Com avanço digital, lojas físicas perdem espaço e devem focar experiência de consumo no pós-pandemia

A experiência presencial ainda é algo muito importante para os consumidores, aponta especialista do Sebrae. Estabelecimentos vão precisar passar por readaptações

Com os lockdowns e as restrições impostas pela pandemia, é certo que o funcionamento presencial do comércio foi diretamente afetado. Enquanto alguns empresários tiveram de encerrar a atuação pelos altos custos de se manter lojas físicas, outros buscaram estratégias para permanecer no mercado, como as vendas online.  

A chefe de gabinete do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/CE), Alice Mesquita, pontua que ter um ponto físico não deve se tornar algo obsoleto no pós-pandemia que, aliado ao mercado digital, vai ser fundamental para as empresas.  

“Não acredito que todo mundo vá fechar lojas físicas quando o comércio voltar a funcionar normalmente. Uma fecha, outra abre. A experiência do consumidor, de experimentar ou sentir cheiros, por exemplo, ainda é algo muito importante para os clientes, que nem sempre dá para ter com o digital”, afirma. 

Contudo, para atender às atuais necessidades dos clientes, os empresários vão ter de fazer readaptações, segundo Mesquita. “Isso passa, inclusive, pelo modelo de atendimento. As pessoas querem ser bem recebidas, entender os benefícios que aquele produto pode trazer”.  

Além do pagamento de funcionários, os estabelecimentos físicos incluem série de valores como aluguel, energia elétrica, água, decoração, impostos e outros. O que tem feito muitos empreendedores apostarem direto na modalidade online. 

Objetivos no futuro 

É o caso da arquiteta Marcela Arruda, de 29 anos, que viu no isolamento social uma oportunidade para empreender no ramo da moda.  

Ela, que sempre teve o sonho de ter o próprio negócio, encontrou na Amila a oportunidade para entrar no mercado. Analisando as tendências e vantagens do mercado digital, Marcela lançou a marca no Instagram e site. 

No entanto, Marcela não descarta investir em um espaço físico futuramente, quando a marca estiver mais consolidada, para conseguir organizar melhor os estoques da loja e ter um espaço mais adequado para tirar fotos e receber as clientes.

“Um dos motivos [de funcionar somente no online] também foi a pandemia, pois tudo é muito incerto. Não sabemos se vai passar nem quando. Além disso, ter uma loja física requer muitos custos, que ainda não compensam para mim que estou no começo”.  
Marcela Arruda
arquiteta e empreendedora

A arquiteta pontua ainda que a visibilidade proporcionada pelas mídias sociais também ajuda bastante, além de ter a possibilidade de funcionar 24h com sites, por exemplo. “O que tem ajudado bastante neste começo nas redes sociais para divulgar são os perfis de digitais influencers, a questão do site é uma boa também que torna a compra mais prática”.   

Apostas em datas comemorativas 

Assim como Marcela, a jovem Gabrielle Andrade, de 23 anos, investiu no próprio negócio online. Mas para ela, o ponto físico não é um objetivo. “Eu pretendo me manter no digital mesmo, as coisas podem mudar daqui pra frente, mas por enquanto não vejo tanta necessidade de ter um espaço físico, pois trabalho com encomendas e entregas, então acho que funciona bem”, revela. 

A ideia de abrir o negócio, segundo a estudante de odontologia, aconteceu de forma natural. Sem poder sair para comprar presentes em 2020, ela decidiu juntar itens que tinha facilmente em casa para fazer algo mais personalizado para o amado no Dia dos Namorados. 

“Sempre gostei de fazer presentes manuais e artesanais. Fiz o presente dele todo com itens úteis pra ele, postei no Instagram e várias pessoas gostaram. Comecei a pensar que, se eu começasse a vender, poderia dar certo”, conta. 

Assim, a estudante de Odontologia conseguiu garantir uma fonte de renda enquanto a formatura não chega. Na Go Box, Gabrielle oferece caixas personalizadas que incluem opções com fotografias, flores, além de comidinhas.  

Apostando em datas comemorativas para o início do pequeno empreendimento, Gabrielle relata ter tido um retorno positivo

"No Dia dos Pais, criei 3 modelos, teve uma super aceitação, vendi bem pra uma primeira vez e, desde então, as pessoas não param de pedir. O sucesso se repetiu na Páscoa e no Natal”.  
Gabrielle Andrade
empreendedora

As expectativas de faturamento para o Dia das Mães, comemorado neste domingo (9), são altas e a oportunidade trouxe um passo importante para a marca: a profissionalização com a criação do Instagram empresarial. “Meu pessoal já não estava mais dando conta”, comemora.  

As cearenses não são casos isolados. Dados da Junta Comercial do Estado do Ceará (Jucec), vinculada à Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), apontam que o Ceará registrou mais de 89 mil empresas abertas somente em 2020, uma alta de 4,86% em relação ao ano anterior. 

Como apostar no digital? 

A transição para o mercado digital, de acordo com Alice Mesquita, já vinha ocorrendo há alguns anos, mas a pandemia acelerou o processo. “Aquelas que conseguiram se adaptar mais rapidamente, obtiveram melhor desempenho no ano passado”, analisa. 

Mesquita afirma ainda que a transição de empresas para o online foi a principal demanda das consultorias do Sebrae em 2020. “Pessoas que queriam ter um canal mais profissional, atrair consumidores, além de viabilizar a entrega das mercadorias, pois muitas não estavam habituadas ao delivery”, detalha.  

Além disso, a especialista alerta que é preciso ter ciência de alguns passos antes de investir no negócio, mesmo com as facilidades do digital, para garantir um bom desempenho. Um deles, por exemplo, é ter estratégias para o uso das redes sociais.  

“O empreendedor tem que usar as redes a favor dele, interagir com os clientes, não deixar ninguém sem resposta e ser sempre o mais honesto possível. Tem que fazer um impulsionamento e investir nessa área”.  
Alice Mesquita
chefe de gabinete do Sebrae/CE

 Para Mesquita, é fundamental também ser honesto quanto aos prazos de entrega e possibilitar, sempre que possível, uma rápida entrega. “É preciso também que o consumidor se sinta seguro na hora de efetuar o pagamento, garantir os meios de pagamento que passem confiança, acrescenta.