Criadora do 'Bat Gut', Betânia agora quer faturar R$ 1 bi com novas apostas

Sob o comando de Bruno Girão, a indústria de laticínios processa diariamente 850 mil litros de leite produzidos no sertão do Ceará. A história da empresa Betânia faz parte da série de matérias 'Por Dentro do Negócios'

Mais do que presente na mesa de café da manhã, o leite está no DNA da família de Bruno Girão, CEO da Betânia Lácteos. Antes mesmo de ele nascer, os avós mantinham a produção de leite numa fazenda em Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza. Após a morte do avô, o pai dele, Luiz Girão, assumiu os negócios, destacou-se no segmento e viu a oportunidade de comprar, em 1975, uma recém-criada fábrica de laticínios sediada em Quixeramobim, data que marca o início da Betânia.

A série 'Por Dentro do Negócio' traz histórias de empreendedorismo de empresas que atuam no Ceará, dos percalços ao sucesso, para inspirar você no sonho de abrir o próprio negócio. 

Hoje, a companhia gerencia 2 mil funcionários, processa diariamente 850 mil litros de leite e quer fechar o ano com faturamento bruto de R$ 1 bilhão. Até chegar nesse patamar, contudo, quase foi à falência na época do governo Collor e chegou a ser vendida para a Parmalat, mas voltou à administração da família Girão quase como um sobrenome incorporado à história deles.

“O que deu certo foi a minha humildade em buscar sempre estar aprendendo, já que era um setor que eu nunca tinha trabalhado. Eu me mudei para Morada Nova e lá fui aprender sobre leite e trocando muitas ideias”, diz Bruno. 

Foi pelas mãos do pai do atual gestor da companhia, Luiz Girão, que a fábrica desenvolveu os produtos e a trajetória que os cearenses conhecem atualmente. É o caso do Bat Gut, o primeiro iogurte em saco no País e que marcou a infância de muitos na década de 1990.  Por não ter tecnologia para fabricar o seu próprio iogurte, a empresa fez parceria com a Yoplait, concorrente mundial da Danone e que trouxe para o Brasil o conceito de iogurte líquido.

“Naquele momento, papai achava que iogurte líquido em saco plástico, tipo venda de leite pasteurizado, podia dar certo no Nordeste, desde que tivesse uma formulação mais adequada e mais barata”, pontua.   

Nessa época, a Betânia chegou a contar com 11 fábricas, mas mesmo o sucesso do iogurte em saco não foi suficiente para amenizar o impacto sofrido com o fim do Ticket Leite, programa de assistência criado pelo governo federal. "As famílias carentes recebiam e trocavam na padaria por um litro de leite. Quando o Collor entra, um dos primeiros atos dele foi acabar com esses programas de distribuição de leite", lembra Bruno. 

30%
foi a queda de faturamento registrada pela Betânia após o fim do Ticket Leite, na década de 1990.
  

Para piorar o cálculo, tinham iniciado grandes investimentos, como uma fábrica de leite em pó no Ceará. A saída foi, então, recorrer à venda para a italiana Parmalat, que já havia feito propostas de compra nos anos anteriores. "Foi a melhor opção, dadas as condições naquele momento. Ou vendia ou não iria ter condições de pagar as contas, porque o plano econômico fez com que os juros subissem drasticamente".

"Quem estava endividado na época não conseguia receita para pagar os empréstimos", justifica Bruno, que tinha apenas 17 anos na época. Para o então proprietário da Betânia, Luiz Girão, a venda foi como a perda de um filho. Já para Bruno, foi como se tivessem tirado seu sobrenome.

“Chamavam Luizinho da Betânia, Bruno filho do Luizinho da Betânia”, comenta.

O processo de venda foi finalizado em dezembro de 1995.  Após o acordo com a Parmalat, a família Girão continuou dirigindo duas unidades que não foram compradas pela empresa, e criou a marca Lebom para vender os produtos que saíam dessas fábricas.

Luiz Girão continuou na produção de leite em sua fazenda, além de enveredar em outros ramos, como produção de milho verde e até venda de veículos. Já Bruno embarcou para fazer a faculdade no exterior.

O momento da virada 

Em 2002, a Parmalat decidiu refazer o parque industrial e a família Girão viu a oportunidade de recomprar a fábrica de Morada Nova, maior unidade de produção da empresa atualmente. 

“Eu estava recomeçando, voltando ao Brasil, e foi um momento difícil para conseguir credibilidade de um jovem de 24 anos, principalmente a credibilidade do time. Quando você é muito jovem, as pessoas têm a sensação de que você não é uma pessoa capaz, competente, mas fui com muita humildade e vontade de aprender e trabalho duro”, lembra Bruno, que assumiu a presidência da empresa com a missão pessoal de resgatar os bons números da década de ouro da Betânia. 

Hoje, além da unidade de Morada Nova, onde são processados 500 mil litros de leite diariamente, a Betânia tem fábricas em Sergipe, Pernambuco e Bahia; e está investindo em outros três parques industriais, um deles voltado para a produção de leite em pó, retomando um projeto antigo.

Para 2019, a meta é fechar o ano com R$ 1 bilhão em faturamento bruto, número que representa 14% de crescimento em relação a 2018.  

Um dos grandes trunfos desse novo momento da empresa é a retomada da produção do icônico Bat Gut, que havia sido descontinuada pela Parmalat. “Entendendo o valor que ela tem, relançamos a marca e foi um tremendo sucesso”, completa Bruno. Segundo ele, as vendas aumentaram 20% depois da volta do produto aos supermercados.  

Além disso, para atrair novos consumidores, a empresa espera que o Yogi&Leve, lançado em junho deste ano, tenha o mesmo impacto que o Bat Gut na década de 1990. Ele carrega a característica de ter o sabor tradicional de um iogurte, no entanto sem a obrigação de manter refrigerado, fazendo com que chegue em mais pontos do Nordeste, onde não tem geladeira para expor iogurte.  

Nova geração 

“A principal meta de Betânia é se tornar a principal referência de lácteos para varejo do Nordeste e estar presente, nos próximos cinco anos, em aproximadamente 70 mil pontos de vendas alimentares da região e dominar não só no mercado de leite longa vida, mas também no de iogurte, leite condensado, creme e achocolatado. Ou seja, ser a principal empresa do Nordeste em participação de mercado nos próximos cinco anos", revela Bruno. 

Considerado o “pai” da Betânia, Luiz Girão segue como produtor de leite e ocupa a 16ª posição entre os 100 maiores do Brasil, segundo a MilkPoint, mas ainda tem, na empresa, a cadeira de conselheiro.

“Papai é muito orgulhoso do trabalho que a gente acabou construindo. Nem nos melhores sonhos dele, ele esperava que esse negócio pudesse retornar para a família e crescer de maneira tão sustentável como aconteceu nos últimos tempos”, conclui Bruno. 

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