Após o período de pico da segunda onda pandêmica no Ceará, em março, Fortaleza vem registrando retrações gradativas no número de solicitações de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em Fortaleza, por meio da Defensoria Pública do Estado (DPCE).
Em março, o Núcleo de Defesa da Saúde (Nudesa) da Defensoria contabilizou 107 pedidos de internação em leitos de UTI da Capital. Já entre 1º de junho até esta terça (22), as solicitações de assistidos vulneráveis socioeconomicamente chegavam a 32, o que representa uma queda de 70,09%. Ou de 75 pedidos a menos.
Se comparados os 32 pedidos de junho ante o mês imediatamente anterior, a retração é de 65%, aproximadamente. Em maio, o Nudesa somou 91 pedidos de leitos. Ante o total de solicitações de abril (98), a queda foi ligeiramente mais acentuada, chegando a 67,34%.
Embora junho ainda não tenha chegado ao fim, a supervisora do Nudesa, defensora pública Yamara Alves Lavor Viana, vem observando uma queda paulatina nas demandas por leitos no segundo trimestre de 2021. E tal tendência deve se manter até o encerramento deste mês.
“A gente já percebeu [a queda]. Ontem [segunda, 21], por exemplo, no período da manhã, tivemos apenas um pedido [de judicialização do tipo]. Hoje, pela manhã, não tivemos nenhum pedido. O que não é comum”.
Até às 14h de hoje, o IntegraSUS, plataforma gerida pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), registrava taxa de ocupação de 76,45% nas UTIs do Ceará. Em Fortaleza, a taxa é ligeiramente mais alta, de 76,51%.
Total de pedidos à Defensoria Pública por mês, em 2021:
- Março - 107
- Abril - 98
- Maio - 91
- Junho - 32 (até dia 22)
Demandas de vaga em leito de UTI e transferência hospitalar podem ser feitas à Defensoria por meio do telefone (85) 9 8433-0004. As ligações, bem como mensagens via WhatsApp são recebidas de 8h às 12h e de 13h às 17h.
Vacinação e conscientização da população atribuídas à queda
De acordo com a supervisora do Nudesa, nos últimos meses, as solicitações de leitos de UTI não ficaram mais restritas a pacientes com Covid-19. O que era o mais comum, até então. “Voltaram a chegar pedidos com pacientes de diagnósticos diversos”.
Ela atribui a queda da judicialização por leitos em Fortaleza ao avanço da vacinação da população contra o coronavírus. E também ao fato de que as pessoas estão mais conscientes quanto aos riscos e cuidados necessários para evitar a propagação da doença.
Para a defensora, hoje há mais “cumprimentos das medidas de segurança indicadas pela Vigilância Sanitária” como uso de máscara, de álcool em gel, e evitar aglomerações. “Acho que as pessoas estão se resguardando pra tomar essa vacinação, aguardar a segunda dose”.
Yamara também aponta que, desde o início da pandemia, o Ceará se destacou na criação de novos leitos. “Isso acaba suprindo bem essa demanda que ainda existe de Covid” na Capital cearense, diz. Com a disponibilidade de leitos, muitas das solicitações acabam sendo resolvidas de forma administrativa, por meio dos centros de regulação do Estado e dos municípios. Anulando, portanto, a necessidade de judicialização.
Cenário é positivo, mas terceira onda não é descartada
Médica infectologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mônica Façanha também considera a vacinação de grupos prioritários como um fator importante na queda de parte da busca por leitos de UTI Covid em Fortaleza. E aponta para o impacto positivo gerado pelas medidas mais restritivas durante mais de um mês de lockdown.
“A gente ficou numa fase mais restritiva de deslocamento, de acúmulo de pessoas durante um bom período. Isso diminuiu a transmissão [do vírus] e, consequentemente, diminuiu a proporção de pessoas que iam evoluir de forma mais grave”.
Ela avalia os números apresentados pelo Nudesa como um “sinal” de que o cenário pandêmico está melhorando em Fortaleza, com a diminuição de casos graves. Mas isso não significa que o cearense deve ‘baixar a guarda’ em relação aos cuidados para evitar contaminação pelo coronavírus.
“A vacina contribui, vai continuar contribuindo, mas nesse momento a gente precisa muito desse item de controle de barreira física, tanto pra não aglomerar, quanto para usar a máscara”, afirma, alertando que ainda há risco de uma terceira onda pandêmica no Ceará.
“Essa possibilidade ainda existe. Por isso, a gente não pode ficar achando que já passou o risco porque o nível de transmissão é ainda muito alto no País, como um todo. Não precisa ter um tsunami pras coisas voltarem a ficar ruins. Estamos melhorando, mas em relação a uma coisa que estava muito, muito ruim”. Por isso, frisa a infectologista, “vamos usar máscara e evitar aglomeração”.
Dados de vacinação e da Covid-19 no CE
Em Fortaleza, pelo menos 1.265.269 vacinas já foram aplicadas, sendo 926.108 primeiras doses (D1) e 339.161 segundas doses (D2). É o que aponta o Vacinômetro da Prefeitura de Fortaleza, atualizado pela última vez às 22h47 dessa segunda (21).
O Vacinômetro da Sesa, por sua vez, soma 3.757.881 doses aplicadas em todo o território cearense, sendo 2.668.537 D1 e 1.089.344 D2. Os dados foram atualizados às 17h da segunda (21).
Até às 18h de hoje, a plataforma IntegraSUS, da Sesa, registrava 869.161 casos confirmados de Covid-19 no Ceará, sendo 245.692 em Fortaleza. Em todo o Estado, 22.182 pessoas morreram em decorrência da doença. Na Capital, foram 9.063 óbitos.