São Paulo. O aparelho de ar-condicionado é o eletrodoméstico que mais cresceu em vendas no primeiro semestre de 2024. No país, a alta foi de 88%, com relação ao semestre anterior. Com o mercado aquecido, as fábricas de ar-condicionado já estão com toda a produção deste ano comprometida. No Ceará, a comercialização do produto também está em alta.
O levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) foi apresentado durante a Eletrolar Show 2024 (feira do setor). Nos últimos quatro anos, 2022 foi o pior período de vendas de ar-condicionados, com uma queda de 31%.
Em 2023, o mercado iniciou a recuperação, com crescimento de 16% e, neste primeiro semestre, foram comercializados 2.790.821 unidades de ar-condicionado, contra 1.483.492 nos 6 primeiros meses de 2023.
Segundo maior polo produtor de ar-condicionado do mundo, o Brasil assistiu a um crescimento expressivo na demanda por estes produtos no primeiro semestre, por conta das fortes ondas de calor registradas no começo do ano.
Porém, o presidente da Eletros, Jorge Nascimento, afirma que apesar dos números bastante positivos, o segmento de ar-condicionado ainda tem potencial de crescimento, uma vez que apenas 17% dos lares brasileiros possuem os equipamentos.
Consumidor cearense comprou mais
O diretor comercial da Rede Zenir Móveis e Eletros, Alan Oliveira, afirma que a venda de aparelhos de ar-condicionado está aquecida desde o ano passado, porém, aqui também foi sentido o impacto negativo da seca vivida no Amazonas, já que toda a produção brasileira desses produtos é feita em Manaus.
“Tivemos um excelente crescimento na venda destes produtos. Esses itens tiveram elevação também de preço e no cenário atual acreditamos que teremos ainda mais aumentos”, comenta Oliveira.
Além disso, o diretor do grupo de varejo cearense comenta que independentemente do aumento do preço e até a possível demanda reprimida de aparelhos de ar-condicionado, “o ventilador é um dos principais itens de vendas do negócio”.
Consertos de aparelhos também são opção
Trabalhando com instalação, venda e manutenção de aparelhos de ar-condicionado há 22 anos, Fábio Saraiva afirma que houve aumento no número de novas máquinas este ano. Porém, o que aumentou mais foram os pedidos de conserto.
“O preço dos equipamentos aumentou e os clientes estão optando por consertar, recuperar as máquinas que tem, do que adquirir novas. Para ter uma ideia, de cinco clientes que me ligam, quatro querem ver primeiro se tem conserto da máquina para depois falar em comprar outra, principalmente por conta do preço”.
Saraiva afirma que há 7 anos a manutenção era quase inexistente, mas que a pandemia trouxe o aumento dos preços. “E de lá para cá só foi subindo, cada vez mais. As fábricas ficaram sem insumos, teve o sumiço dos equipamentos no mercado e isso foi elevando o preço, não só do equipamento como também dos materiais de refrigeração como cobre e o gás”.
Fábricas estão com produção de 2024 já vendida
A Agratto, fábrica de ar-condicionado do grupo Ventisol, participou da Eletrolar Show em São Paulo, tem lista de espera e programação para entrega de aparelhos até março do próximo ano.
A empresa começou a ter dificuldades de atender o mercado em setembro do ano passado, com a seca dos rios em Manaus, que servem para trasportar insumos para as fábricas na região da Zona Franca. Dessa forma, os componentes não chegavam nas indústrias e produtos não escoavam para o mercado.
"O Brasil deve estar com um déficit de 3 milhões de máquinas (ar-condicionado). Deu uma falta de produtos no varejo em geral. Quando começou o mês de janeiro, regularizou, mas a matéria-prima não chegou a contento nas fábricas", explica o gerente nacional de vendas da empresa, Eliezer Morais.
