Pesquisa estuda possibilidade de animais de estimação serem infectados pelos donos com Covid-19

Pouco contato com os animais durante infecção por coronavírus é o mais indicado por cientistas

A exposição ao coronavírus e a infecção de animais de estimação foi tema de uma pesquisa desenvolvida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os pesquisadores analisaram 39 gatos e cachorros de 21 famílias com algum membro que testou positivo para Covid-19 no Rio de Janeiro. De acordo com o estudo, pelo menos nove cachorros e quatro gatos testaram positivo para o vírus.

Nenhum dos animais estudados teve sintomas fortes relacionados à Covid-19, mas 46% deles desenvolveram algum sinal clínico leve relativo à infecção. O estudo, coordenado pelo infectologista Guilherme Calvet, colheu também amostras de sangue que determinaram a presença de anticorpos contra o vírus em um cão e dois gatos. 

Animais castrados que participaram do estudo foram mais suscetíveis ao vírus, sendo a castração associada como um “fator de risco” pela pesquisa. Isso se deve ao fato de que o animal castrado geralmente passa mais tempo em casa e é menos agressivo, aumentando ainda mais a interação entre dono e pet. No entanto, os pesquisadores reconhecem que mais estudos sobre isso são necessários para confirmar a associação.

Outro fator apontado pelos cientistas é que quanto maior contato com os bichos, como dormir na mesma cama com gatos ou cachorros, maiores os riscos de infecção por Covid-19 desses animais. Caso algum membro da casa seja infectado, o recomendado é isolá-lo não só dos outros seres humanos, mas também dos animais de estimação. A pesquisa recomenda o uso de máscaras e medidas de higiene básica caso seja necessário lidar com os bichos da casa. 

Apesar dos achados da pesquisa, a Fiocruz afirma que a chance de infecção dos pets pelo Sars-Cov-2 é baixa. Também ainda não há estudos suficientes que expliquem a possibilidade dos cães e gatos transmitirem a doença, tanto para outros animais quanto para humanos. “Não há motivo para deixar de ter cães e gatos e abandoná-los em caso de estarem positivos para o novo coronavírus”, diz a fundação.

Os casos apresentados no artigo foram notificados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil que também notificou os casos na plataforma da The World Organization for Animal Health (OIE). A pesquisa foi publicada na revista científica internacional Plos One.

Isolamento é o mais indicado

Para o médico veterinário Daniel Couto, que atende animais em Fortaleza, mesmo que não haja consenso nas pesquisas sobre a infecção de animais de estimação, eles devem ficar isolados dos tutores que tiverem Covid-19. “Não necessariamente o animal vai adquirir a doença, o animal pode simplesmente levar a secreção de uma pessoa com Covid para outra pessoa”, explica.

“É a mesma coisa de você ter uma família saudável em casa e o pet sair na rua. Ele pode trazer nas patinhas e levar para dentro de casa”. Segundo ele, é necessário evitar locais úmidos durante os passeios do animal e sempre limpar as patas dos bichos quando eles chegarem em casa. 

Apesar da maior parte da transmissão do coronavírus ser feita pelo ar, de humano para humano, ainda é necessário ter cuidado com o contato com superfícies possivelmente infectadas e sempre lavar as mãos antes de tocar a boca, os olhos ou o nariz.

Tutora com Covid-19 se isolou junto da cachorra de estimação

Quando teve Covid-19 em dezembro de 2020, Giovanna Lyra Carneiro, de 23 anos, precisou ficar isolada no quarto, pois a irmã mais nova tem comorbidades e teria mais riscos de sintomas graves caso contraísse a doença. O isolamento, no entanto, não poderia acontecer sem a cachorra Pink. Muito apegado à dona, o animal ficaria ainda mais estressado sem acesso à Giovanna e ao quarto dela.

“Como ela é minha e é muito apegada a mim, ia ser muito difícil eu ficar no quarto e ela ficar fora, ela ia ficar chorando”. Para garantir a eficácia do isolamento, a cachorra também ficou sem contato com a outra moradora da casa e com os outros três cachorros que vivem lá. 

“A Pink se isolou comigo justamente por a gente pensar que ela poderia ser um vetor de transmissão, se ela ficasse saindo e voltando. Até porque as outras cachorras dormem na cama com minha irmã. Não tinha condições de ficar uma em contato comigo com Covid e circulando com as outras que ficavam com minha irmã, que não teve”, diz.

Ela conta que a decisão foi a melhor possível, já que também precisava da companhia no momento difícil de infecção pelo vírus. Apesar de Giovanna ter sintomas moderados, a mãe da jovem acabou precisando de internação devido a complicações causadas pela Covid-19. 

“É psicologicamente cansativo. A gente já estava vivendo um momento de isolamento social e eu me isolei totalmente no meu quarto, minha mãe hospitalizada. Foi meu suporte emocional”, relembra. Segundo ela, a cachorra não apresentou nenhum sintoma ou estresse pelo longo período trancada com ela no quarto.

Apesar da falta de informações sobre como os animais podem contribuir para o espalhamento do vírus, Giovanna mantinha cuidados redobrados com a limpeza das patinhas das cachorras toda vez que elas saíam para passear, antes mesmo de contrair o vírus. As visitas ao pet shop para banho e tosa também foram suspensas durante o período de isolamento.