Chuvas no Ceará devem ser favoráveis na pré-estação, projetam meteorologistas

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de Meteorologia (INMET), Somar Meteorologia e Climatempo avaliam possíveis influências do fenômeno La Niña no aumento das precipitações no Estado, a partir de novembro deste ano

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(Atualizado às 14:31)
Legenda: Combinação de fenômenos que alteram temperatura dos oceanos são determinantes para ocorrência de chuvas no Ceará
Foto: Fabiane de Paula

Todo ano, as preces do cearenses são por um "bom inverno", com chuvas que reguem as plantações e encham os reservatórios. Para 2021, as perspectivas são positivas. Levantamento do Instituto Americano de Meteorologia e Oceanografia (NOAA) apontou que o La Niña, fenômeno que aumenta a probabilidade de chuvas no Ceará, entrou em atividade neste mês. Meteorologistas avaliam que cenário é favorável para chuvas dentro ou acima da média no Estado, entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021.

De acordo com Dóris Palma, da Somar Meteorologia, o La Niña “consegue mudar toda a circulação dos ventos na atmosfera” e, com isso, “as chuvas tendem a aumentar no Nordeste brasileiro, principalmente no verão”. Isso ocorre porque, segundo a meteorologista, o fenômeno “intensifica a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)”, um dos principais responsáveis pelas precipitações no Ceará.

Em geral, os episódios de La Niña podem durar entre nove e 12 meses, como aponta Dóris, mas o atual deve ser mais curto e fraco, com duração de até um semestre. 

“As simulações atuais começam a ver uma chuva se normalizando a partir de novembro deste ano. Até fevereiro de 2021, ainda teremos anomalias positivas, ou seja, expectativa para chuva dentro e acima da média no Nordeste e, então, no Ceará”, estima Dóris.

Filipe Pungirum, meteorologista da Climatempo, reforça que o limiar para ocorrência do La Niña foi atingido no Brasil entre agosto e setembro, mas que “ainda não temos nenhum efeito” do fenômeno. A expectativa, porém, “é de que as condições se mantenham assim e que, entre novembro e fevereiro, nós tenhamos, sim, uma condição mais favorável a chuvas no Nordeste e no Ceará”.

Cautela

Apesar da estimativa favorável, Filipe alerta que o atual La Niña deve ser “de mínima duração, com cinco meses, e menor intensidade”, e que o fenômeno “representa uma grande parte das variabilidades climáticas”, mas existem outros fatores que impactam diretamente no regime de chuvas no País e no Ceará.

A cautela também é recomendada por Leydson Dantas, meteorologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que rebate inclusive a informação de que o La Niña já está ativo no País. “Para ter La Niña, é necessário a temperatura da região ficar 0,5ºC inferior por três meses. Ainda não atingimos. As agências americana, europeia e australiana indicam três níveis: alerta inicial, alerta 2 e ocorrência do La Niña. Hoje, estamos no alerta 2”, indica.

Segundo Leydson, o boletim estadunidense aponta 75% de probabilidade de haver La Niña até novembro, e o fenômeno atingiria intensidade máxima ao fim de 2020. Com a tendência confirmada, o que deve ocorrer nas próximas semanas, a incidência de chuvas no Ceará seria, de fato, maior. 

“Se o fenômeno se consolidar e a temperatura da superfície do Atlântico Sul estiver favorável, a tendência é de que as chuvas no Nordeste, incluindo o Ceará, fiquem entre normal e acima da média. Isso é esperado”, finaliza Leydson.

Morgana Almeida, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), explica que o La Niña é apenas um dos “pilares” que sustentam a ocorrência de chuvas por aqui. “No Nordeste, temos outro fator que influencia: a ZCIT. Precisamos ter uma combinação desses dois pilares. Como um deles já aponta para uma probabilidade de acontecer, já seria um fator positivo para a pré-estação”, avalia.

Animador

O panorama sinaliza um quadro “bastante animador”, segundo ela, inclusive pelo fato de a quadra chuvosa cearense ter sido favorável, em 2020. As chuvas registradas no Ceará entre fevereiro e maio deste ano ficaram acima da média histórica pela primeira vez em dez anos. Segundo dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), o Estado contabilizou 734.6 milímetros no quadrimestre, cerca de 22,3% acima do normal para o período, que seria um acumulado de 695.8 mm.

Outro ponto positivo da última quadra foi a distribuição das chuvas, que chegaram, inclusive, ao interior do Ceará. Entre o início dos anos 2000 até 2020, somente as estações chuvosas de 2009, com 965.7 mm, e 2008, com 768.2 mm, haviam atingido nível superior à média normal. No contexto cearense, volumes superiores a 695.8 mm são considerados “acima da média”.

Entretanto, como as análises sobre os próximos meses se tratam de probabilidades, é preciso considerar que o cenário pode não ocorrer como o esperado, como destacam todos os profissionais ouvidos pelo Sistema Verdes Mares.

“Para sabermos os efeitos do La Niña, precisamos aguardar pelo menos o fim de setembro, para vermos como as anomalias vão se comportar. Mas hoje, há uma grande probabilidade de ficarmos sob a influência desse sistema até o final do verão”, esclarece Morgana.

No Sul do Ceará, estima, as primeiras chuvas já serão registradas a partir de novembro. A pré-estação chuvosa, porém, é iniciada oficialmente em dezembro, se estendendo até janeiro.

Em nota, a Funceme informou que “apesar dos padrões observados no Oceano Pacífico serem importantes, as condições do Oceano Atlântico são decisivas para definir a qualidade da estação chuvosa”, referindo-se aos dois pilares já mencionados pela meteorologista do INMET.

A agência cearense complementou, ainda, que “os padrões dos dois oceanos se confirmam mais próximo ao final do ano, quando se aproxima o principal período de precipitações no Ceará, em fevereiro”.

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