Cães pit bull: ataques estigmatizam a raça
Reações agressivas são consequências da experiência à qual o animal é submetido, segundo veterinária
A agressividade ainda é um estigma que persegue cães da raça American Pit Bull Terrier, ou simplesmente pit bull. O grande porte e a musculatura robusta costumam gerar medo à primeira vista, principalmente em quem não é familiarizado com o animal. O ataque de um cão pit bull aos donos, no bairro Bonsucesso, na noite da terça-feira (27), levantou novamente o debate sobre os possíveis riscos do porte e da condução em espaços públicos dessa raça.
Segundo a médica veterinária e professora de clínica médica de cães e gatos, Glayciane Bezerra de Morais, reações agressivas são consequências da experiência em que o animal é submetido. “Eu não acredito que exista uma explosão agressiva de comportamento sem que haja algum fator desencadeante. O pit bull não é agressivo naturalmente”, afirma. A veterinária explica que o manejo, a criação ou mesmo a excitação podem induzir comportamentos violentos. “Geralmente são manejados para a guarda, competição, então já criam uma postura defensiva. São cães que se adequam muito ao adestramento e algumas pessoas trabalham mais a agressividade”, avalia Glayciane Bezerra.
"Se você souber cuidar ele vai te dar, como todo e qualquer outro cachorro, carinho e amor de volta”, relata o designer gráfico, Marcos Bezerra, sobre a sua experiência como criador de pit bull. Ele tem atualmente um filhote de dez meses que pesa 45 quilos, sendo sua terceira criação. Marcos enfatiza a importância da sociabilidade, aspecto fundamental para o desenvolvimento do animal. “Meu cachorro hoje é altamente sociável, brinca com todo mundo. Quem cria ele é minha mãe, que tem 56 anos, e ele respeita ela demais”, diz.
Apesar de ser um cão de musculatura forte, mandíbula de mordida forte e corpo robusto, a médica veterinária pontua que o pit bull apresenta características vulneráveis, sendo “extremamente frágeis quando se fala de doenças infecciosas e de outros contextos”.
Ataques
Animais domésticos em geral, em ambientes que causam estresse, podem apresentar reações agressivas. “Às vezes o ambiente é provocativo porque é confinativo, muito pequeno e o animal não tem espaço para expressar todas essas necessidades de comportamento, como correr. Às vezes são animais que ficam em canis, locais muito pequenos como apartamentos e não há aquele hábito de descer e deixar o animal andar, caminhar", detalha Glayciane Bezerra.
A professora explica que sinais de estresse podem ser percebidos de maneiras diferentes em cães e gatos. Para donos de cachorros, comportamentos compulsivos, ataque à cauda, super alimentação, latidos excessivos, uivos e rosnados, e, em última escala, a própria agressividade, quando há muito incômodo e movimentação, são considerados como alertas. Já os de gatos podem desenvolver Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), apresentando muita higienização e lambedura, maior alimentação e apresentar um “comportamento mais acuado, mais voltado pro esconderijo”.
Já Marcos Bezerra aborda a perspectiva da agressão ao animal. "Tem muitos donos que puxam o cachorro pelo coro, batem no cachorro. A única coisa que você pode fazer é dar uma palmadinha no focinho e dizer 'não', mas se você pega uma vassoura ou um chinelo para bater, isso gera uma desconfiança no cachorro, que não confia mais de jeito nenhum”, afirma. “Se ele ver que errou, ele vai saber que você vai bater e antes disso ele vai te agredir. Então isso pode gerar todo um histórico", alerta o criador.
Estigmatização
Segundo a Lei Estadual n° 13.572, é proibido o porte e a circulação de cães da raça pit bull em áreas e vias públicas de todo o Ceará, exceto em logradouros, jardins e parques públicos das 23h às 04h, com uso de guias com enforcador e focinheira.
Para Marcos Bezerra, a sanção é “muito injusta”. "Eu acho muito desconfortável para o meu cão a focinheira, eu não uso. Eu confio no meu cachorro, eu sei o que meu cachorro faz e sei o que ele deixa de fazer. Eu tenho domínio sobre o meu cachorro, isso é muito importante, o que eu falo para ele está dito”, reclama o criador. Mas pondera que “existem donos que não sabem criar e colocam as pessoas em perigo".