Longe dos postes de luz e prédios dos centros urbanos, o céu cearense ganha em brilho natural nos municípios afastados da poluição luminosa, do vento e da formação de nuvens. A visão privilegiada dos fenômenos astronômicos, comum no Estado, desponta em cidades como Santa Quitéria e Quixadá e evidencia o potencial para o turismo de observação.
No Dia da Astronomia, celebrado nesta quinta-feira (2) no Brasil, estudiosos e amantes da astronomia compartilham experiências em busca de acompanhar eclipse, cometas, conjunções de planetas, entre outros fenômenos, no Ceará. A lista de locais citados passa por Crateús, Tauá, Parambu e Pindoretama.
Do solo cearense, dá para ver os eventos astronômicos dos hemisférios norte e sul, sendo possível identificar foguetes lançados da Guiana Francesa e China, por exemplo. Objetos nas redondezas do centro galáctico, como as Nebulosas Trífida e da Lagoa, também são avistadas.
“Quando avança no Interior, começa a melhorar o cenário. Eu já observei, fiz fotografias e usei telescópio em algumas cidades e o que eu percebo é que, saindo da Região Metropolitana, a gente tem boas cidades para observação como Paramoti, Canindé, Quixadá”, analisa Lauriston Trindade, astrônomo amador.
Ficar “a meio caminho de lugar nenhum”, como descreve, possibilita enxergar a beleza escondida pelo cenário urbano e a riqueza para estudos científicos. “Andar no meio do sertão só com a luz das estrelas é uma experiência que as pessoas deveriam viver”, destaca.
A região rural de Santa Quitéria é absolutamente excelente, um dos melhores céus que eu já vi, porque é muito escuro e você consegue ficar afastado da sede do município
Em um ambiente muito escuro, a luminosidade do céu pode, inclusive, formar sombra das pessoas e objetos. “Nessas épocas, é possível ver que Vênus faz sombra - se você colocar uma folha de papel branco”, ressalta o também membro da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (Bramon).
Fugir do vento também é importante para as observações, como ressalta Ednardo Rodrigues, professor de astronomia e colaborador da Seara da Ciência, na Universidade Federal do Ceará (UFC). “De preferência, se deve evitar regiões litorâneas, pois venta muito. Isso além de fazer o telescópio vibrar, leva muita areia para dentro do equipamento”
Além disso, “regiões serranas também devem ser evitadas porque são muito úmidas gerando orvalho nos espelhos dos telescópios”, completa.
Os clubes de astronomia percorrem o interior do Estado, mas ainda não contam com nenhuma estrutura para observações. “É um potencial gigantesco, em países como Chile, os grandes telescópios do mundo estão instalados lá, porque tem o céu limpo, não tem grandes cidades por perto”, frisa.
Como aumentar o alcance
O potencial citado por Lauriston pode ser melhor aproveitado com a construção de um observatório astronômico no Interior, como propõe o professor Ednardo Rodrigues.
“Temos muitos observatórios na Capital, mas onde justamente é melhor de observarmos, é onde somos mais escassos de observatórios”, analisa. O professor nota o aumento de interessados no assunto com maior procura pelo Hospital do Telescópio, para conserto de equipamentos, na Seara da Ciência.
Aqui no Ceará existem regiões com poluição luminosa quase tão baixa quanto no Deserto do Atacama, no Chile, onde fica o melhor observatório do mundo. O que pode ser empecilho é a acessibilidade
Ednardo observa a criação de grupos que saem de Fortaleza em busca de registrar eventos como o Cometa Neowise em 2020.
“Em Quixadá, existem pousadas no Santuário da Rainha do Sertão e na Pedra dos Ventos, que podem servir de apoio aos amantes da astronomia. As proximidades da tranquila cidade de Paramoti também são ótimos para a observação”, aponta.
Ampliar o interesse e o acesso aos eventos astronômicos entre os cearenses depende do investimento na formação de professores. “É preciso realizar Encontros Regionais de Astronomia (Erea) onde professores, principalmente da rede pública, recebem formação sobre o tópico de Astronomia”.
Em busca de enxergar o céu
Ainda assim, estudantes ainda no ensino médio se destacam em olimpíadas de astronomia, como é o caso da Bianca Lima, de 17 anos, já com seis medalhas conquistadas.
"Em Fortaleza, eu gosto de observar as estrelas na praia, o mais afastado possível que eu conseguir dos prédios e postes. Perto do mar mesmo dá para olhar para o céu e ver muita coisa bonita", compartilha.
Bianca aproveita viagens em família para fazer observações astronômicas. "Eu já realizei algumas viagens para o Paracuru, onde o céu à noite é um espetáculo. Mas depende do lugar onde você está porque lá ainda é uma cidade com muita poluição luminosa, mas bem menos que Fortaleza", pondera a estudante.
A busca por lugares afastados dos prédios e das luzes urbanas também acontece fora da Capital. “O Ceará tem muitos pontos nos quais você pode ter uma ótima experiência, como o interior da cidade de Pindoretama, a cidade de Paracuru, a Serra do Mel e muitos outros”, indica.