Após encerrar 2020 com alta de 8,87%, o desempenho das ações de empresas cearenses com capital aberto despencaram 25,25% em 2021. A menor liquidez das companhias puxou uma queda ainda mais forte que a registrada pelo Ibovespa (-11,93%).
Os dados são do Índice de Ações Cearenses (IAC), elaborado pelo Núcleo de Práticas em Economia (Nupe) da Universidade de Fortaleza (Unifor).
Apesar do resultado negativo, os motivos que influenciaram a retração no retorno dos ativos locais estão ligados apenas com a macroeconomia e não com problemas e dificuldades das próprias empresas.
O economista e coordenador dos cursos de Economia e Finanças da Unifor, Allisson Martins, indica os três principais fatores que resultaram na queda do desempenho:
- O primeiro deles é a incerteza fiscal, com a discussão acerca do teto de gastos e déficit fiscal.
- O segundo é a incerteza política com a largada prematura da corrida eleitoral e o início dos embates políticos.
- O terceiro é a subida da taxa básica de juros, a Selic, que eleva a rentabilidade dos produtos de renda fixa e coloca em xeque a escolha dos investidores pelo mercado de capitais.
"As incertezas fiscais e políticas trazem maior volatilidade para a Bolsa, mais riscos, que fazem com que as pessoas tenham mais receio em investir", explica Martins.
Ele também lembra que, quando as ações são vendidas, seja pelo receio frente à instabilidade ou pela migração para a renda fixa, o preço dos ativos cai.
Empresas cearenses
Das nove empresas cearenses listadas em alguma bolsa de valores, somente Grendene (2,74%) e Pague Menos (2,44%) conseguiram encerrar o ano com desempenho positivo.
A maior queda foi registrada nas ações da Brisanet (-63,41%), empresa mais recente a passar pelo processo de IPO, em julho de 2021.
Confira o resultado anual de cada empresa:
- Grendene 2,74%
- Pague Menos 2,44%
- Coelce (COCE5) -3,33%
- Banco do Nordeste -4,03%
- Coelce (COCE3) -18,84%
- M.Dias Branco -25,1%
- Hapvida -32,37%
- Aeris -34,3%
- Arco Educação -34,92%
- Brisanet -63,41%
Menor liquidez
O professor de mercado de capitais da Unifor, Luiz Viana, esclarece que a queda em ritmo maior que a registrada no Ibovespa é explicada pela menor liquidez das empresas cearenses, ou seja, elas possuem um número menor de ações negociadas diariamente.
Isso faz com que o desempenho de seus produtos subam mais quando o Ibovespa está em alta e também caiam mais quando o indicador da bolsa brasileira está em baixa.
Algumas empresas possuem pouca liquidez, o que gera uma maior volatilidade em relação ao Ibovespa. O Banco do Nordeste, por exemplo, por ser um banco público, regional, tem pouquíssimas ações sendo negociadas. Então, qualquer variação gera uma volatilidade muito grande"
Ele recorda que até junho do ano passado o IAC estava positivo e acima do Ibovespa. A partir do segundo semestre, influenciado pelos fatores macroeconômicos que puxaram a bolsa para baixo, o indicador também passou a ficar negativo.
Previsão para 2022
Embora o desempenho negativo recente, Allisson Martins acredita que o ano de 2022 vai ser melhor para as empresas cearenses, apesar da alta volatilidade se manter em função da disputa eleitoral.
Ele argumenta que os preços de diversos ativos estão mais baratos, o que acaba sendo um estímulo a mais para o investidor.
Existem ações de empresas, incluindo do Ceará, que estão com bons preços e têm potencial de crescimento no médio e longo prazo. A gente sempre fala que o mercado de ações não é uma corrida de 100 metros, é quase uma maratona"
Para quem já possui ativos de empresas cearenses e tiveram de lidar com um prejuízo significativo em 2021, a orientação é para que não venda suas cotas ainda, mas que esperem, já que esse mau desempenho deve ser revertido.
"O ideal é que as pessoas que tenham recursos investidos aguardem mais um pouco até que todas essas turbulências cessem. Quem precisa do recurso a curto prazo ou não está aguentando a volatilidade, pode mudar de ativo ou produto, isso vai depender do perfil e do objetivo de cada investidor", aconselha Martins.