Rotterdam (Holanda). Um porto estatal, mas com governança corporativa de executivos escolhidos no mercado, focado na qualidade dos serviços que oferece aos clientes, na obediência aos contratos e no lucro - no ano passado, foram destinados 80 milhões de euros em forma de dividendos para os seus dois donos - o governo federal da Holanda e a Prefeitura da cidade. O resto, 200 milhões de euros, foi reinvestido.
Eis o modelo do Porto de Rotterdam que, até o fim deste ano, poderá ser sócio da Cearáportos, gestora do Porto do Pecém, no Ceará, se forem superados os desafios jurídicos, que não são poucos. O Memorando de Entendimento (MoU, na sigla em inglês) que será celebrado amanhã com vistas a essa parceria conterá uma cláusula de confidencialidade. Assim, todos os entendimentos e negociações entre a autoridade do Porto de Rotterdam e a Cearáportos - com a participação da Procuradoria Geral do Estado - serão sigilosos a partir da assinatura do documento, redigido em português e em inglês.
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Navegação
As autoridades e empresários que integram aqui a Missão Ceará navegaram ontem pelos 42 quilômetros de cais do Porto de Rotterdam, detendo-se no Terminal Automatizado de Contêineres da dinamarquesa APM Terminalls, que opera também no Pecém, e na refinaria da British Petroleum (BP).
Ao longo da navegação, os cearenses surpreenderam-se com uma usina termelétrica movida a carvão mineral, localizada exatamente em uma ilha artificial. E surpreenderam-se mais ainda com a informação de que a usina foi ali implantada com permissão das autoridades holandesas do meio ambiente. De sua chaminé, saía uma grossa fumaça cinzenta, e seu pátio de armazenamento de matéria-prima estava a poucos metros do mar.
Na exposição que fez para o grupo cearense, o diretor-geral do Porto de Rotterdam, René van Der Plas, informou que o terminal tem 1.200 empregados (30% do quadro de servidores da Assembleia Legislativa do Ceará) e gera 100 mil empregos nas empresas instaladas dentro do Porto e mais 200 mil nas que operam fora de sua área municipal e em outras cidades da Europa, todas diretamente ligadas às suas atividades. Plas fez questão de falar sobre os contratos que o Porto celebra com seus clientes.
O diretor administrativo da Fiec, Ricardo Cavalcante; o empresário Luciano Cavalcante; o presidente da Fiec, Beto Studart; o secretário de Des. Econômico, César Ribeiro; e o diretor superintendente do Sistema Verdes Mares, Edson Queiroz Neto
"O difícil é fechar os acordos, mas depois que o contrato é assinado, ele vale por 25 anos, prorrogável por mais 25. É necessário esse longo prazo para que o cliente possa recuperar o investimento que fez. Após o contrato, o Porto passa a ser parceiro do cliente, atendendo-o em suas necessidades, como um estacionamento maior para veículos ou uma dragagem. O Porto de Rotterdam contribui com até 6% na composição do Produto Interno Bruto (PIB) holandês", disse.
Relacionamento
E como é a relação da Prefeitura de Rotterdam e do governo federal da Holanda com o Porto? Plas explicou que cada um dos donos tem representante no Conselho de Administração do Porto, ao qual cabe aprovar o seu plano estratégico quinquenal. E só. A gestão do Porto de Rotterdam é feita por profissionais captados no mercado.
Ele disse e repetiu que o Porto de Rotterdam tem foco na qualidade dos serviços que presta aos clientes e no lucro. O governo federal tem uma tarefa: manter, com dragagem, a profundidade do canal principal. A Prefeitura tem a posse da terra, mas dá concessão eterna ao Porto que, em contrapartida, lhe paga dividendos anualmente.
René van Der Plas foi perguntado sobre a diferença entre a provável parceria do Porto de Rotterdam com o Porto do Pecém e a já celebrada, há cinco anos, com o governo do Espírito Santo para a construção e gestão do Porto Geral, naquele Estado. Sua resposta: "Pecém já existe, está em operação e tem uma boa infraestrutura. O outro ainda é só um projeto".
Reunião
O governador do Ceará, Camilo Santana, chegou ontem a Rotterdam onde, juntamente com membros da sua equipe, se reuniu com o prefeito da cidade, Ahmed Aboutaleb.
A embaixadora do Brasil na Holanda, Regina Dunlop; o cônsul Cezar Amaral; o diretor do Porto de Rotterdam, Rene van der Plas; o presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Edilberto Pontes; o presidente da Cearáportos, Danilo Serpa; e o secretário de Assuntos Internacionais, Antônio Balhmann, também participaram da reunião com o prefeito de Rotterdam.