Com brusca queda da demanda, casas de câmbio se esforçam para operar

Além da ausência do turismo internacional, setor sofre com a falta de perspectivas para o retorno dos voos nos níveis anteriores à pandemia. Transações de remessas internacionais têm sido uma saída para as empresas

Com a suspensão de viagens internacionais por conta da pandemia, as vendas de moeda estrangeira por corretoras e casas de câmbio chegaram a cair cerca de 90% nos meses de abril e maio, quando foram decretados os lockdowns.

Hoje, o movimento ainda está longe do que existia antes da crise desencadeada pelo novo coronavírus, o que fez com que essas empresas buscassem alternativas para continuar a funcionar, como serviços relacionados à transferência de moeda estrangeira ou foco em produtos voltados para o turismo local.

Segundo Breno Cysne, diretor de operações da Sadoc Corretora de Câmbio, o movimento caiu cerca de 70% no primeiro semestre e hoje ainda é 30% menor do que nos meses de janeiro e fevereiro. Mas, apesar da expressiva queda nas operações de câmbio, Cysne diz que a forte alta do dólar no primeiro semestre fez com que muitos turistas que tiveram suas viagens canceladas buscassem as casas de câmbio para vender o que já haviam comprado, o que acabou rendendo ganhos para os clientes, além de amenizar as perdas para as empresas.

"Durante a pandemia, a gente viu o dólar saltar de R$ 4 para R$ 5,97, então muitas pessoas que já tinham comprado a moeda antecipadamente desistiram da viagem e revenderam para as casas de câmbio com lucro. Então, isso compensou a queda da demanda em abril e maio", diz Cysne.

Com o retorno de alguns voos internacionais para Fortaleza, a partir de agosto, Cysne diz que a demanda de turistas pelo serviço de câmbio deve ficar entre 30% e 40% abaixo do registrado antes da crise.

Queda do fluxo

Como a Sadoc que, além de realizar transações de troca de moedas para turistas, é uma corretora de câmbio, a empresa continuou a oferecer serviços como remessas internacionais e de transações de exportações e importações, o que também contribuiu para atenuar os efeitos da suspensão do fluxo turístico internacional. Mas para as empresas que operam apenas na troca de moeda, a situação que já era difícil ainda preocupa.

Segundo dados da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), no pior momento da crise, houve uma redução de até 95% na comercialização do dólar turismo nas casas de câmbio.

"Abril e maio foram meses muito difíceis. Ninguém viajava e não havia qualquer demanda e hoje a situação não está muito diferente", diz Felipe Andrade, gerente da Tour Star Câmbio e Turismo. "Com a queda da frequência de turistas estrangeiros, caiu muito a oferta de moedas para as agências", diz.

A Tour Star, que opera em uma loja no Meireles, registrou uma queda na movimentação de 90% durante a quarentena e ainda não se recuperou.

"A procura diminuiu bastante, hoje estamos com um movimento que equivale a 10% do que era antes dessa crise. E sem perspectivas de melhoras, já que estão falando em uma segunda onda da doença, principalmente na Europa".

As transações com euro representam cerca de 60% das operações da empresa.

Alternativas

Como alternativa à queda da demanda, Felipe Andrade diz que a agência está focando em promoções já para 2021, com menores margens para a empresa.

"Para sobreviver, a gente está fazendo promoções de moedas, com cotações mais baixas, visando às viagens futuras. Nós também vendemos passagens aéreas e seguro viagem para quem vai ao exterior, mas está tudo parado. Estamos focando também em viagens regionais", ele diz.

Sobre outros serviços relacionados ao câmbio de moedas, Felipe Andrade diz que a empresa também tem feito remessas para o exterior, mas o volume não tem compensado a queda na movimentação na loja.

"Temos clientes que enviam dinheiro para filhos que moram fora do País, mas isso não chega a ser relevante para nós", ele diz.

"Na situação em que estamos hoje, acredito que poderia haver um incentivo maior por parte do governo, com uma maior oferta de crédito. Estamos vendo é que nessa hora de dificuldades estamos sendo deixados de lado".

Remessas internacionais

Diante desse cenário de escassez de demanda por moeda estrangeira no mercado doméstico, as operações de transferências de recursos para o País deram uma espécie de sobrevida para as empresas que atuam no setor de câmbio.

Assim, as empresas do setor focaram nos serviços de remessas internacionais, seja para pessoas físicas ou jurídicas, bem como nas operações de importação e exportação.

"O câmbio alto favoreceu as empresas exportadoras e as pessoas que tinham investimentos fora do Brasil. Então, muita gente acabou resgatando investimentos fora do País ou vendendo imóveis e transferindo esses recursos para o Brasil", diz Breno Cysne. O diretor de operações da Sadoc Corretora de Câmbio diz ainda que, se por um lado as importações diminuíram, as exportações cresceram bastante neste ano, o que também contribuiu para o resultado das corretoras. "O Brasil nunca exportou tanto", ele diz.

A grande volatilidade do real ante as principais moedas internacionais também fez com que investidores internacionais buscassem as corretoras locais para negociar taxas de forma antecipada e evitar as flutuações.

"Já recebemos vários investidores estrangeiros, principalmente do setor imobiliário, que mesmo sem poder vir presencialmente ao Brasil, já nos procuraram para garantir as taxas atuais, já que o real está muito barato", diz Cysne. "Hoje, o setor de turismo corresponde de 30% a 40% das nossas transações, o que permitiu que nós não fôssemos tão impactados como as casas de câmbio".

As remessas e pagamentos internacionais são regulados pelo Banco Central, sendo efetuadas por corretoras ou bancos de câmbio. Entre as operações mais comuns estão a manutenção de residentes no exterior, como fazem pais de alunos de intercâmbio, por exemplo, ou de pessoas que trabalham fora e remetem dinheiro para familiares que estão no Brasil.

Esse tipo de operação também é utilizada para o pagamento de fornecedores, para aluguel ou compra de imóveis, investimentos no exterior, dentre outros.

Expectativa

Quanto às perspectivas para que o setor retome os níveis de movimentação de antes da crise, Cysne acredita que dependerá do grau de retomada dos voos internacionais, principalmente para Estados Unidos e Europa.

"Os Estados Unidos continuam com fronteiras fechadas e a Europa está flexibilizando, mas não dá para dizer em quanto tempo isso será normalizado", ele diz.

"A nossa previsão é que, até a definição das eleições americanas, a gente não terá uma flexibilização. Nós acreditamos que, em dezembro ou janeiro, os Estados Unidos tendem a começar a abrir as portas para os estrangeiros", prevê o empresário.

De todo modo, quando as viagens forem retomadas, Cysne acredita que o mercado de turismo poderá ter uma rápida recuperação. "Há uma demanda reprimida muito grande, mesmo com esse câmbio elevado", aponta.