O aumento na conta de energia dos cearenses aprovado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nesta terça-feira (18) pode acabar impactando no preço das frutas, hortaliças, leite e até mesmo do camarão consumidos no Estado.
Isso porque, apesar dos consumidores residenciais sentirem um reajuste de 4,6%, o percentual de elevação para a população rural de alta tensão será de 11,54%.
A alta considerável deve prejudicar os produtores rurais que utilizam energia para irrigar as plantações, como é o caso da fruticultura e horticultura, para a produção de leite e derivados e para a produção de camarão, já que o marisco precisa que a água seja areada.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Amilcar Silveira, demonstra extrema preocupação com o anúncio, uma vez que, em 2022, o mesmo grupo já havia sofrido com um aumento superior a 30%.
"É assustador, é um aumento de quase 45% em dois anos. Enquanto isso, a indústria teve uma redução de 3,77%. Não faz sentido nenhum", dispara.
Silveira destaca que, devido a insegurança hídrica do Ceará, o cultivo de frutas e hortaliças fica dependente da irrigação mesmo quando há registro de bom volume pluviométrico, como este ano, já que as precipitações ficam muito concentradas no primeiro semestre.
No caso do cultivo de camarões, a energia elétrica é usada constantemente para renovar a presença de oxigênio na água, tornando o fornecimento uma matéria-prima indispensável.
O mesmo ocorre na produção de leite. A cadeia da atividade, consolidada no Vale do Jaguaribe, dispõe de maquinários, como ordenhas, que aumentam a produtividade, mas necessitam de energia elétrica e, portanto, será impactada.
O reajuste vai contra tudo que queríamos. O que queríamos era incentivo à produção para que, assim, os preços ao consumidor pudessem ser menores e incentivar o consumo"
O representante do setor pontua que o reajuste da tarifa energética terá de ser repassada ao preço final dos itens, tendo em vista que os produtores não conseguirão absorver tamanho aumento de custo.
Em reação ao reajuste, a Faec prepara ação judicial para pedir a suspensão do aumento. Conforme Silveira, o processo deve ser protocolado até esta quinta-feira (20).
Repasse lento
O analista de mercado da Ceasa, Odálio Girão, endossa que as frutas e hortaliças serão especialmente prejudicadas, assim como o leite e derivados. No entanto, ele acredita que o impacto ao consumidor final deve chegar aos poucos, à medida que os produtores colham e/ou plantem novas áreas.
Entre as frutas, ele lista o abacaxi, mamão, banana e melão, por exemplo, como os passíveis a sofrerem aumento de preço nas gôndolas, além do feijão.
"O repasse ao consumidor será proporcional ao plantio e colheita. Dependendo da produtividade, o repasse pode ser menor. Mas isso não é imediato, vai acontecer à medida que cheguem os períodos de plantio e colheita", pontua.
Retirada de descontos
Procurada sobre o aumento superior para os consumidores rurais que as demais classes de clientes, a Aneel esclareceu, por meio de nota, que a discrepância vem ocorrendo desde 2019 em função de decreto assinado naquele ano que "vedou a aplicação de descontos cumulativos nas tarifas e estabeleceu trajetória de retirada de parte desses descontos, a taxa de 20% ao ano".
A retirada gradual desse desconto seria o que vem provocando o desequilíbrio e o impacto expressivo. A Aneel ainda pontuou que, tendo em vista que o ajuste deste ano é o último passo de redução dos descontos, "espera-se que em 2024 o efeito tarifário observado para esses dois grupos de consumidores seja mais equilibrado".
A Enel Ceará reiterou a justificativa apresentada pela Aneel sobre a retirada de descontos gradual para os consumidores rurais. "O decreto retirou, gradualmente, a partir de 2019, 20% do desconto por ano para todas as unidades consumidoras classificadas como rurais do país", pontuou a concessionária em nota.
Produtos que podem sofrer alterações de preço
- Leite e derivados
- Camarão
- Feijão
- Abacaxi
- Mamão
- Banana
- Melão