Empresas no Ceará chegam a ter metade dos colaboradores afastados por Covid ou influenza

Hora extra, realocação de setores e unidades e contratação temporária são algumas das saídas encontradas para a continuidade do funcionamento

A variante Ômicron da Covid-19, em transmissão comunitária no Ceará, combinada com o recente surto de influenza está desfalcando de forma expressiva o quadro de funcionários das empresas locais.

Com atestados que duram de três a cinco dias para gripe e cerca de dez a 15 dias para os casos de Covid-19, companhias cearenses chegam a ter metade dos funcionários afastados nos últimos 30 dias.

Indústria

O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), André Montenegro, aponta que a situação se tornou mais crítica nos últimos 15 dias.

Na empresa que comanda, atuante no setor da construção civil, cerca de 50% dos colaboradores já estiveram ou estão afastados em função de uma das duas doenças, sendo a gripe a mais recorrente.

"Nós estamos tentando contornar e cumprir as metas com hora extra, mas não tem solução. Os cronogramas das obras são reajustáveis, mas o prejuízo financeiro fica", afirma.

Apesar dos transtornos, Montenegro avalia que a situação deve se estender pelo restante do mês de janeiro, mas começa a se normalizar após esse período.

Ele ainda comemora que mesmo os casos de Covid-19 estão sendo mais leves, sem necessidade de internações.

"Mas é uma situação generalizada, em todos os setores. A própria Federação está com várias pessoas acometidas. Estamos com um rodízio de funcionários", revela.

Comércio

A ausência de funcionários também está colocando em xeque o funcionamento de pequenas lojas do varejo cearense.

Conforme indica o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado do Ceará (FCDL-CE), Freitas Cordeiro, alguns pequenos negócios possuem apenas um ou dois funcionários. Caso algum deles precise ser afastado, praticamente impossibilita que a loja abra as portas.

Ele também acredita que o cenário se reverta em breve e que a pandemia continue se encaminhando para o abrandamento.

"Não tenho dados técnicos, mas ao meu ver acho que existe um terror implantado. Qualquer espirro, e com razão, as pessoas já estão correndo para o hospital", afirma.

Embora acredite que seja uma situação com breve resolução, Freitas continua defendendo o incentivo a vacinação e às medidas sanitárias, como uso de máscara e distanciamento social.

Supermercados

Ainda no segmento do varejo, os supermercados também relatam problemas com o número de funcionários afastados nas últimas semanas.

O presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), Nidovando Pinheiro, detalha que o setor tem tentado contornar a situação com horas extras e realocando funcionários para setores e unidades que estão mais desfalcados.

Ele explica que a grande maioria dos casos é referente ao vírus influenza, o que possibilita um retorno ao trabalho dentro de três a cinco dias.

"As lojas estão se desdobrando para conseguir atender o cliente da forma que ele merece. Em algumas situações pontuais, como início do mês e finais de semana, alguns problemas podem ser visíveis, mas estamos tentando manter a qualidade no atendimento", afirma Pinheiro.

No grupo que comanda, mais de 5% dos colaboradores estão de atestado médico.

Restaurantes

Entre os bares e restaurantes do Estado, o desfalque de funcionários já começa a se normalizar.

Segundo Taiene Righetto, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Ceará, os afastamentos prejudicaram o fluxo dos estabelecimentos especialmente nas últimas semanas de dezembro.

O período é marcado por um fluxo acima da média, o que obrigou a redução da capacidade de atendimento em alguns casos e aos proprietários a assumirem o lugar de colaboradores faltosos.

"A nossa primeira preocupação foi com Covid, mas não foi o diagnóstico principal. A boa notícia é que a gente percebeu que o pico já passou. Há cerca de uma semana a duas semanas, a situação começou a normalizar", afirma.

Righetto acrescenta que, por 96% do setor ser de pequenas empresas, os estabelecimentos precisaram se desdobrar para manter o atendimento com a mão de obra que restou.

Rede hoteleira

Os hotéis do Estado não passaram ilesos pelo recente surto de Covid-19 e influenza. Régis Medeiros, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Ceará (ABIH-CE), pontua que os empreendimentos seguem com desfalque de colaboradores.

Entre as alternativas para driblar o problema, estão a ampliação da jornada dos funcionários que estão saudáveis e a contratação de temporários. O reforço do quadro se faz necessário pelo período de alta estação neste mês de janeiro.

"Nós estamos tendo que nos virar nos 30. Chamando funcionários que fazem extra quando precisa, dobrando o horário, fazendo o possível para suprir esse momento, até porque temos que contornar (o problema), não existe opção B", destaca.

Em termos de qualidade, ele admite que em alguns momentos pode haver diferença no serviço prestado. Isso porque os colaboradores extras que estão sendo convocados podem não ter a mesma experiência que os titulares.