Com usinas eólicas, cidades do Nordeste aumentam PIB per capita em 20% e geram mais empregos, aponta estudo 

Setores industrial e de serviços são beneficiados pela chegada de empreendimentos eólicos

A construção de parques eólicos no Nordeste tem impactos diretos em índices sociais e econômicos. Segundo estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), o PIB per capita cresceu 20% entre 2001 e 2022 em municípios onde as usinas foram instaladas. 

A pesquisa comparou o desenvolvimento econômico de cidades do Nordeste com parques eólicos instalados ou em construção com o de municípios vizinhos que não têm empreendimentos. O estudo dos pesquisadores da UFC foi reconhecido no 9º Prêmio Tesouro Nacional de Finanças Públicas. 

Foram analisadas as cidades nas quais as usinas foram construídas com financiamento do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), administrado pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). 

A partir de análises estatísticas, os pesquisadores identificaram que os parques eólicos tiveram impacto real em diversos indicadores econômicos, como no crescimento do PIB per capita. 

O PIB per capita é um dos principais indicadores utilizados para medir o desenvolvimento de cidades, estados e países. O resultado é obtido dividindo o PIB do ente pela quantidade de habitantes. A taxa indica a média de riqueza disponível por habitante, mas não é avaliada a desigualdade de renda entre a população.  

Outros efeitos positivos das eólicas recaem sobre o mercado de trabalho: os empreendimentos aumentam a criação de postos formais de emprego em 23%. Já a massa salarial da população (total de renda gerada pelo trabalho) tem alta de 27,51%.

Esses efeitos se abrangem também aos parques eólicos em construção - aumento de 19,40% nos empregos gerados e 25,43% na massa salarial. Apesar do aumento dos cargos gerados, a remuneração média dos trabalhadores não teve mudanças substanciais. 

A metodologia do estudo permitiu identificar os efeitos isolados dos parques a partir da comparação entre municípios, explica o líder da equipe interdisciplinar responsável pelo estudo, Guilherme Irffi, do Departamento de Economia Aplicada da Faculdade de Economia da UFC. 

“Como os impactos são sentidos ao longo de vários anos, nós utilizamos uma metodologia que fosse capaz de captar esses efeitos ao longo dos anos. Essa metodologia também nos mostrou que o tempo de parque influencia. O efeito é dinâmico ao longo do tempo, uma vez que o parque está instalado”, explica. 

IMPACTO POSITIVO NA INDÚSTRIA 

O estudo multidisciplinar da UFC identifica também as consequências da instalação de empreendimentos eólicos nos setores produtivos. A área mais beneficiada é a indústria, que tem o valor adicionado inflado em mais de 105% quando as usinas entram em operação. 

Para cidades com parques ainda em construção, a indústria tem alta no valor adicionado de 32%. O setor de serviços também é impactado positivamente: alta de 10,78% no valor adicionado para os parques já em operação. 

Já o setor agropecuário tem um efeito negativo quando os parques ainda estão sendo construídos: perda do valor adicionado de 8,9%. 

“Esse resultado pode ser explicado pela desocupação de terras agrícolas no período de construção, o que interfere nas atividades do setor e resulta em perdas econômicas. No entanto, uma vez que os parques entram em operação, eles não afetam significativamente o setor agropecuário”, explica o estudo. 

A pesquisa analisou 355 cidades do Nordeste, entre municípios com usinas eólicas (grupo tratado) e municípios sem os equipamentos (grupo controle). 

Entre as cidades cearenses incluídas no estudo que possuem plantas eólicas e têm a economia beneficiada, estão:

  • Acaraú
  • Amontada
  • Acarati
  • Beberibe
  • Camocim
  • Fortim
  • Ibiapina
  • Icapuí
  • Itarema
  • Paracuru
  • Tianguá
  • Trairi
  • Ubajara 

Já entre municípios estudados para fins comparativos, que não têm produção de energia pelos ventos, estão Granja, Palhano, Russas, Umirim e Viçosa do Ceará. 

ESTÍMULO PARA POLÍTICAS PÚBLICAS

A partir da análise das variáveis econômicas, o estudo identifica que a construção de parques eólicos pode ser uma ferramenta de desenvolvimento econômico regional

Os efeitos positivos são atribuídos à geração de energia e à receita dos parques em operação, além do emprego e investimentos na fase de construção. 

Guilherme Irffi destaca como os resultados podem auxiliar nos instrumentos da Política Nacional de Desenvolvimento Regional. “Estamos falando de uma energia mais limpa, que na transição energética e que, pelos resultados, gera efeitos econômicos e sociais nos municípios”, explica. 

Segundo a Sudene, o crescimento econômico impulsionado pelos avanços se reflete nas comunidades em torno dos parques eólicos. 

As cidades beneficiadas pelo financiamento são escolhidas a partir das diretrizes do Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste (PRDNE), com foco em interiorizar ações e gerar resultados mais eficazes.

“Ao mesmo tempo, a instituição trabalha para que as universidades e faculdades locais ofereçam cursos que atendam às necessidades da comunidade, formando pessoas qualificadas para suprir a demanda crescente”, aponta Heitor Freire, diretor de fundos, incentivos e atração de investimentos da Sudene.

Novos projetos e pleitos estão sendo avaliados, com foco no desenvolvimento da economia local e regional dos nove estados do Nordeste, além do Norte do Espírito Santo e Norte de Minas Gerais. 

Para garantir o financiamento, a superintendência negocia parcerias com o Banco dos Brics (NDB), o Banco Mundial e a Agência Francesa de Desenvolvimento, além de outros entes privados.

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