Com duas quedas importantes na semana passada, o dólar consolida as baixas que vinham sendo observadas nas últimas semanas em uma tendência que pode fazer a cotação da moeda estadunidense deixar a casa dos R$ 5 neste ano, prevê o economista Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE).
No dia 1º de junho, o câmbio reagiu à alta de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) e fechou com queda de 1,49%, a R$ 5,146. Já na última sexta-feira (4), a moeda chegou a R$ 5,036, o menor nível desde 10 de junho de 2020, quando ficou abaixo de R$ 5 pela última vez.
Porém, conforme o boletim Focus, do Banco Central, a expectativa do mercado é que a moeda encerre o ano aos R$ 5,30.
Coimbra aponta dois principais motivos para o fortalecimento desse processo de baixa do dólar: a política monetária nos EUA e no Brasil e o reaquecimento da economia.
Política monetária
O primeiro seria a política monetária americana, que permanece estável com a taxa de juros baixa, patamar que deve permanecer a médio prazo, tendo em vista a necessidade de fomento da atividade econômica estadunidense.
"O que nos leva a crer que esse fator ajuda na manutenção do câmbio mais baixo aqui e até a romper a barreira dos R$ 5".
O segundo fator que estaria contribuindo para a desvalorização do dólar é a própria política monetária brasileira, em sentido contrário ao da americana.
Enquanto os juros devem permanecer baixo nos Estados Unidos, no Brasil, a taxa tende a se elevar para manter a inflação dentro da meta.
As duas variáveis combinadas deve fazer que os investidores migrem a compra de títulos de dívida dos Estados Unidos para o Brasil, tendo em vista a maior rentabilidade.
"Outro indicativo positivo é que, mesmo com as turbulências com o Governo Federal, você vem observando o Congresso tentar trabalhar a pauta da reforma tributária que, a princípio, seria apenas a simplificação tributária, uma composição de alguns tributos que facilite o entendimento, mas que já gera um alento para o mercado", explica Coimbra.
Recuperação econômica
O economista lembra que a recuperação econômica que vem sendo ensaiada também contribui para a baixa do câmbio. A retomada das atividades após a segunda onda de contaminação já sustenta perspectivas de crescimento de 3,5% ao final do ano e a vacinação, mesmo ainda lenta em comparação a outros países, vem reduzindo a taxa de mortalidade.
"Isso é uma tendência. Temos que imaginar que, se essas variáveis permanecerem, existe uma tendência de recuperação da atividade econômica, que vem estimulando uma trajetória mais efetiva da Bolsa e do câmbio"
Coimbra estima que, caso não haja nenhuma turbulência que venha abalar o atual cenário de otimismo, até o fim do ano o dólar deve romper a casa dos R$ 5 e chegar a R$ 4,90, enquanto a Bolsa de Valores pode ultrapassar a marca dos 140 mil pontos.
Investimento estrangeiro
O assessor de investimentos da M7 Investimentos, Thomaz Bianchi, indica mais alguns fatores externos que têm influenciado na recente baixa do dólar, como a destinação de capital estrangeiro em mercados emergentes.
"Por exemplo, o presidente da Turquia demitiu o presidente do banco central turco. Isso elevou a volatilidade. Então, contribui para que países emergentes, como o Brasil, sejam beneficiados com o investimento que iria para a Turquia e não vai mais", explica.
Inflação
Apesar do brasileiro consumir uma série de produtos com preço dolarizado, a baixa do dólar não deve ser o suficiente para amenizar o avanço da inflação, segundo Bianchi.
Ele justifica a manutenção da escalada dos preços a partir da continuidade de alta das commodities e das fortes altas em despesas significativas no orçamento familiar, como a energia elétrica.
"Temos alguns itens que são dolarizados, mas as commodities ainda estão em alta e pressionam bastante. A energia, com essa crise hídrica, já está com a bandeira vermelha 2. Isso tem muito peso na cesta. Por um lado, a baixa do dólar gera um alívio, porém tem pressão de outro. A curto prazo, a inflação não tende a arrefecer"
O assessor de investimentos também ressalta que, com a volta do auxílio emergencial, embora em menor valor, o incentivo ao consumo aumenta, o que contribui para um certo 'efeito manada' e causa uma pressão a mais nos preços.