Com poucos operários e trechos incompletos, obras do 4º Anel Viário de Fortaleza seguem lentas

Maior parte das intervenções na rodovia acontece no município de Caucaia nas proximidades do entroncamento entre as BRs 020 e 222

As intervenções do 4º Anel Viário de Fortaleza já duram mais de 14 anos na Região Metropolitana da Capital. Após a assinatura da ordem de serviço para a conclusão da rodovia, em agosto deste ano, a expectativa era terminar o trajeto até o fim de 2025. Três meses depois, porém, o que se percebe é uma obra que se desenrola em ritmo mais lento do que o esperado.

Trata-se do último pacote de obras para, enfim, entregar a rodovia completamente duplicada e requalificada em toda a extensão. O 4º Anel Viário de Fortaleza tem início no Eusébio no entroncamento entre as CEs 010 e 040 e surgiu como alternativa para o tráfego intenso entre Fortaleza e os portos do Pecém e do Mucuripe.

A partir daí, a via percorre pouco mais de 32 quilômetros (km), passando pela capital cearense, Itaitinga, Maracanaú e Caucaia. Além das duas rodovias estaduais já citadas, a estrada se interliga com as CEs 060 e 065 e com as BRs 116, 020 e 222.

Desde 2010, ainda durante o primeiro mandato do então governador Cid Gomes (PSB), o 4º Anel Viário da Capital está em obras de duplicação e requalificação. A promessa era entregar pista dupla mais resistente para suportar os caminhões de carga que percorrem a estrada. A construção passou pelas mãos da gestão estadual de Camilo Santana (2015–2018 e 2019–2022) e, atualmente, Elmano de Freitas (PT).

Atualmente, mais de 14 anos depois, a duplicação da maior parte do Anel Viário foi de fato concluída. Com exceção de pequenos trechos, como o que passa sobre a BR-116, a rodovia conta com pista dupla em ambos os sentidos.

Ao longo de dois dias, em diferentes horários, a reportagem do Diário do Nordeste percorreu toda a extensão do 4º Anel Viário de Fortaleza. Além de encontrar a obra em estágio inicial e concentrada no município de Caucaia, foram observados diversos pontos incompletos, bem como poucos operários trabalhando na conclusão das intervenções.

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Caucaia recebe primeiras intervenções no 4º Anel Viário

O investimento para a conclusão das obras do 4º Anel Viário de Fortaleza totaliza R$ 97 milhões, dos quais R$ 80 milhões são provenientes do Ministério das Cidades e os outros R$ 17 milhões são de recursos do Estado.

Segundo o Governo do Ceará, serão realizados sete serviços na etapa de conclusão da rodovia, que se estenderão ao longo de todo o trajeto.

  • Conclusão de 6,2 km de restauração das pistas principais da CE-010;
  • Execução dos acessos ao Conjunto Nova Metrópole (Caucaia);
  • Execução das alças nas interseções com as CEs 060 e 065;
  • Implantação de 9 retornos ao longo da rodovia, assim como a execução dos respectivos sistemas de drenagem e sinalização;
  • Pavimentação de 6,1 km de faixa de segurança;
  • Pavimentação de 28,7 km de ciclovias;
  • Pavimentação de 21,2 km de acostamento.

De acordo com a Superintendência de Obras Públicas do Ceará (SOP), pasta responsável pelo andamento das intervenções, a obra "segue normalmente" e está atualmente concentrada na "movimentação de terra no segmento entre as rodovias CE-065 e BR-020, para que em seguida seja iniciada a implantação da ciclovia e dos acostamentos".

Esse trajeto corresponde a cerca de nove dos 32 km do 4º Anel Viário e passa pelos municípios de Maracanaú e Caucaia. Ao longo do trecho, é possível observar as obras, mas em estágio bastante inicial comparado ao cronograma inicial de intervenções.

As principais obras são no acostamento direito da rodovia no sentido Maracanaú-Caucaia. As intervenções estão em fase de preparo da terra para receber o pavimento na área de escape.

Há somente um canteiro de obras com trabalhadores, próximo de uma fábrica de granitos no Conjunto Nova Metrópole. Assim como relatado pela SOP, os trabalhadores estão realizando movimentação de terra no trecho.

Alça da CE-065 segue com buraco exposto; acesso da CE-060 está incompleto

No sentido oposto das obras do 4º Anel Viário (Caucaia-Maracanaú), há o plano para a construção da alça que dará acesso a CE-065 no sentido da avenida Osório de Paiva (Fortaleza) e para o retorno da rodovia.

Essa, porém, é a única das quatro alças do "trevo" que sequer começou a ser construída, sem ainda nenhum preparo de infraestrutura. No lugar do espaço que receberá futuramente o pavimento, há o crescimento de vegetação.

Continuando na rodovia, o acostamento é incompleto e os retornos ainda são irregulares, situação observada ao longo de toda a via. A iluminação para períodos noturnos também é deficitária, com poucos postes.

Já nas proximidades da Ceasa, a alça do 4º Anel Viário que dará acesso a CE-060 (sentido Maracanaú-Fortaleza) está incompleta. O trajeto está bloqueado e o pavimento segue até próximo da rodovia estadual, mas ainda com trechos em terra batida.