Ele comenta que houve também um atraso de transporte de matéria-prima vinda da China, aumentando de 60 para 90 dias os prazos e sem a constância necessária. "Isso porque a China, no mesmo período que optou por entregar mais no mercado europeu, que a viagem é menor".
O diretor conta que o frete subiu, passando de cerca de US$ 2 mil para US$ 10 mil. E a prioridade das transportadoras marítimas internacionais priorizaram trazer carros elétricos.
"Esses carros tinham uma data para entrar no Brasil, antes do imposto aumentar e isso fez com que as montadoras pagassem mais caro pelos contêineres e garantissem o transporte. Assim, todas as matérias-primas de todos os setores ficaram de lado".
Morais também reforça que não está faltando produto no mercado por falta de capacidade produtiva das fábricas. "Todas as fábricas brasileiras, inclusive, aumentaram os seus parques, capacidade, turnos, a dificuldade é a chegada de matéria-prima para fazer".
O diretor comercial diz que por também vender ventiladores e climatizadores, o grupo sentiu uma migração do consumo e a busca por esses produtos menores para adequação climática de ambientes de forma provisória. Assim, a marca sentiu o aumento em 40% da venda do ventilador.
Morais ainda reforça que a taxa de juros caindo, a possibilidade de parcelar mais o produto e a busca por maior conforto, além das alternativas de energia mais barata, como a instalação de placas solares, facilitaram a busca por ar-condicionado.
A Gree, maior fabricante de ar-condicionado do mundo, há mais de 25 anos no Brasil, também está com toda a produção 2024 de aparelhos vendida. Assim, os novos pedidos da marca feitos na participação na Eletrolar Show já eram para 2025.
Entre eles estava o G Diamond Auto inverter que possui inteligência artificial integrada e promete conforto térmico com o uso de algoritmo combinado com as leituras dos parâmetros e condições do ambiente, permitindo o sistema calcular o melhor ponto de operação, gerando redução do consumo e aumento de eficiência.
Venda de eletroeletrônicos cresce 34% no primeiro semestre
A venda de eletroeletrônicos apresentou alta de 34% no primeiro semestre de 2024 e possibilita recuperação de parte das perdas sofridas pela indústria nacional de eletroeletrônicos nos últimos anos.
Levantamento da Eletros aponta que, de janeiro a junho deste ano, foram comercializados 51.530.634 milhões de unidades de aparelhos eletroeletrônicos no país, ante a 38.341.825 milhões entre os 6 primeiros meses de 2023.
“Os números mostram uma retomada importante no consumo e trazem um alívio moderado para as empresas do nosso setor que passaram por um longo período intercalando resultados negativos e estagnação nas vendas”, afirma o presidente executivo da Eletros, Jorge Nascimento.
Na avaliação da entidade, alguns indicadores macroeconômicos promoveram uma melhora na economia, com reflexo positivo sobre o consumo, impactando os resultados do setor. “O aumento na empregabilidade e na renda das famílias, assim como o maior acesso ao crédito são alguns exemplos”, pontua Jorge.
Fatores Climáticos
Os fatores climáticos, cada vez mais, estão ligados as vendas de eletrodomésticos, sendo os aparelhos de climatização de ambientes os mais atingidos. O aumento das temperaturas, que ocorre desde o segundo semestre no ano passado, fez com que, principalmente a região Sudeste, consumisse mais aparelhos de ar-condicionado.
Na região Nordeste, no entanto, especialistas apontam uma venda mais linear do produto, por conta da pouca variação de temperatura. Para o segundo semestre, porém, ainda no contexto climático, a Eletros avalia uma eventual retração nas vendas de aparelhos de refrigeração e climatização por conta do fenômeno La Niña, tendo em vista que uma de suas características é a queda nas temperaturas médias em todo território nacional.
Além disso, a previsão de uma nova seca prevista para região Amazônica pode dificultar, novamente, o escoamento da produção da Zona Franca de Manaus, o que tiraria aparelhos do mercado.
*A repórter viajou a convite da Eletrolar Show 2024.