As alterações climáticas e os prejuízos causados pelo aquecimento global não são preocupações recentes. Nos últimos anos, países têm se empenhado para reduzir a emissão de gás carbônico por meio de diversas estratégias, uma delas é a utilização da mobilidade elétrica, com veículos movidos à eletricidade e não mais à combustíveis fósseis.
Evento online realizado nesta terça (3) e quarta-feira (4) pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), o Seminário da Mobilidade Elétrica reúne diversos especialistas para debater sobre a importância e os desafios da expansão desse modal.
Nesta quarta-feira (4), o evento recebe especialistas e importantes nomes da área para falar sobre “Conhecimento e inovação”, “Cases inspiradores” e “A agenda ESG como impulsionadora da mobilidade elétrica”.
Para além da implantação da tecnologia, o vice-prefeito de Fortaleza e Superintendente do Instituto de Planejamento (Iplanfor), Élcio Batista, reflete a necessidade da mudança de comportamento da sociedade como um todo.
“Não é só fazer a mudança do carro a combustível fóssil para o carro elétrico. É também fazer com que as cidades se desenvolvam a partir de perspectivas para resolver questões que são fundamentais. O crescimento delas foi baseado na dispersão, que causa muitos prejuízos sociais e econômicos. Esse modelo de crescimento precisa ser revisto”.
Estratégias locais
De acordo com o vice-prefeito, a capital cearense desenvolve estratégias pautadas na sustentabilidade por meio do transporte com o Fortaleza 2040, como tem sido feito com o Bicicletar e o Vamo, sistema de compartilhamento de carros elétricos implantado em 2016.
Além disso, a capital saltou de 68,2 km de rede cicloviária em 2012 para 385 km em 2021. “Até o fim da gestão do prefeito Sarto, Fortaleza deve alcançar 500 km desse modal”.
Projeto similar tem sido desenvolvido no estado com o Ceará 2050, com objetivos baseados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Além disso, desde 1992, o Ceará possui uma legislação que isenta do pagamento do IPVA os veículos de motor elétrico.
O Plano de Governo atual estabeleceu objetivos para maximizar o uso de biocombustíveis e estimular a instalação de infraestrutura para carros elétricos em parceria com a iniciativa privada, conforme pontua o Secretário Executivo de Regionalização e Modernização da Casa Civil do Estado do Ceará, Célio Fernando Bezerra.
Participaram ainda do painel sobre políticas setoriais e de incentivos, Cristina Albuquerque, gerente de Mobilidade Urbana do WRI Brasil; Simão Saura Neto, Superintendente de Engenharia na São Paulo Transporte S.A - SPTrans; Maína Celidonio, Secretária Municipal de Transportes do Rio de Janeiro; com a moderação de Jurandir Picanço, consultor de Energia da Fiec e presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Ceará – CSRenováveis/CE.
Panorama atual e desafios
O outro painel do evento “Tecnologias e tendências” contou com moderação de Wellington Brito, professor da Universidade de Fortaleza e secretário-geral da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Ceará, e trouxe Flávia Consoni, professora no Departamento de Política Científica e Tecnológica, da Unicamp); Lillian Monteath, pesquisadora sênior do Gesel; Expedito Parente Júnior, Coordenador de Inovação da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado do Ceará; e Paulo André Holanda, diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Ceará (Senai-CE).
Com um mercado crescente na última década, o estoque desses veículos não é homogêneo nos países, de acordo com Flávia Consoni. “É uma tecnologia que ainda custa muito caro e não há política de incentivo para a questão elétrica no Brasil, por exemplo".
Apesar disso, a pesquisadora pontua que, “ainda que o mercado consumidor esteja ganhando volume nessa nossa última década, as políticas para desenvolvimento para a mobilidade elétrica mundo afora tiveram início ainda nos anos 1970, muito puxada pela questão da crise do petróleo”.
Para Lilian Monteath, este momento é definidor para o mercado, uma vez que “o mundo todo está determinando as datas que vão parar, as infraestruturas das montadoras vão migrar pra essa eletrificação e vai chegar no Brasil. Quem se preparar, vai conseguir surfar bem nessa onda”.
Não só o custo é um desafio, há ainda a desvalorização da pesquisa, segundo Paulo Holanda. “Os fundos de pesquisa estão praticamente contingenciados, acaba o Brasil ficando sem recursos para fazer pesquisa. Não há possibilidade fazer inovação sem fazer educação em todos os níveis”.