O grupo Alvoar Lácteos, detentor das marcas Betânia, Embaré e Camponesa, está realizando uma expansão na sua fábrica, em Morada Nova, para ampliar a produção de iogurtes em 30%. O local possui, atualmente, 900 postos de trabalho, e deve abrir mais 50 vagas. A inauguração desta ampliação está prevista ainda para o final deste ano e o investimento é de em torno de R$ 20 milhões. As informações foram passadas pelo CEO da Alvoar, Bruno Girão.
Ele lembrou que nos últimos dois anos a fábrica já estava passando por ampliações e investimentos, com plantas de leite em pó e de leite condensado e, agora, o foco será nas linhas de iogurtes. "Estamos terminando alguns investimentos e aumentando a nossa planta de iogurtes para produzir 30% a mais. Então, aqui para o Ceará, nos próximos seis meses estamos com essa previsão de investimento, em torno de R$ 20 milhões".
Girão comentou que a planta de Morada Nova é a que atende toda a região Nordeste e que esses investimentos só foram feitos porque o Governo do Estado "equalizou os incentivos fiscais com os outros estados da região".
Em janeiro deste ano, a venda de produtos lácteos no estado do Ceará recebeu isenção de 100% do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS). Com isso, o governo teve a intenção de tornar o Ceará mais competitivo para atrair novas indústrias do segmento leiteiro, fomentando a geração de empregos.
"Antes era mais ou menos a mesma condição que a Bahia e Pernambuco dava e agora com essa redução de ICMS resolvemos manter a planta aqui", reforça o empresário, lembrando também que o grupo chegou a avaliar se não valeria a pena levar a planta para outros estados por questões fiscais. "Então, nesse sentido, o Ceará está sendo mais uma vez beneficiado com os investimentos do grupo".
Sobre a geração de emprego, além dos cerca de 50 novos postos de trabalho, Girão comenta que na cadeia láctea, a maioria dos empregos são gerados no campo. "A cada 50 litros de leite produzido, um novo emprego é gerado na cadeia como um todo".
Produtor no Ceará recebe menos que em outras regiões
Mesmo sendo o segundo maior produtor da região Nordeste, perdendo apenas para a Bahia, no Ceará os produtores ainda são mal remunerados pelo seu leite. Conforme o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, foi recentemente negociado um aumento de R$ 0,10 por litro de leite no Estado e se espera até o final deste mês um novo aumento, porém sem valor definido.
"A indústria deveria remunerar melhor o produtor, pagar pela qualidade do leite. Na região sul e sudeste a média do litro é de R$ 2,70, R$ 2,80. Aqui tem produtor recebendo R$ 2,10, R$ 2,15. Então esse é um valor que ainda tem que aumentar muito, ainda mais porque os nossos custos de produção são maiores dos que os deles e precisamos equilibrar isso".
Já o CEO da Alvoar destaca que dizer que os produtores do Ceará recebem menos do que os do sul e sudeste "não é uma verdade absoluta".
É preciso entender que a indústria láctea, para pagar mais um produtor, precisa ter um produto de valor agregado".
Além disso, ele também atribui ao poder aquisitivo de compra da população o preço mais baixo nos produtos e, consecutivamente, no pagamento da matéria-prima. "Como a renda média da população do Nordeste é um terço da renda per capita de São Paulo, por exemplo, a metade da renda per capita do Brasil, normalmente o que acontece é que a indústria láctea aqui tem um mix de produtos de venda menor, agrega menos valor e, portanto, tende a não pagar os preços que o Sudeste paga".
A outra questão que ele aponta como importante na avaliação do preço pago pelo litro do leite ao produtor, é a qualidade do conteúdo de sólidos do produto - que são lipídios (gordura), carboidratos, proteínas, sais minerais e vitaminas.
"O leite não é só aquilo que a gente vê, ele tem um conteúdo de sólidos dentro dele. Como no Nordeste a vaca não é plenamente alimentada, como em outras regiões do Brasil, o leite dela tem um teor de sólidos menor". O empresário argumenta que esse fator de menor quantidade de sólidos afetaria o rendimento industrial.
"Você precisa de mais leite para fazer um quilo de queijo, um quilo de leite em pó, e isso acaba sendo descontado no valor pago pelo litro ao produtor. Essa é a razão".
Inspeção do leite no Estado ainda é um desafio
Durante o evento Pecnordeste, ocorrido no início deste mês de junho, um dos pontos apontados como desafiadores para o setor produtivo de leite foi o da inspeção. No Ceará, cerca de 30% da produção, apenas, é inspecionada. Sobre esse ponto, Girão comenta que as regiões Norte e Nordeste são as que menos industrializa em inspeção Federal ou em inspeção de alguma forma. No sul e sudeste essa porcentagem seria entre 60 e 70%.
"Aqui tem muitas pequenas queijarias, por exemplo. Então, o Nordeste ainda tem um passo grande para avançar nisso. Nós, como indústria, a Alvoar, nas marcas Betânia, Camponesa, Betânia Kids, ou seja, todas as nossas plantas são inspecionadas, com selo de inspeção federal, que nos permite, inclusive, exportar, vender em diversos estados do País, além de ter um nível de fiscalização muito maior para empresas que têm esse selo de inspeção".
O CEO da Alvoar lembra que a Betânia tem, desde 1974 o selo de inspeção federal por entender que esse é um valor do produto e avalia que o aumento de inspeção no leite deixaria, inclusive a competição de mercado mais equilibrada, mas pondera que ter a inspeção federal é um investimento que a indústria local tem que fazer, mas que, obviamente, para ter um selo é preciso ter um nível de qualidade maior.
"Esse é um valor agregado muitas vezes não muito entendido pelo consumidor, mas é de fato a inspeção federal que ajuda as indústrias a se modernizarem e terem mais qualidade nos produtos, então é algo que agrega valor a longo prazo, deixando a competição de mercado mais justa".
Bruno Girão participou de almoço da AJE
A entrevista com Bruno Girão, CEO da Alvoar, ocorreu durante o almoço da Associação de Jovens Empresários (AJE) do Ceará. Para o próximo mês, segundo o coordenador-geral da entidade, Lucas Melo, o convidado será o CEO da Solar Coca-Cola, André Sales. Ele afirma que os almoços visam a troca de experiências entre os associados e nomes do empresariado cearense.
*Colaborou Ingrid Coelho