O País passa por um período de pressão inflacionária. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), taxa que mede a inflação oficial do Brasil, acumulado em 12 meses está em 9,68%, bastante acima da meta do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter a inflação em 3,75% em 2021.
Mesmo com a alta generalizada de preços, alguns produtos e serviços tiveram queda no Brasil e no Ceará. O fenômeno, conhecido como deflação, ocorre em razão da baixa demanda ou de uma disponibilidade acima do necessário de oferta.
Os dados mais atualizados do IPCA, referentes a agosto, mostram 15 itens com deflação em Fortaleza. No mesmo período, 16 dos 377 itens analisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentaram quedas de preço no Brasil.
Produtos com deflação em Fortaleza
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Fortaleza (CE) |
Brasil |
Cebola |
-46,43 |
-30,69 |
Manga |
-25,44 |
-22,69 |
Banana-prata |
-21,07 |
15,46 |
Maçã |
-11,18 |
-4,97 |
Alho |
-10,08 |
-2,66 |
Produto para barba |
-7,03 |
1,68 |
Desinfetante |
-4,45 |
1,11 |
Camarão |
-4,28 |
-1,68 |
Mochila |
-2,71 |
2,51 |
Laranja-pera |
-2,05 |
3,07 |
Artigos de iluminação |
-0,36 |
2,61 |
Serviços com deflação em Fortaleza
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Fortaleza (CE) |
Brasil |
Ônibus interestadual |
-10,06 |
-4,80 |
Transporte por aplicativo |
-2,88 |
6,06 |
Exame de laboratório |
-1,82 |
4,57 |
Seguro voluntário de veículo |
-0,21 |
-0,65 |
Safras maiores
O gerente do IPCA, Pedro Kislanov, explica que a deflação tem a ver com razões individuais de cada produto que conseguem superar as questões macro, como alta da energia elétrica e dos combustíveis.
A deflação de itens alimentícios normalmente tem relação com a produtividade de safras em regiões específicas, o que pode ter a ver com questões climáticas ou de época de colheita no ano.
Se tem uma safra maior, tem um maior volume no mercado e derruba o preço. Existe também questão de demanda, em períodos mais frios as pessoas consomem menos hortaliças e verduras, por exemplo
O coordenador da pós-graduação em mercado financeiro e capitais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília (FPMB), César Bergo, pontua que a deflação de alimentos pode vir, inclusive, após períodos de inflação.
“Se pegar o caso do arroz, teve uma demanda alta e os produtores fizeram mais arroz para vender. Chega em determinado momento e tem um excesso de produto”, destaca.
Ele acrescenta que as principais deflações são de itens perecíveis já que os vendedores muitas vezes acabam forçados a baixarem os preços mesmo abaixo da margem de lucro para não caírem no prejuízo.
“O consumidor deve buscar esses produtos que estão mais baratos, fazer sua cesta de alimentos com base neles”, indica.
Serviços
Com as medidas de isolamento social para controle da pandemia, alguns serviços se tornaram menos demandados, fazendo os preços caírem.
Em Fortaleza, por exemplo, com as pessoas saindo menos de casa, deixou de ser prioridade contratar seguro de veículo e serviços, como ônibus interestadual e transporte por aplicativo.
“Serviços pesam muito a renda das pessoas, nível de emprego. Se [o cenário] não está regularizado, tende a cair principalmente os setores mais acessórios”, coloca Kislanov.
Apesar de não terem tido queda em Fortaleza, serviços como ensino superior e cursos de idioma sofreram deflações nacionais de -0,80% e -1,03%, respectivamente. A menor busca pode ter relação com o desemprego no País.
O que esperar
Mesmo que com uma deflação momentânea, a tendência é que os preços de serviços voltem à normalidade à medida que a demanda se regularizar com a retomada das atividades econômicas.
Kislanov reitera, contudo, que não há como traçar previsões devido ao período de grande instabilidade, e que a questão da crise hídrica pode ter um papel importante para definir o que sobe ou desce nos próximos meses.
Para Bergo, produtos que subiram ou caíram muito devem voltar a um patamar mais próximo da normalidade em breve. Segundo os especialistas, os produtos com maior potencial de queda são os de produção nacional.