A taxa Selic, que dita os juros imobiliários no País, está estável desde agosto do ano passado, após uma sequência de altas desde o início de 2021. Depois de dois anos em que o sonho da casa própria se mostrou mais caro, o Banco Central sinalizou na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) uma perspectiva de arrefecimento da taxa já na próxima reunião, prevista para agosto.
De acordo com dados do Banco Central, os juros médios pré-fixados para financiamento imobiliário eram de 11,32% a.a. em maio, bastante superiores à média de 7,78% a.a. do início de 2022, quando a Selic estava em 2% ao ano.
O último boletim Focus projeta que a Selic terminará 2023 em 12%, 1,75 p.p. abaixo dos 13,75% atuais. A notícia é boa para quem pretende entrar em um financiamento imobiliário, mas a redução da Selic ainda deve demorar algum tempo até se refletir nas taxas de juros cobradas nos bancos.
Para especialistas, vale ainda esperar um pouco para entrar em um financiamento, a menos que se consigam condições especiais de juros. O ideal é acompanhar o mercado econômico e esperar até meados de 2024, quando os juros estarão mais baratos.
Vale a pena financiar agora?
O setor imobiliário prosperou durante a pandemia, fruto de uma união de taxas de juros baixa, preços atrativos e crédito mais acessível. O desaquecimento da economia em razão das medidas de isolamento social fez o Banco Central levar a Selic a 2%, menor taxa da história.
Contudo, a medida em que a economia foi voltando à normalidade, o avanço da inflação fez com que o Banco Central tivesse que aumentar a taxa de juros.
“O primeiro ponto para a gente entender o custo dos juros é que a Selic é uma reação do Banco Central a inflação corrente. Quando se registra uma inflação corrente maior e expectativas de inflação futuras maiores, há uma tendência de a Selic ser mais alta. Isso obviamente vai refletir em todos os mercados de crédito, inclusive o imobiliário”, resume o professor de economia da UFC, Rafael Barros.
Caso ocorra a queda na Selic, as taxas de juros imobiliários devem começar a cair nos próximos meses. Mas, para Rafael, a intenção da compra deve ser o ponto que guiará a escolha de financiar agora ou esperar.
Vale muito financiar hoje quem tem condições de conseguir taxas de juros mais baratas. Se você tem determinadas garantias que fazem com que você possa negociar uma taxa mais barata, vale sim, desde que esse imóvel seja para a sua moradia. Se não, talvez seja melhor esperar um pouco as incertezas do futuro baixarem para que o Banco Central consiga fazer uma política de juros mais barata”.
A sócia fundadora da Cifrão Educação Financeira, Juliana Barbosa, afirma que, caso seja possível esperar, o ideal é entrar em um financiamento só a partir do meio do ano que vem, pesquisando as taxas de juros junto às instituições financeiras.
“O ideal é se planejar e começar a organizar o orçamento. Separar um valor mensal e transferir para um investimento com o intuito de acumular o percentual de entrada exigido pelos bancos para concretizar o financiamento. É importante lembrar que não basta ter apenas o valor de entrada, pois, além disso, existem as taxas de cartório e impostos, como o ITIV”, diz.
Normalmente, os bancos pedem pelo menos 20% do valor do imóvel de entrada no financiamento, sendo que quanto mais for dado de entrada, menor ficarão as parcelas futuras. A dica da educadora financeira é ir juntando mensalmente e investindo, para aproveitar a rentabilidade e conseguir dar uma boa entrada.
No aguardo da casa própria
O consultor ótico, Marcos Antônio de Sousa, de 45 anos, já pretendia comprar um imóvel há algum tempo. Ele estava juntando dinheiro mensalmente e está já começando a pagar as parcelas da entrada de um financiamento, mesmo com os juros mais altos.
Seu plano era esperar até o ano que vem para dar a entrada para evitar a taxa alta, mas acabou dando o pontapé inicial de seu sonho logo após conseguir uma boa oportunidade.
“É um sonho que eu estou para realizar. É um lar para minha família, meus filhos, minha esposa. E sair do aluguel, ter minha casa própria”, comemora.
Ele reconhece que está pagando juros altos, mas devido ao prazo conseguiu parcelas que cabem no seu orçamento. A jornada para juntar o dinheiro necessário para dar a entrada foi exaustiva, mas valeu a pena.
“Eu estava guardando todo mês R$ 400, R$ 500. Mas, para isso acontecer, eu tinha que trabalhar de 7 da manhã às 7 da noite em dois empregos, e ainda fazendo alguns bicos por fora. [...] Eu tô comprando esse apartamento pela facilidade. E pelo meu filho, que é criança ainda. Se sair [o financiamento] amanhã, em quatro dias eu me mudo”, conta.
O desenvolvedor de jogos, Luan Frota, de 31 anos, está planejando comprar seu primeiro imóvel até o meio do ano que vem e, até lá, está juntando dinheiro para a entrada e esperando os juros baixarem.
“Essa possibilidade [de financiar] passou a ser mais realista quando eu conversei com um amigo que financiou e falou os valores que ele deu para entrada. E aí eu vi que não era algo tão longe da minha realidade. Desde o ano passado estou conseguindo juntar mais ou menos uns R$ 2 mil por mês e estou colocando isso para ser a entrada de um apartamento”, conta.
Hoje morando com os pais, ele pensou inicialmente em alugar um apartamento para sair de casa, mas acabou decidindo ter paciência para poder gastar o dinheiro que pagaria mensalmente com algo que realmente é dele.
“Minha ideia é conseguir, tanto pela entrada que eu vou dar, quanto por causa dos juros, conseguir pagar uma parcela de financiamento mais ou menos equivalente ao que eu pagaria de um aluguel”, espera.