Viaduto da BR-116 ainda é gargalo, e pavimentação é desnivelada em vários trechos

Por vários momentos, o 4º Anel Viário alterna a pavimentação entre asfalto, resquício da antiga pista em mão dupla, e concreto. Buracos e desníveis também são perceptíveis, com diversos percursos sendo feitos em velocidade reduzida.

Um dos principais pontos de congestionamento segue sendo um dos poucos trechos da rodovia que passam inteiramente nos limites de Fortaleza: o viaduto sobre a BR-116. Neste local, há um estreitamento de pista em ambos os sentidos.

Embora haja a separação física entre os dois sentidos de pista, o trajeto é feito praticamente em faixa única, causando longas filas de carros nos mais diferentes horários do mesmo dia. Existem ainda pontos incompletos de canteiro central e acostamento.

Vale lembrar que o viaduto sobre a BR-116 não consta na lista de obras a serem realizadas no 4º Anel Viário de Fortaleza, conforme o edital do Governo do Estado.

Em agosto, a SOP informou à reportagem que o alargamento do viaduto "está em fase de estudo". O assunto também foi tratado pelo governador Elmano de Freitas, que à época afirmou que haveria "uma retomada de obra intensa" na rodovia para concluí-la em 2025.

"Aquele gargalo quando vai chegando na BR-116, aquele viaduto que é muito estreito, ter uma saída para pegar a BR-116 sem o transtorno que temos hoje que causa muito engarrafamento", disse.

A situação de obras inacabadas segue até a CE-040, onde o 4º Anel Viário termina no sentido Eusébio. Com exceção do trecho na Caucaia, ainda não há movimentação de trabalhadores nos demais trajetos da rodovia realizando as obras listadas pelo Governo do Estado.

Cronograma arrastado

Alvo de reclamações constantes de motoristas, o projeto de duplicação do 4º Anel Viário é considerado uma novela. O órgão responsável pelas intervenções era, até 2022, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Em junho daquele ano, em acordo costurado em Brasília com a presença da então governadora Izolda Cela (à época sem partido, hoje no PSB), a responsabilidade pela administração da via passou para o Governo do Ceará.

Ao longo dos 14 anos da duplicação, novas intervenções foram feitas no eixo que interliga os portos do Mucuripe e Pecém, cuja conexão é feita, em sua maioria, pelo Anel Viário, mas conta com vias auxiliares.

  • Fortaleza: substituição do asfalto pelo intertravado na Avenida Vicente de Castro (saída do Porto do Mucuripe); substituição do asfalto pelo concreto na Avenida Dioguinho; conclusão da Estrada da Sabiaguaba, renomeada para CE-010, em piso intertravado;
  • Eusébio: conclusão da CE-010 e conexão com Anel Viário;
  • Caucaia: duplicação da CE-155 a partir da BR-222 (distrito de Catuana) até o Porto do Pecém.

Histórico do Anel Viário

  • Março de 2010 — Assinatura do contrato para o início das obras. O consórcio Queiroz Galvão/EIT foi o vencedor da licitação, estimada em R$ 188,9 milhões, e com previsão inicial de término em 2012; 
  • Junho de 2011 — Empresas do primeiro e segundo lugares da licitação já haviam desistido da obra; 
  • Janeiro de 2012 — Governo estadual assume obras após atrasos. Prazo para conclusão é adiado para 2013; 
  • Novembro de 2015 — Governo estadual adia novamente prazo de entrega para dezembro de 2016; 
  • Dezembro de 2015 — Consórcio rescinde contrato e obra fica paralisada; 
  • Março de 2017 — Governo retomada processo de relicitação da duplicação da rodovia; 
  • Junho de 2017 — Retomada das obras com as empresas Torc Terraplenagem Obras Rodoviárias e Construções LTDA/ Via Engenharia S.A. (Torc-Via);
  • Março de 2019 — Obras do Anel Viário ficam paralisadas por contas das fortes chuvas; 
  • Julho de 2019 — Trabalhadores retomam as obras do projeto após período de chuvas;  
  • Dezembro de 2019 — Souza Reis pede recuperação judicial e ritmo das obras diminuem; 
  • Janeiro de 2020 — SOP pede inclusão de quarta empresa no consórcio / PGE aprova inclusão;
  • Junho de 2022 — Anel Viário passa a ser de responsabilidade do Estado;
  • Julho de 2022 — Empresas interessadas na conclusão das obras apresentam valor muito abaixo do mercado e não são aprovadas pela SOP. Edital fracassa;
  • Dezembro de 2023 — Governo do Ceará assina convênio com o Governo Federal para liberação de recursos para conclusão das obras;
  • Abril de 2024 — Novo edital de licitação para as obras do 4º Anel Viário é aberto pela SOP;
  • Julho de 2024 — Edital de licitação para as obras entra em fase de homologação do consórcio vencedor junto à SOP;
  • Agosto de 2024 — Governo estadual assina contrato para obras de finalização do Anel Viário.