13% em 2021.
A tomada de decisão sobre utilizar ou não o IPCA na hora de financiar um imóvel deve levar em consideração a previsão do tempo necessário para quitar a dívida e o perfil do consumidor com relação a riscos, além de condições estabelecidas por cada instituição financeira.
Investimento de longo prazo
O CEO da startup especializada em concessão de crédito Credihome, Bruno Gama, explica que o financiamento imobiliário é uma compra de longo prazo, podendo as parcelas durarem até 35 anos. Portanto, para consumidores que admitem tomar riscos, a alta da inflação não é necessariamente um sinal vermelho para o financiamento por IPCA.
“Se olha hoje no curto prazo, não é uma indicação clara e óbvia ir pelo IPCA. Mas sabendo que o cliente vai ficar décadas com esse crédito, a gente sabe do esforço do governo para controlar a inflação. A gente [empresa] tá bastante seguro que é algo que está como prioridade e deve voltar para uma linha mais de conforto, entre 3% e 4% em breve, daqui a seis meses ou um ano. A gente deve ter uma inflação mais controlada no médio prazo”, acredita.
Ele considera que se deve ter um cuidado especial neste momento, já que as primeiras parcelas do financiamento serão mais caras em razão da inflação.
O cliente até pode optar pelo financiamento por IPCA se tiver muita confiança de que a inflação se regularizará em breve, apostando que os juros ficarão mais baixos do que em uma opção ajustada pela TR. Mas é um risco que se corre.
O maior risco é o fato de você não controlar o indexado e de qualquer forma mesmo tendo perspectivas que a inflação pode começar a ser controlada, não dá para ter bola de cristal. Se entra em crise política e situações fora de controle internacionais podemos continuar com a inflação bastante alta
Vale a pena?
Em um cenário de tanta incerteza, o vice-presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Raimundo Caldas, recomenda que o cliente opte pelo mais seguro.
Uma opção muito mais previsível que o financiamento por IPCA é o ajustado pela TR – que está há anos em 0%, então acaba sendo quase uma taxa fixa. Raimundo exemplifica que a modalidade hoje deve sair mais barata para o consumidor.
“Hoje na Caixa a TR tá 8% fixo mais TR. Hoje o IPCA tá com taxa fixa de 3,95% + IPCA, que tá 9,98%. Hoje fica 13,73%. Se for financiar hoje e o banco não fizer nenhum tipo de ajuste, você não tem como arcar com um compromisso de 14% ao ano, isso em um financiamento imobiliário é destrutivo”, pontua.
É possível fazer portabilidade?
Para quem já está em um financiamento por IPCA, o educador financeiro destaca que é possível conseguir portabilidade, seja na instituição financeira já credora ou em qualquer outra que ofereça condições melhores.
Raimundo não indica entrar em um financiamento de imóvel agora, independente do indexador escolhido. Segundo ele, diante das incertezas, o melhor é ter uma boa reserva de emergência e evitar compromissos de longo prazo.
Pesquisa é fundamental
A pesquisa entre instituições financeiras é mandatória para quem está buscando um financiamento imobiliário, visto que as taxas e o custo efetivo total podem variar bastante em um banco e outro.
Você tem que gastar perna, não pode fazer com pressa. Minha sugestão é a pessoa pesquisar por no mínimo dois meses e criar os cenários para o futuro dela. Ninguém leva em consideração as piores possibilidades, mas para ter certeza é preciso colocar o pior cenário possível
Bruno Gama bate na mesma tecla, reiterando que mesmo diferenças de juros que possam parecer pequenas têm uma diferença enorme quando vistas a longo prazo.
“Em 2021 e 2022 os bancos vão ter estratégias diferentes de juros, a gente tem que pesquisar no mínimo duas outras opções além daquelas que a gente tem relacionamento, significa uma economia muito relevante no longo prazo”, coloca.
Além da pesquisa, Raimundo chama atenção para a importância de entrar no financiamento com o valor de entrada maior possível, para que o montante devido seja menor. “Quanto mais dinheiro você tiver para dar entrada, menos vai ser o custo para a operação de crédito”, relaciona.